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Rodoviários em estado de greve vão se reunir com prefeito de SG
Categoria reivindica reajuste salarial, cesta básica e sistema de pagamento inteligente nos ônibus, mas empresários alegam inviabilidade financeira
Rodoviários em estado de greve vão se reunir com prefeito de SG
Foto do autor Mauro Touguinhó Mauro Touguinhó
Por: Mauro Touguinhó Data da Publicação: 25 de setembro de 2025FacebookTwitterInstagram
Rodoviários se reuniram novamente à tarde, durante assembleia em Niterói - Foto Divulgação
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Com Pedro Menezes e Breendo Santos

Representantes do Sindicato dos Rodoviários de Niterói a Arraial do Cabo (Sintronac) se encontrarão nesta sexta-feira (26), às 16h, com o prefeito de São Gonçalo, Capitão Nelson. O objetivo é buscar soluções para o estado de greve decretado pela categoria e para a crise dos ônibus no município, já que os empresários se recusam a negociar a campanha salarial deste ano. A audiência ocorrerá no gabinete do prefeito, a pedido do sindicato.

Mais cedo, os rodoviários de São Gonçalo aprovaram mais uma vez, em assembleia realizada no bairro Sapê, em Niterói, o estado de greve que atinge as linhas de ônibus municipais da cidade. A decisão, unânime, faz parte de uma série de votações conduzidas pelo Sintronac e reflete o impasse entre trabalhadores e empresários do setor, representados pelo Setrerj, sobre reajustes salariais e condições de trabalho. O Jornal A Tribuna acompanhou a assembleia.

As propostas aprovadas pelos rodoviários incluem: reajuste salarial de 10% mais 5% de perdas acumuladas, aumento da cesta básica para R$ 600 com desconto de 10%, manutenção das cláusulas da convenção vigente até a renovação, contribuição assistencial e sindical, além do fim da circulação de dinheiro em espécie nos veículos, com a implantação de sistemas de pagamento via Pix, cartão ou bilhete único.

Caso as empresas de São Gonçalo se recusem a negociar, os rodoviários do município não terão os benefícios do acordo coletivo, que abrange Niterói, Itaboraí, Maricá e Tanguá. 

“Por isso a categoria está determinada a entrar em greve. Não vamos permitir pisos diferentes para trabalhadores na mesma função. Isso é ilegal e imoral. Já demos nossa cota de sacrifício na pandemia e não vamos ceder mais. A categoria é a mesma, a profissão é a mesma e o exercício dela é o mesmo. Não podemos ter dois salários em uma mesma região”, afirma Rubens dos Santos Oliveira, presidente do Sintronac.

 

Categoria se reuniu para aprovar o estado de greve que atinge as linhas municipais - Foto: Pedro Menezes / A Tribuna

 

Rubens dos Santos destacou que as assembleias vêm ratificando o que chamou de “unidade da categoria”. “Só nos resta mandar o ofício para o Setrerj, solicitando a máxima urgência nessas reuniões, antecipando a data-base, que começa em 1º de novembro”,  afirmou Rubens.

"Eu fui chamado pelo senhor Domenico, dono do grupo Rio Ita e Mauá, e ele me informou que não seria possível conceder reajuste neste ano porque há dez anos o município não cumpre o contrato de concessão e não dá reajuste tarifário. Disse que chegou ao limite, que precisa renovar a frota e não tem mais de onde tirar recursos. Eu respondi que a nossa base territorial jamais terá dois pisos salariais diferentes. A categoria é a mesma, o trabalho é o mesmo, o salário tem que ser o mesmo. Ainda que não seja o que merecemos", complementou.

O sindicalista relembrou os sacrifícios feitos pelos trabalhadores durante a pandemia, afirmando que os rodoviários "tiravam da própria boca para dar ao patrão". Ele lembrou também da redução drástica da frota: "As empresas de São Gonçalo tinham 647 ônibus na frota, hoje operam com 322. Reduziram à metade para suportar o custo. E com isso demitiram os rodoviários".

 

Quando a greve começaria?

De acordo com o Sintronac, a paralisação só teria início caso o Setrerj receba o ofício com as reivindicações, devolva a resposta ao sindicato e não haja acordo nas negociações. A data-base da categoria - período oficial para discutir reajustes e condições de trabalho - começa em 1º de novembro e se estende até o fim do mês. No entanto, o sindicato pressiona para antecipar esse calendário.

