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Professor e marceneiro, Diego de Assis atua há 15 anos, lecionando a técnica milenar da madeira, em Niterói
Um artista prático. Pode-se definir, assim, o trabalho do marceneiro que, a partir de um bom desenho, é capaz de fazer coisas úteis para o lar, sem perder a ternura jamais - com um toque de leveza estética -, ao encantar o usuário de um banco, uma mesa, uma estante ou um armário.
Atuando há 15 anos em São Domingos, Niterói, a escola particular de marcenaria Coisas de Madeira, do marceneiro Diego de Assis, é a única em atuação na cidade, transmitindo aquelas e outras formas de se trabalhar, na técnica milenar em madeira.
A marcenaria está muito ligada ao artesanato, que não diminui essa ideia, em termos de arte. Isso depende muito da desenvoltura de cada pessoa. Mas, de fato, a construção de móveis e objetos de utilidade é um ofício cuja estética se ergue na construção de um objeto, ilustrou Diego.
Para o professor, um trabalho mais manual é importante para o estudante obter uma desenvoltura maior. Isso porque o objeto eletrônico, ao mesmo tempo em que facilita, pode mascarar os detalhes. Ele ressalta a importância do desenvolvimento manual para que o aluno amplie a percepção e a habilidade sobre o que está fazendo. Diego compara a atuação do marceneiro à do fotógrafo:
Você acha que um fotógrafo, que tem um número limitado de chapas para gastar um filme, terá uma criatividade maior, pensando mais sobre a foto, ou uma pessoa com o celular, que pode disparar milhares de fotos? É um processo similar. Você desenhar um quadrado, usando um mouse de computador, é diferente de se construir um quadrado, utilizando instrumentos de desenho. A importância disso é do ponto de vista didático. Aqui, praticamos de tudo. É marcenaria prática e impraticável um termo que pouca gente conhece -, apenas com ferramentas manuais.
O começo
Diego de Assis foi influenciado pelo pai, que tinha uma oficina de joias em casa, e o tio, que fazia molduras para a mãe, uma artista plástica. Mais à frente, ele fez cursos, como o de luteria construção de instrumentos musicais.
Formado em Desenho Industrial pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Assis começou a dar aulas de marcenaria como instrutor do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), na refinaria de Manguinhos, no Rio. Ali, atuou durante cinco anos. Extinto o projeto e morando em Niterói resolveu continuar, dando aulas particulares.
Surpreendentemente, a coisa deu certo e despertou bastante interesse na época. Tenho mantido essa escola, durante todo esse tempo. É a minha função principal, disse o profissional, que é dedicado apenas ao ensino, trabalhando de segunda a sexta, sem tempo de fazer móveis sob encomenda.
Atualmente, nos seus cursos livres, Diego conta com 15 alunos adultos; mas a capacidade da oficina é de oferecer aulas para até 30. Em cada horário, ele atende, no máximo, a três estudantes.
De acordo com o marceneiro, a pessoa que faz o curso com ele já sai preparada para atuar no mercado de trabalho:
Isso depende da intenção do aluno. Como é um curso livre, alguns vêm aprender marcenaria para montar a sua própria oficina, sem compromisso profissional. Há também os que têm a intenção de montar uma oficina profissional, a fim de entrar no mercado de trabalho.
Valores
Diego de Assis recomenda um tempo mínimo de seis meses ao estudante interessado em aprender marcenaria, desenvolvendo entre dois e três projetos. A maioria das pessoas permanece entre um e dois anos aqui, quando ela já sai formada para montar uma oficina, destacou, ilustrando o fato de um grupo de alunos terrem montado uma oficina próxima à casa dele, na rodoviária de Niterói.
O curso mensal da escola Coisas de Madeira é de R$ 780, numa aula semanal de duas horas e meia:
O aluno precisa também investir numa montagem paralela da própria oficina. Não é um curso de treinamento, onde estou todos os dias com a pessoa, repetindo exercícios. Os alunos precisam repeti-los em casa.
Materiais
Para começar a atuar, o estudante precisa de uma bancada de marceneiro, que é a ferramenta principal; além das ferramentas manuais que utiliza, no início do curso como a plaina, o formão e a serra de costa. Posteriormente, vai adquirindo o equipamento elétrico: uma serra circular, para se ter um desenvolvimento mais rápido do trabalho. Em relação à segurança, Diego alerta:
Para se atuar com a serra, é necessário se atentar à segurança, em primeiro lugar. Evitar as mãos próximas à lâmina; usar empurradores; evitar uso de luvas, que podem puxar as mãos e engatar na serra. Uso de óculos de segurança, sempre; abafador de ouvido, porque a pessoa fica exposta a ruído; e atenção total sobre o que está fazendo.
Renda
Segundo Diego, todo começo é modesto; mas um bom marceneiro, com cinco anos de estrada, hoje em dia, com trabalho, pode ganhar entre R$ 15 mil e R$ 20 mil mensais, num mercado de trabalho de poucos profissionais já que a competição é com a indústria, que diminui muito o valor de um móvel. A renda de um marceneiro é boa, mas o material de marcenaria é caro e é difícil encontrar bons artesãos, que façam um bom trabalho. Atuando para uma empresa, com carteira de trabalho assinada, o marceneiro ganha muito menos que isso, comparou.