Teatro de Niterói, Maricá e São Gonçalo está abandonado, afirmam artistas
Principais queixas se referem ao pouco apoio dado às pequenas produções
Teatro de Niterói, Maricá e São Gonçalo está abandonado, afirmam artistas
Foto do autor Saulo Andrade Saulo Andrade
Por: Saulo Andrade Data da Publicação: 04 de Novembro de 2023FacebookTwitterInstagram
Fotos: Divulgação

Artistas independentes do teatro, que atuam em Niterói, Maricá e São Gonçalo, vêm se queixando da falta de apoio dos governos, para que possam trabalhar com plenitude, nas respectivas cidades do Leste Fluminense.

Em Niterói, o diretor e roteirista Marcos Campello atua no segmento teatral, voltado à população LGBT+. Ele afirma que a cena do município - que conta com salas como a Nelson Pereira dos Santos, o Teatro Municipal e o Teatro Popular Oscar Niemeyer - “é boa, mas ainda muito precária”, e “praticamente não existe”; pelo menos para o grupo em que ele atua.

Campello milita no segmento da Educação, na formação humanística de Medicina e Enfermagem, e se queixa da falta de apoio institucional. Com aqueles profissionais, o grupo realiza uma simulação realística, para prepará-los no atendimento a pessoas trans. Isso porque, segundo o diretor, há, neste segmento da população, pessoas que se afastam da saúde e não se tratam, por não terem seus gêneros respeitados, nem reconhecidos.

“A gente se apresenta em teatros, em escolas e faculdades. Vamos a centros de referência e dentro das salas de aula. Os textos são bem simples de serem apresentados. Não trabalhamos com muita alegoria, mas sim com o corpo do ator”, explica.

Ele enumera que, dentre as dificuldades, uma das maiores é o da manutenção. O coletivo a que Campelo pertence não conta apoio financeiro. Os atores pagam as próprias passagens para irem ensaiar.

“Pagamos nossos próprios lanches, também. O ideal seria que as pessoas recebessem para fazer os ensaios. Que fosse um emprego, algo que garantisse o sustento. Seria muito importante que nós tivéssemos um apoio mensal para a manutenção do coletivo, que inclua também dinheiro para comprarmos figurinos, maquiagem e cenários”, sublinha.

Outra produtora, Ana Lobianco trabalha com produção teatral há 22 anos. Ela afirma que, em Niterói, a situação cultural “está complicada”, porque o setor do teatro está “desprestigiado”, em comparação à cena musical, “que está em voga, neste momento”.

“Os artistas da cidade, de origem, como eu e muitos outros, estão sem espaço, junto ao poder público, que não está apoiando o teatro, nem com verba, nem com ações de apresentações, como havia antes, na rua, em praças e espaços culturais. Os editais estão restritos a um nicho, que não atinge os fazedores de cultura realmente da cidade”, reclama, acrescentando que, hoje, para se fazer um espetáculo no Teatro Municipal de Niterói ou na Sala Nelson Pereira dos Santos, por exemplo, o apoio vem de “particulares”.

“Estamos sem apoio nenhum do poder público. Mesmo assim, a população vai ao teatro. Há uma fome de cultura, há público, mas falta apoio”, crava, observando ainda que os editais são muito concorridos e as pessoas que se apresentam com apoio do poder público são sempre as mesmas.

São Gonçalo

A atriz Nanda Roboredo atua em São Gonçalo. Ela avalia a cena local como uma das que não contam com destaque, nem incentivo, por parte da Secretaria de Cultura gonçalense. Isso porque, segundo a artista, “temos inúmeros autores e diretores do município, que não recebem uma ajuda”.

“Muitas companhias teatrais da cidade estão sem ajuda alguma. Por falta de investimento, vejo uma certa dificuldade. A secretaria deveria investir nos grupos. Muitos se apresentam em escolas, por falta de comunicação com o teatro de São Gonçalo. Dentre as principais dificuldades, está a falta de investimento e comunicação com os grupos teatrais do município”, enumera Naboredo.