O estado de greve, aprovado nas assembleias, é uma etapa obrigatória: serve para avisar aos empresários e à sociedade civil que a paralisação pode começar a qualquer momento. Sem essa formalidade, a Justiça poderia decretar a greve ilegal.

 

Empresas alegam inviabilidade financeira - Foto: Setrerj

 

Empresas alegam inviabilidade financeira

Do lado empresarial, o discurso é de inviabilidade. O Setrerj acionou a Justiça e, no início de setembro, conseguiu decisão favorável do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) para o reajuste das tarifas. A medida determinou que a passagem, congelada há oito anos em R$ 3,95, suba para R$ 5,94 em até 30 dias, representando um acréscimo de 50,38%.

Na ação, o sindicato das empresas argumentou que a defasagem tarifária e a falta de repasses da Prefeitura de São Gonçalo referentes às gratuidades concedidas a estudantes, idosos e pessoas com deficiência inviabilizam investimentos e reajustes aos trabalhadores. Procurada em ocasiões anteriores, a Viação Mauá chegou a afirmar que “a falta de reajuste e de repasses das gratuidades dificultam as renovações das frotas”.

A Prefeitura de São Gonçalo, por sua vez, informou que acionou a Procuradoria Geral para recorrer da decisão e tentar reduzir o impacto do aumento nas tarifas.

Além disso, a prefeitura marcou uma reunião com representantes da categoria nesta sexta-feira (26), no gabinete do prefeito, para discutir o impasse. Vale lembrar que a decisão judicial que determinou o reajuste das tarifas prevê multa de R$ 50 mil por dia em caso de descumprimento, valor que não recai sobre os cofres do município, mas diretamente sobre o CPF do prefeito, como determinou a juíza da 8ª Vara Cível.

 

Impacto no dia a dia da população

Enquanto isso, a população sente no bolso e no cotidiano o reflexo da crise no transporte. Passageiros relatam esperas longas nos pontos e precariedade da frota.

Cláudio Paz, de 48 anos, morador da Praia da Luz, afirma que, embora a linha 31 (Praia da Luz x Barreto) tenha recebido ônibus com ar-condicionado, a frequência é muito baixa.

"Eu ando em ônibus de ar-condicionado, o que ninguém imaginava que um dia poderia acontecer, mas a demora é o que mata. Antigamente passava toda hora com a Tanguá, mas a Estrela colocou um ônibus para o dia inteiro. A gente demora uma hora ou mais no ponto" disse.

 

População sente no bolso e no cotidiano o reflexo da crise no transporte - Foto: Thiago Sione

 

Já Marli Alves, de 59 anos, moradora de Ipiíba, critica as condições da linha 08 (Engenho do Roçado x Alcântara). "No verão é insuportável por conta do calor. Quando chove, o ônibus não passa na rua por causa da lama. Quem mora naquela região sofre de qualquer jeito. Infelizmente, não tem pra onde correr", afirmou.

O Jornal A Tribuna tenta contato com o Setrerj para ouvir a posição dos empresários diante da mobilização dos rodoviários e do impacto que a decisão judicial sobre o reajuste tarifário terá nas negociações trabalhistas.

 

Fake news em Maricá

Circula em Maricá e nas redes sociais um panfleto de autoria desconhecida que alerta sobre uma paralisação de rodoviários dos ônibus “vermelhinhos” em 12 de outubro. 

De acordo com o Representantes do Sindicato dos Rodoviários de Niterói a Arraial do Cabo (Sintronac), a informação é falsa, assim como o motivo alegado: violência nos coletivos. Não houve assembleia nesse sentido e os trabalhadores não se mobilizarão por causas externas à campanha salarial.

Como haverá licitação para linhas municipais no próximo mês e eleições no ano que vem, é possível que a divulgação mentirosa tenha interesse econômico ou político, visando desestabilizar o transporte público gratuito e causar pânico à população.”, porém descobri que dois repórteres já haviam feito uma matéria sobre a primeira assembleia do dia, dando detalhes importantes, principalmente aspas de envolvidos no caso.

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