Assinante
Mesmo com sucessivos episódios de arrombamento e furtos em estabelecimentos comerciais, o Secretário Municipal de Ordem Pública, coronel Paulo Henrique, afirmou durante uma reunião emergencial para debater os índices de criminalidade, que “Niterói tem números de Europa”, em relação à violência. O encontro aconteceu na Câmara de Dirigentes (CDL-Niterói), no Centro da cidade, na manhã desta segunda-feira (23).
Na ocasião, o titular da pasta havia participado de uma reunião entre comerciantes, autoridades políticas e de segurança pública para tratar dos altos índices de violência e arrombamentos de estabelecimentos comerciais em Niterói.
“Na minha avaliação, estamos enfrentando muitas consequências ruins e nós, como autoridades, temos percebido isso. Eu entendo que o nicho empresarial é um importante segmento da sociedade e, por conta disso, é necessária toda a pressão e cobrança, porque é muito fácil estarmos aqui, prestando contas, enquanto o trabalhador está sofrendo”, disse.
Paulo Henrique ressaltou ainda a importância do Conselho Comunitário de Segurança.
“No início deste ano, falei que não gostaria de olhar para números que estão sendo apresentados estrategicamente. É importante que esses dados tenham conexão com o trabalho que estamos fazendo. O presidente do ISP [Instituto de Segurança Pública] disse que a nossa cidade tem índices de Europa, e de fato podemos afirmar que Niterói está indo bem; mas, mesmo com os números de violência mais baixos, a nossa tranquilidade não melhorou, pois o cidadão não anda tranquilo”, constatou.
O Cel. Aristheu de Góes, comandante do 12º BPM, reiterou a fala do secretário e afirmou que o trabalho do Conselho de Segurança é essencial para reduzir a criminalidade na região.
“Participamos ativamente do conselho comunitário de segurança e, desde 2019, quando iniciei no Batalhão, sob o comando de Silvio Guerra, essa integração entre Polícia Militar, Polícia Civil e Prefeitura tem colhido frutos. Hoje por exemplo, temos números que jamais imaginávamos ter. Em 2016 e 2017, os crimes cometidos na zona sul, armamento pesado, o roubo frequente são problemas que têm sido menos comuns, graças à ajuda da população, que acredita no nosso trabalho”, finalizou.
Comércio
Durante a reunião, o comerciante Rogério Rosetti, que é proprietário da "Ferragem São Francisco" afirmou que não aguenta mais as invasões por parte de pessoas em situação de rua, em seu estabelecimento.
"Pagamos um IPTU que, é uma verdadeira extorsão. chega de pagar ICMS caro e não ter o mínimo que merecemos. Se o problema é uma lei do STF, vamos a público, vamos brigar. Se o problema é que não tem efetivo, vamos brigar por efetivo, porque chega!", relatou o comerciante que teve a sua loja furtada três vezes, na madrugada em um curto espaço de tempo.
Osvaldo, que é proprietário da Móveis Guanabara, também falou sobre os perigos da falta de segurança no município. Ele foi vítima de um assalto, dentro do estacionamento de uma rede atacadista.
"No último sábado, eu fui a um supermercado e, ao sair de lá, fui assaltado dentro do estacionamento. É lamentável, uma rede de supermercados que investe em propagandas de futebol, não ter seguranças suficientes", disse o comerciante, acrescentando que sua loja conta com vários seguranças, por conta das invasões de pessoas em situação de rua.
Autoridades
O vice-presidente de Conselho Comunitário de Segurança Pública de Niterói, Leandro Santiago, comentou que “a Amaral Peixoto é a Avenida Paulista de Niterói e, ao longo do tempo, isso vem se modificando".
Já o presidente do Conselho Comunitário de Segurança Pública de Niterói, Francis Leonardo, pontuou os crimes de violência ocorridos por toda a cidade.
“O Conselho já vem falando das pessoas em situação há dois anos. O problema está nos dependentes químicos. Por conta disso, a situação de Niterói começa a atrair outras questões. Hoje, eu vejo muita gente dando pancada na polícia militar, mas, em contrapartida, vemos pessoas que têm 30 passagens pela polícia”, comentou.
Sandro Pietrobelli, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Leste Fluminense (Abrasel), disse que cerca de 60% das pessoas em situação de rua estão em procura de emprego.
“Se existir um programa que pegue esse morador, faça um trabalho com início, meio e fim e o torne capacitado, vamos fazer um esforço gigante para tentar acolher essas pessoas para dar um emprego. Mais que moradia. Acho que tem de existir um programa que funcione”, afirmou.
