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Imagine entrar no seu local de trabalho, onde você construiu uma loja há cinco anos, dentro de um edifício comercial e encontrar o local completamente saqueado, revirado e com janelas arrombadas. Foi a cena que viveu a comerciante de roupas Flávia Loureiro.
Na madrugada da última segunda-feira, pessoas em situação de rua invadiram o edifício Metrópole, n° 71, na Avenida Ernani do Amaral Peixoto, em pleno coração de Niterói.
Segundo João Antunes, síndico do prédio, os criminosos entraram pelo imóvel ao lado, onde ficava o antigo Banco Real - que hoje está fechado - e foram para o segundo andar. Lá eles passaram para a área de ar condicionado onde ficam os compressores e tiveram acesso à três salas do edifício, onde realizaram furtos que somam dezenas de milhares de reais em prejuízo.
Entraram pelo buraco do ar condicionado
A proprietária de uma das lojas saqueadas, Flávia Loureiro, nos contou que apenas em sua loja foram R$ 10 mil em perdas. No local funciona uma loja de roupas.
- Eles subiram pelo antigo banco, e para acessar a nossa loja entraram por uma janela que estava trancada. Tiveram que serrar, com algum tipo de ferramenta. A janela ficou toda quebrada. Entraram aqui e fizeram a limpa em todas as prateleiras. Foram cerca de R$ 10 mil em prejuízo", disse a comerciante, destacando ser a primeira vez que algo do tipo ocorreu.
‘ Os criminosos estão saindo das ruas e invadindo prédios’
Ela também chama atenção ao fato da criminalidade estar saindo das ruas e entrando até dentro dos edifícios comerciais, que, em teoria, são bem mais difíceis de serem invadidos.
Em vídeo gravado na primeira manhã após o furto, a loja de Flávia aparece completamente revirada, com o chão completamente sujo de marcas de sapato e até um maço de cigarro esquecido no local.
A proprietária contou que já realizou o boletim de ocorrência na 76ª DP, e a perícia já foi realizada.
Além da boutique de roupas, um escritório de advocacia e um atelier de costuram foram saqueados. No escritório de advocacia foram levados dois notebooks e uma televisão.
João Antunes, acredita que essa situação tenha chegado num ponto insustentável.
‘Eles são violentos, agridem as pessoas. Derrubaram uma menina e levaram a bicicleta’
"É só ver a Praça da República, a quantidade de moradores de rua lá. Aquilo não pode. Aquilo oferece risco. Porque eles são violentos. Tem um que está por aí agredindo as pessoas. Uma menina na ciclovia foi empurrada, caiu, bateu a cabeça, roubaram a bicicleta. Isso não pode continuar. Alguma coisa tem que ser feita", disse o síndico, que acredita que uma maior oferta de empregos poderia ser uma solução para melhorar esse panorama.
"Não quero que passe um caminhão recolhendo eles e despeje em qualquer lugar. Mas alguma providência tem que ser tomada em relação aos moradores de rua. Eles não estão aqui porque querem. Tem que ter algum local para eles, para tirá-los dessa condição", disse.
‘Associação nunca sai do papel’
Há rumores que síndicos de prédios da Amaral Peixoto estariam criando uma associação para cobrar soluções dessa situação. Sobre isso, Antunes afirma que é uma demanda antiga, mas que nunca sai do papel.
Vale lembrar, que no último dia 21 de agosto, o STF garantiu a proibição de remoção de pessoas em situação de rua.
A decisão também vedou o recolhimento forçado de bens e pertences desse público, bem como o emprego de técnicas de arquitetura hostil, com o objetivo de impedir a permanência dessas pessoas, por exemplo, com a instalação de barras em bancos de praças, pedras pontiagudas e espetos em espaços públicos livres, como em viadutos, pontes e marquises de prédios.
Em entrevista ao jornal A TRIBUNA em julho, o Secretário de Assistência Social e Economia Solidaria de Niteroi , Elton Teixeira, informou que a cidade tem 850 pessoas que vivem em situação de rua, segundo o CadÚnico. Além disso, foi revelado que 65% dessas pessoas sequer são de Niterói.
“Cerca de 65% dos atendimentos que foram feitos em 2022 no Centro Pop, são de pessoas de fora de Niterói. Essas pessoas são da Zona Oeste do Rio, da Baixada Fluminense e de São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. É um número muito grande. O Centro Pop é um centro de referência para a população em situação de rua, ele é um espaço que oferta uma série de serviços para esses usuários”, disse o Secretário na época.