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Prestes a completar 30 anos, o Terminal Rodoviário João Goulart, localizado no Centro de Niterói, enfrenta sérios problemas de infraestrutura.
Inaugurado em 1995, o espaço desde então, não passa por obras de revitalização.
Projetado para receber, em seu ápice, 350 mil passageiros por dia, atualmente recebe mais de meio milhão, sendo o maior modal desse tipo na América Latina.
No entanto, a estrutura não acompanhou o crescimento de fluxo, que conta com 19 empresas do setor e mais de mil viagens municipais e intermunicipais diariamente.
Na última quinta-feira (11), A TRIBUNA mostrou o drama de passageiros que aguardavam o transporte público na volta para casa.
A fila de espera era tão grande, que chegou a ultrapassar a entrada das plataformas destinadas aos ônibus.
Boa parte dos usuários que saíram de Niterói com destino a São Gonçalo e Itaboraí levaram mais de duas horas para chegar em casa, como é o caso da Cristina Souza.
Ela conta que saiu do trabalho às 18h e só conseguiu chegar em casa às 21h.
“Foi horrível, levei três horas para chegar em casa e tudo isso juntando a fila quilométrica na baia, o ônibus recolher todos os passageiros e o trânsito infernal que estava na BR-101. Falta de respeito total com o trabalhador”, contou.
Os problemas relatados pela Cristina não são novidade. Quem precisa utilizar o terminal entre às 17h e 20h, se depara com o aumento do fluxo de passageiros e a falta de investimento em outros modais de transporte público.
O presidente do Sindicato dos Rodoviários de Niterói a Arraial do Cabo (Sintronac), Rubens dos Santos Oliveira, afirmou que o terminal de Niterói está obsoleto e perigoso.
"O número de pessoas circulando por ele é muito alto, passa de meio milhão por dia, assim como a quantidade de ônibus, mais de 1,6 mil, supera em muito o projeto original que era o de abrigar 600 coletivos.
"Ali temos linhas para municípios da Baixada Fluminense, Leste Fluminense, Região dos Lagos e para a capital. E ainda há as municipais.
"Se há projetos de revitalização do Centro de Niterói e de transformar o município em uma cidade sustentável, com o incremento do transporte público, o terminal tem que estar inserido neles. Sabemos que linhas de vans estão abastecendo o João Goulart com passageiros, que acessam suas dependências correndo no meio dos ônibus pela Rua Um e pelos fundos, o que tem agravado o número de acidentes. Há ainda as pessoas que cruzam pelas baias dos ônibus e não pelos corredores internos, o que aumenta ainda mais a possibilidade de desastres.
"E ainda os que atravessam a Visconde do Rio Branco sem seguir as orientações básicas de segurança para pedestres. Para os rodoviários, esse mafuá representa um risco cotidiano.
"Em primeiro lugar, há a realidade dos acidentes fatais. Embora normalmente não seja culpa dos motoristas, o trauma gerado por uma morte é insuperável.
"Em segundo, quanto mais tumulto, mais atraso nas operações dos ônibus.
"De quebra, há pelo menos dois grandes projetos residenciais, que serão erguidos exatamente ao lado do terminal, aumentando a circulação de veículos de passeio no local e também o fluxo de passageiros para os ônibus.
"O poder público precisa urgentemente pensar em um novo terminal, ou ampliar o já existente criando todas as condições para segurança e circulação dos ônibus e dos passageiros, ou construindo um novo em outro local.", comentou.
Em nota, o Sindicato das Empresas dos Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Setrerj) afirmou que que cabe ao poder concedente, seja municipal ou estadual, o planejamento do sistema de transporte público, com a definição do número de linhas, quantidade de ônibus em operação e os horários de saída dos coletivos.
As autoridades de transporte também têm a responsabilidade de promover as condições necessárias para o cumprimento do plano operacional, a fim de atender às expectativas dos passageiros, mantendo um sistema de transporte equilibrado do ponto de vista econômico-financeiro.
As empresas, no entanto, apesar dos esforços para manter um transporte de qualidade, vêm enfrentando um cenário desfavorável que combina tarifas defasadas, aumento dos custos operacionais, concorrência desleal do transporte clandestino e por aplicativos e perdas acumuladas pela pandemia de Covid-19.
Já a administração do Terminal Rodoviário João Goulart informou que o problema das filas é consequência da diminuição das frotas de ônibus, que vem se verificando desde a pandemia.
Em nota, a TERONI não tem como interferir nas decisões adotadas pelas Empresas de Viação, ainda mais que todas alegam problemas econômicos.
Temos sempre contado com a colaboração do SETRERJ (Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro) no sentido de minorar os problemas que as deficiências no transporte provocam à população, mas estas dependem naturalmente do equilíbrio econômico financeiro das viações.
Em relação a ampliação dos ônibus, a TERONI disse que as ampliações demandam estudos muito apurados, ainda mais se considerarmos que o fluxo de acessos de usuários ao Terminal diminui em cerca de 30%, o número de ônibus intermunicipais passou de 1.600 para 720, os municipais de 550 para 350 depois da pandemia.
A Prefeitura de Niterói, por meio da Superintendência de Terminais e Estacionamentos de Niterói (SUTEN), disse que tem trabalhado e dialogado com a concessionária que administra o Terminal João Goulart e com as empresas de ônibus sobre um reordenamento dos pontos de parada nas plataformas, para o bem-estar dos usuários.
A Prefeitura ressaltou ainda que tem projeto para a construção de um novo terminal rodoviário no bairro do Caramujo. O município identificou a saturação do Terminal João Goulart e, com base nisso, elaborou o projeto para o novo terminal no Caramujo, que vai ajudar a desafogar o Terminal João Goulart. A previsão é que as obras do novo terminal comecem no primeiro semestre deste ano.