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O corpo de Amanda Soares, a transexual de 23 anos morta na madrugada de quinta-feira (01), em São Gonçalo, foi enterrado neste sábado, no cemitério Parque da Paz, no Pacheco. A Polícia Civil informou que a Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNISG) está realizando perícias e ouvindo testemunhas. O caso de Mandy Gin Drag colocou o município no mapa de mortes de LGBTQIA +.
A youtuber e cantora sertaneja foi encontrada, no bairro Jardim Nova República, com perfurações causadas por golpes de faca. Ela era passista de Acadêmicos do Cubango e estava se preparando para entrar em estúdio e gravar suas músicas. Além disso, era defensora da ocupação dos LGBTQIAPN+ em todos os lugares e tinha orgulho em representar a comunidade na música sertaneja.
O Brasil teve 257 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ no ano de 2023, uma a mais que o registrado em 2022. O dado é de um levantamento feito pelo Grupo Gay Bahia (GGB), a mais antiga Organização Não Governamental (ONG) LGBT da América Latina. O número mantém o país no posto de mais homotransfóbico em todo o mundo.
E o terceiro estado com mais casos é o Rio de Janeiro, com 28 mortes, quase 11% do total, ficando atrás de São Paulo e Minas Gerais. A capital é a segunda mais violenta com 11 registros, à frente de São Paulo. O Sudeste teve 100 casos, o que representa quase 39% do total no Brasil, em 2023. A região ganha do Nordeste, que detém pouco mais de 36% (94). Roraima, Sergipe e Rio Grande do Norte emergem como as três unidades federativas do Brasil sem ocorrências registradas.
As conclusões são baseadas em informações coletadas na mídia, nos sites de pesquisa da Internet e correspondências enviadas ao GGB, uma vez que não existem estatísticas governamentais sobre esses crimes de ódio contra a população LGBT. O trabalho é realizado sem recursos governamentais, por voluntários.
O estudo admite, ainda, um índice de subnotificação, já que muitas vezes é omitida a orientação sexual ou identidade em tais publicações fúnebres. Dentro do que foi levantado, o GGB aponta que o Brasil registrou em 2023 o maior número de homicídios e suicídios da população LGBTQIA+ no planeta. Das 257 vítimas, 127 eram travestis e transgêneros, 118 eram gays, 9 lésbicas e 3 bissexuais. Em 44 anos de pesquisa, pela primeira vez, as travestis e transexuais ultrapassaram os gays no número de mortes violentas.
Foto: Reprodução (Instagram)
Lésbicas, etnia e profissões
O documento explica que as lésbicas estão na categoria sexual menos vitimizada, uma vez que, "em geral, as mulheres são menos violentas que os homens e se expõem menos do que os gays em espaços de risco". Além disso, "raramente elas têm relações com pessoas desconhecidas no primeiro encontro". Não há detalhamento de nenhuma lésbica e bissexual assassinados.
Sobre o recorte de etnia e cor das pessoas, 60% das vítimas não possuem indicação no levantamento. Dos que foram notificados, 14,39% são brancos, 10,5% são pardos, 10,89% são pretos e 66,2% não se identificaram com qualquer uma delas. Com relação à faixa etária, o estudo informa que 67% das vítimas tinham entre 19 e 45 anos. O mais jovem tinha apenas 13 anos.
Pelo menos 22 profissões diferentes foram identificadas entre as vítimas gays. Dentre elas, 11 professores, cinco empresários, três médicos, dois dentistas, dois pais de santo e um padre. Quanto às trans, sete ocupações foram registradas. Dezoito profissionais do sexo, três comerciantes, três cabeleireiras, duas enfermeiras e uma garçonete.
“Diante desse cenário alarmante, o Grupo Gay da Bahia (GGB) e Aliança Nacional LGBT fazem um apelo para a implementação do 'Formulário de Registro de Ocorrência Geral de Emergência e Risco Iminente à Comunidade LGBTQIA +' nas unidades policiais do país. Conhecido como 'Rogéria' e lançado pelo Conselho Nacional de Justiça em agosto de 2022, ele visa monitorar de maneira mais eficaz os casos de homotransfobia letal”, destaca o estudo do Grupo Gay Bahia.
De acordo com o documento, tal medida fornecerá subsídios essenciais para a formulação de políticas públicas voltadas à proteção da vida dos mais de 20 milhões de brasileiros LGBTQIA+ (10% da população).