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Assassino de porteiro do MV1 confessou crime e alegou que estava drogado
Acusado e envolvidos no caso prestaram depoimento na quinta-feira (13), na 2ª Vara Criminal de Niterói
Assassino de porteiro do MV1 confessou crime e alegou que estava drogado
Foto do autor Mauro Touguinhó Mauro Touguinhó
Por: Mauro Touguinhó Data da Publicação: 14 de fevereiro de 2025FacebookTwitterInstagram
Rennan de Oliveira é acusado de matar Sebastião Lair Hipólito - Fotos: OSP e Reprodução

Trezentos e cinquenta e seis dias após matar a facadas um porteiro do colégio MV1 de Icaraí, o acusado começou a ser julgado. A 2ª Vara Criminal de Niterói realizou, na quinta-feira (13), a primeira audiência de instrução com Rennan de Oliveira da Silva Santos.

A sessão aconteceu no Fórum Desembargador Enéas Marzano, no Centro da cidade. Devido ao atraso, a reportagem do jornal A Tribuna teve a oportunidade de ouvir alguns dos envolvidos antes deles serem chamados para depor. Eles não terão os nomes revelados.

Muitos chegaram sem saber qual era o caso. Estavam presentes quatro agentes que atenderam as ocorrências, a funcionária e a ciclista roubadas, a promotora do Ministério Público e a advogada de Rennan. A audiência foi conduzida pela juíza Fernanda Magalhães Freitas Patuzzo.

Rennan foi reconhecido pelas vítimas, apesar de algumas mudanças físicas, e não acompanhou os depoimentos delas. Em seguida todos foram chamados, um por um, para contar a sua versão. O único que presenciou o crime foi o próprio Rennan.

 

Familiares de Rennan e Sebastião não foram à sessão - Foto: Reprodução

 

Cozinheira

A primeira a depor foi a cozinheira da escola. Ela lembrou que estava chegando à unidade infantil do MV1 na rua Gavião peixoto, a pé, e foi abordada pelo acusado quando se aproximou da portaria. "Tem alguém agonizando lá dentro. Passa a bolsa!", disse ele, segundo ela.

A princípio, ela não acreditou, mas foi correndo em direção à cozinha. No meio do caminho, encontrou outra cozinheira e uma faxineira, que ainda não sabiam do crime. Elas foram até outra unidade da instituição de ensino e pediram ajuda.

Quando voltaram, encontraram Sebastião Lair Hipólito Ferreira caído no chão. A vítima destacou que estava muito nervosa e não sabia dizer se Rennan estava drogado, estratégia usada pela defesa para tentar livrá-lo da prisão ou amenizar a pena.

 

Ciclista

A segunda a depor foi a ciclista roubada durante a fuga de Rennan. Ela contou que estava circulando pelo bairro, próximo à Droga Raia da avenida Roberto Silveira, quando parou para olhar o celular e ler a mensagem de uma amiga que estava indo encontrar. 

"Eu ouvi uma voz e não prestei atenção. Ele estava colado comigo e pediu para eu entregar a bike. Quando resolvi olhar, ele estava com uma cara de ameaça", lembrou ela, que, devido ao medo de ser jogada no chão, não reparou se o ladrão estava armado.

A vítima disse que gritou por ajuda durante a fuga de Rennan. Segundo ela, a polícia chegou rápido e o prendeu na avenida Sete de Setembro. A vítima contou ainda que ficou sabendo do ocorrido na escola quando chegou à delegacia.

Ela ressaltou que ele falou calmo e não reparou se estava drogado, apesar do olhar estranho. "Não conseguir avaliar melhor", disse.

 

Fachada da área infantil da escola MV1 - Foto: Pedro Menezes

 

Agentes da Segurança Presente

Em seguida, quem falou foram os PMs que atenderam à ocorrência pela Operação Segurança Presente (OSP) de Niterói. O primeiro afirmou que estava em patrulhamento quando viu Rennan na bicicleta. 

