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Há duas semanas, o mundo assiste incrédulo à escalada de violência no Oriente Médio após o ataque terrorista do Hamas em solo israelense. Desde então, mais de 5 mil vidas já foram ceifadas pelo conflito, sendo 3.785 palestinos, segundo a última atualização do Ministério da Saúde da Palestina, e 1.403 do lado de Israel, de acordo com a Al Jazeera. Os feridos somam mais de 16 mil.
Números que tendem a crescer ainda mais, de acordo com especialistas em Relações Internacionais ouvidos pelo A TRIBUNA. Essas opiniões, inclusive, vão ao encontro a fala do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que afirmou, esta semana, que “a guerra será longa”.
Mestre em Relações Internacionais pela PUC-Rio e professor do Ibmec e Universidade Veiga de Almeida, Tanguy Baghdadi acredita que a grande questão agora seja qual será o formato adotado para a guerra e que, talvez, o grande receio de Israel no momento venha a ser o conflito se tornar “interminável”.
“O grande risco desta é o mesmo de qualquer guerra com essas características: torne-se um atoleiro, um daqueles conflitos que você não consegue encerrar, não consegue sair e nem consegue vencer. Caso vençam - o que já não será fácil - Israel vai ocupar a Gaza ou vai sair e aí vai permitir que eventualmente o Hamas consiga se reestruturar? Há uma série de questões em aberto ainda”, afirmou.
Pós-doutor pela UNB e professor de História Contemporânea na UFF, Bernardo Kocher disse temer que o conflito iniciado em Israel e Palestina acabe respingando e iniciando questões tanto na região, como até em outros continentes.
“Hoje, o principal ponto de acirramento na guerra seja a possibilidade de um confronto armado com o Hezbollah, grupo islâmico libanês que, assim como o palestino Hamas, prega a destruição do Estado judeu. E tudo é muito sensível, pois a área é, por exemplo, rota de passagem de petróleo e gás, algo que, se interrompida, afetaria o mundo inteiro”, pontuou.
Brasil e o confronto
Nesta semana, o Brasil, atual presidente rotativo do Conselho de Segurança da ONU, apresentou uma resolução que seria a primeira manifestação formal do órgão a respeito do conflito no Oriente Médio. Nele, o país condena os ataques terroristas do Hamas e cobra de Israel o fim do bloqueio à Faixa de Gaza. No entanto, os EUA, um dos que têm assento permanente e poder de veto, enterraram a discussão mesmo sendo o único país a votar contra, ainda que 12 outros terem ido a favor.
Para Kocher, apesar do resultado, o Brasil não saiu como derrotado da questão.
“A nossa diplomacia tem adotado uma postura firme. Acredito que, hoje, a principal preocupação do Brasil seja a retirada dos brasileiros do lugar. Talvez, quando todos forem retirados, tomem outra posição, mas temos tradição diplomática de longa data, agindo de forma coerente e buscando uma solução razoável para a paz, mas há muitos interesses por trás, o que ficou evidenciado, inclusive, no veto dos EUA. Interesses financeiros mesmo. Por isso, no momento, as armas estão vencendo a discussão”, concluiu.
De acordo com a embaixada do Brasil em Tel Aviv, cerca de 150 brasileiros continuam em Israel e têm interesse na repatriação. O Itamaraty informou que, como a aeronave da FAB tem capacidade de transportar até 200 passageiros, o Brasil pretende ajudar na repatriação de cidadãos dos países vizinhos, como Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. A pasta ainda não deu, no entanto, uma data para o início da nova fase da operação de resgate.
Segundo o governo federal, a FAB forneceu quatro aeronaves para as ações de resgate de brasileiros na nação do Oriente Médio. O avião presidencial foi designado para buscar os brasileiros que estão na Faixa de Gaza. O território palestino tem sido, desde o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, alvo de bombardeio pelas forças israelenses.
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, afirmou que ainda não há previsão para ser feito o resgate dos brasileiros em Gaza. O grupo de 32 pessoas, sendo 17 crianças, aguardam a abertura da fronteira do território palestino com o Egito, de onde serão resgatados.
Até o momento, o Brasil totaliza a repatriação de 1.135 brasileiros e 35 pets.
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