Abordagem
Para Dani Murtha, subsecretaria de Assistência Social e Economia Solidária de Niterói, a equipe de abordagem tem colhido bons frutos na abordagem de pessoas em situação de rua e espera aumentar o seu número de colaboradores.
“Hoje, contamos com o Serviço de Abordagem que trabalha com pessoas em situação de rua na cidade e, depois de muito esforço, estamos quadruplicando a nossa equipe”, relatou.
Dani afirmou ainda que a secretaria conta com o apoio de outras pastas da cidade para retirar as pessoas em situação de rua.
“O Centro Pop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua) fez a ressocialização de cerca de 103 pessoas, nos últimos quatro meses; ou seja, com o nosso apoio, essas pessoas aceitaram voltar para as suas residências. Vale lembrar que, além da abordagem social, que é 24 horas, contamos com outras ações, como a do Centro Pop, serve três refeições às pessoas em vulnerabilidade”, afirmou a subsecretária que também afirma receber doações de refeições por parte das empresas.
O vereador e presidente da Federação Câmaras Dirigentes Lojistas do Estado do Rio de Janeiro (FDC/RJ), Fabiano Gonçalves, afirmou que vai encaminhar um projeto de lei para que restaurantes populares e Centro Pop abram em horários alternativos ao de funcionamento para receber as pessoas em situação de rua, uma vez que a Avenida Ernani do Amaral Peixoto, também no Centro, tem se tornado uma via com problemas de vigilância sanitária.
“Como bem disse a subsecretária Danielle, as pessoas entregam a comida na porta do centro, mas não entregam dentro, por conta dos estabelecimentos da Prefeitura estarem fechados. A entrega de comida acaba sendo direcionada à Amaral Peixoto, que hoje é o reduto das pessoas em situação de rua. O meu objetivo é encaminhar um projeto de lei para os vereadores e depois ao prefeito para que os restaurantes populares e os centros pops funcionem em horário alternativo para receber essas pessoas”, afirmou Fabiano.
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Niterói, Luiz Vieira, a participação das entidades no evento permite que as autoridades tenham um panorama mais acurado sobre o problema da segurança pública.
"Os objetivos da segurança pública são de responsabilidade de todos, não só da polícia. Levamos daqui algumas diretrizes. Há uma união da sociedade, dos representantes da sociedade civil e do poder público. A gente sabe que esse é um problema mundial, mas nós vivemos os problemas da cidade", sublinhou.
De acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico de Niterói, Luiz Paulino, a reunião entre as autoridades foi importante para trazer a reflexão sobre a questão social e política, que se refletem na segurança do estado e do país.
"Os problemas de segurança já estão chegando no Paraná, onde tenho negócios. A população já está evitando certos locais, em Curitiba. É um problema que está alcançando até estados mais desenvolvidos. É nacional. Precisamos pensar também fora de Niterói. Estamos com o porto pesqueiro para voltar a funcionar. Niterói é uma cidade com vocação pesqueira. Essa é a nossa participação. O importante é que, daqui, pode sair uma comissão para darmos continuidade a este trabalho, já que temos vários representantes da política local", destacou.
Presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário, Bruno Serpa Pinto se questionou sobre a quem interessa a insegurança, já que, por trás dela, por trás da insegurança, há "uma indústria".
"Pago 2.500 reais para um segurança para fazer com que as pessoas não fiquem debaixo da minha marquise. Agora, migraram para o Banco do Brasil. São as mesmas pessoas. Volta e meia o pessoal do Segurança Presente volta. Será que faz sentido, nesse grau de união, colocarmos o vizinho solidário? Se a gente conseguir unir as administradoras de condomínio para divulgarmos as imagens, voltados para a rua. São coisas simples, já financiadas pelo setor privado", opinou Serpa Pinto.
Nota da SinCond:
Em nota, O Sindicato de Condomínios de Niterói e São Gonçalo afirmou que vem a público cobrar uma solução das autoridades públicas para a situação de insegurança. O órgão diz ainda a cidade carece de políticas publicas que endureçam a retirada de pessoas em situação de rua e de estabelecimentos que sofrem com a alta violência.
“Que não fiquem apenas em projetos elaborados em gabinetes refrigerados ou reunidos em conferências e simpósios, às custas do erário, sem resolver a grave questão que aflige a sociedade como um todo. É necessária uma ação imediata”, conclui.
✅ Clique aqui e receba mais notícias da sua cidade no WhatsApp.