Ana Lobianco também faz trabalhos teatrais em São Gonçalo. Ela esteve na cidade recentemente, num projeto alusivo à semana da criança. Para Lobianco, em São Gonçalo, “a cultura está engatinhando”.

“O poder público não apoia. Houve uma mudança na Secretaria de Turismo, que administra a cultura. Estão tentando fazer um trabalho, mas pouco conhecem da área cultural. Não há estrutura”, critica a produtora.

Ainda de acordo com Lobianco, o Teatro Municipal de São Gonçalo era arrendado: tem de se pagar para utilizá-lo.

“Paga-se para beber água. É tudo muito difícil. Não existe uma cultura de fomento em São Gonçalo, apesar de haver uma plateia carente de cultura, que não sabe nem onde fica o Teatro Municipal. Os próprios meios de comunicação, que deveriam fazer o trabalho, não sabem como fazer. Eles acreditam que, com a lei Paulo Gustavo, vai se divulgar mais. Mas não há estrutura cultural na cidade. Os fazedores estão perdidos, sem saber para onde ir. Muitos migram para Niterói, o que vai inchando ainda mais a demanda”, lamenta.

A lona cultural do Jardim Catarina contou com apresentações de Lobianco, durante a semana da criança. Ela afirma que “estão tentando” fazer um público ali, mas não se sabe qual é a programação existente no espaço. 

“A carência é tão grande, que havia desde crianças de sete anos a senhoras, que nunca foram ao teatro. Fazem uma propaganda, mas não há política pública de cultura em São Gonçalo”, reitera.

Maricá

Ainda de acordo com a produtora, apesar de contar com recursos financeiros, Maricá também “está engatinhando”, quando o assunto é fazer uma boa política cultural, especificamente para o teatro.

“Não está acontecendo. As pessoas vão migrando para São Gonçalo e Niterói. Também estão acreditando na Lei Paulo Gustavo. Maricá não tem teatro: apenas uma lona cultural. O acesso à gestão, para trabalhar, é um muito restrito”, afirma.

Em nota, a Prefeitura de Maricá, por meio da Secretaria de Cultura, informou que atualmente possui o espaço teatral do Centro de Artes e Esportes Unificados, na Mumbuca.

“Além de ofertar oficinas teatrais, também há apresentações. Para utilizar o espaço, os interessados deverão solicitar, por meio de um ofício com data, hora e resumo do espetáculo, à Secretaria de Cultura que, atualmente, administra o espaço. A secretaria fica na Rua Adelaide De Souza Bezerra, 104, Boa Vista, Maricá”, informa o texto, complementando que atualmente, há o edital do Proac, voltado a atividades nas áreas de artes urbanas (R$ 520 mil disponíveis); artes visuais (R$ 520 mil); circo (R$ 260 mil); dança (R$ 340 mil); literatura e poesia (R$ 260 mil); música (R$ 800 mil) e teatro (R$ 800 mil).

“Todas as atividades são realizadas por artistas individuais ou grupos que sejam residentes ou sediados em Maricá. Ao todo, foram 58 contemplados. Os projetos foram divididos em três faixas de valor financiado: até R$ 20 mil, de R$ 20.001 a R$ 50 mil e de R$ 50.001 a R$ 100 mil. Um mesmo artista ou grupo pode apresentar até duas propostas, desde que o valor solicitado para ambas não ultrapasse a soma de R$ 100 mil”, conclui a prefeitura.

Questionadas sobre espaços teatrais disponíveis; o que um grupo de teatro deve fazer para se apresentar em algum equipamento público e que incentivo o governo municipal dá a esses grupos, atualmente, as prefeituras de Niterói e São Gonçalo não responderam à reportagem, até o fechamento desta edição.

Clique aqui e receba mais notícias da sua cidade no WhatsApp. 
 

Relacionadas