Ao saber do roubo, atirou no pneu. O criminoso chegou a cair, levantar e correr, mas acabou sendo abordado e preso por ele. 

O agente contou ainda que encontrou na delegacia um contracheque do MV1 dentro da bolsa roubada e solicitou apoio do 12º BPM (Niterói), que constatou o crime no colégio.

Parceiro dele, o outro agente contou que estava saindo da base quando parou no sinal da avenida Sete de Setembro e viu um homem pedalando. Em seguida, um motoboy gritou que o ciclista era ladrão. Segundo ele, Rennan "se recusou a parar".  

O policial disse também que estava de moto e ouviu o disparo feito contra o ladrão. Na bolsa que estava com o criminoso, ele encontrou também dois celulares e um relógio.

 

Policiais do 12º BPM

Acionado pelos bombeiros e pela OSP durante a ocorrência, dois policiais militares também prestaram depoimento. O primeiro, uma mulher, disse que foi ao MV1 e que "a funcionária roubada não havia levado muita fé de que alguém estava agonizando dentro da escola", até encontrá-lo em uma "sala de aula desorganizada".

Segundo ela, Rennan "roubou o celular e o relógio de Sebastião". Na delegacia, a PM soube que haviam recuperado a bolsa da cozinheira, onde viu apenas um celular.

O outro PM relatou que foi acionado pelos bombeiros e "não sabia da morte do porteiro". Ele disse ter ouvido que a bolsa da funcionária foi roubada.

Quando chegou na sala de aula, "viu cadeiras e mesas jogadas", enquanto "Sebastião estava caído no chão". A vítima, segundo ele, levou duas facadas na lateral do abdômen.

 

Corpo de Sebastião sendo retirado pelo Corpo de Bombeiros - Foto: Pedro Menezes

 

Rennan

Cabisbaixo o tempo todo, Rennan de Oliveira da Silva Santos foi o último e prestar depoimento. Ele contou ter 22 anos, ser solteiro e pai de filhos não registrados.

Morador da rua ititioca, no bairro do mesmo nome, que fica na região de Pendotiba, ele cursou até a 7ª série do ensino fundamental, não trabalha e já havia sido preso por roubo. Chegou a ser condenado, mas acabou sendo liberado.

De cara, confessou o crime e afirmou que "estava drogado". Disse que entrou no MV1 para roubar, que levou uma mesadas e cadeiradas do porteiro e o esfaqueou na perna. Quando a vítima estava caída, ele pegou o relógio e o telefone dela.

Rennan lembrou ainda que pediu água para Sebastião Lair, mas ele negou e o tratou mal. Durante a fuga, ordenou que a cozinheira passasse a bolsa.

No meio da sessão, o acusado ressaltou que não tinha a intenção de assaltar o porteiro e que estava com sede, drogado, virado e assustado. A intenção dele com o assalto era "comprar mais droga". Após o crime, ele correu, ordenou que a ciclista entregasse a bicicleta e foi embora, até ser detido.

 

Detido, Rennan foi levado para a delegacia - Foto: OSP 

 

Problemas psiquiátricos

Um dos agentes envolvidos no caso contou à reportagem do jornal A Tribuna que a mãe de Rennan esteve na delegacia um dia antes do crime para denunciar que o filho havia fugido de um hospital psiquiátrico em Jurujuba. Essa teria sido a terceira vez que ele escapou de unidades psiquiátricas.

Ainda segundo um dos PMs, Rennan afirmou na delegacia que nada aconteceria com ele e que ele seria solto, pois tem problema psiquiátrico.

 

Sentença

Após a audiência de instrução, o próximo passo é aguardar a sentença da juíza Fernanda Magalhães Freitas Patuzzo, que terá um prazo de 10 dias. Ainda pode ser requisitada a apresentação de alegações finais de forma oral. Passada esta fase, será a vez do veredito.

Sebastião Lair Hipólito Ferreira foi morto no dia 23 de fevereiro. Ele foi abordado por Rennan na porta do MV1 e reagiu, entrando em luta corporal com ele dentro de uma sala de aula.

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