Assinante
Amanhã começa o Tríduo Pascal. Quando todos falarem de ovo, eu quero falar de voo. Nesses três dias, a Igreja estará reunida no pensamento de santificar a dor. Serão dias santos porque a dor é santa. Tanto a dor da perda quanto a do parto vêm envolvidas num papel de seda que nenhuma papelaria já vendeu, porque não tem.
Nesse maravilhoso papel, aparecerão sempre pequenos borrifos de sangue: mesmo discretos, eles nos avisam que o nascimento e a morte nos chegam com o carimbo com a dor. Não há como escapar, a não ser pelo amor, que é quando não fugimos da dor, mas a aninhamos, com a intenção de saber a que ela veio.
A dor dispensa a apologia. Ela não precisa, sempre sabe a hora de chegar e a de partir. Sempre vem e vai contando uma história. A dor é uma contadora de histórias: é esse o seu jeito de nos dizer que se importa conosco.
A partir desta Quinta-feira Santa contaremos a maior de todas as histórias. Essa História que o mundo se prepara para reviver traz consigo o referencial Divino, onde nada acontece ao acaso. O mesmo Deus que disse: “Faça-se a luz”, agora dirá “Eu fiz a Luz! Entendam e amem essa Luz”. Na Criação, Ele ordena. No Calvário, Ele pede. Quem deu olhos à luz, agora pede que ela feche os olhos. Por pouco tempo. Sim. Por pouco tempo!
O Deus das expectativas é o mesmo que não se faz esperar.
Esses três dias passarão como o bater das asas da andorinha.
E se não aguentamos pensar na dor, quem sabe, podemos pensar no voo.
Se o Moço de Nazaré subiu, ao monte e à cruz, foi para voar. Foi dali que Ele enxergou que nada seria em vão.
Chegou a nossa hora de subir e nos lançar ao mesmo voo que o Dele. E se isso for pequeno, o que, então, será grande?
Feliz Páscoa! Que seu voo seja grande e alto. Seja o mesmo que foi o Dele.
Dom José Francisco Rezende é arcebispo da Arquidiocese de Niterói.
Foi ordenado sacerdote no dia 10 de novembro de 1979. Especializou-se em teologia espiritual pelo Pontifício Instituto Teresianum, de Roma (1987-1989). Em 2011, o Papa Bento XVI o nomeou arcebispo da Arquidiocese de Niterói. Dom José recebeu o pálio das mãos do próprio Papa.