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Um levantamento divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio informa que, desde o início do ano, foram registrados cerca de 40.571 casos de dengue, em todo o estado. O maior número de casos da doença se concentra no Rio de Janeiro (capital) e cidades do Leste Fluminense.
No Rio, o número de casos chega a 18.639: o que equivale a 45,94% dos casos totalizados no estado. Itaboraí registra 519 casos, totalizando 1,28%. Outras cidades, como Niterói (124); São Gonçalo (72) e Maricá (52) apresentaram baixos índices, respectivamente.
Além dos casos confirmados, a dengue no estado obteve 2.227 internações e 22 óbitos confirmados, de janeiro a outubro deste ano. Apesar dos altos índices, a Secretaria Estadual de Saúde afirma que não houve indícios de epidemia nos 92 municípios que integram o estado, ao longo de 2023.
Para o professor e infectologista da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Marcos Junqueira Lago, os números não configuram epidemia, porque a incidência se refere aos casos por 100 mil habitantes.
“E os dados apresentados pela Secretaria não se aproximam da metade da média de habitantes estimado”, ressaltou.
O médico explica ainda que o número de casos registrados é alto para a média do ano e os índices podem acarretar numa epidemia para o início de 2024.
“Vale destacar que o governo estadual e os gestores não vão assumir esses números como uma epidemia; a não ser que tenha um número técnico que comprove a existência da epidemia, a exemplo de quando surgiu a Covid-19. Mas esses números estão muito altos para essa época do ano. Apesar de não caracterizarem uma epidemia, este período é quando se iniciam os focos de dengue, principalmente do calor e das chuvas. Historicamente, quando estamos com número alto, como é o caso deste ano, as chances para uma epidemia no início deste ano são altas”, alertou.
Junqueira avalia “os indícios de epidemia com bons olhos”, porque, assim, as autoridades podem tomar as medidas necessárias em tempo hábil.
“Isso faz com que os governos se adiantem e tomem as medidas necessárias para controlar o alastramento da doença. É claro que as medidas não são 100% eficazes, mas acabam sendo necessárias para a redução de índices por dengue. Isso só acontece quando o poder público investe de fato, fazendo uma propaganda pesada, nos meios de comunicação, canais digitais e na mobilização de pessoas, para que elas possam fazer as suas partes e reduzir o número de mosquitos”, completou.
Teste
Recentemente, testes moleculares desenvolvidos por cientistas da Fiocruz foram capazes de detectar, simultaneamente, vários vírus. Na ocasião, foram utilizados numa pesquisa, desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), revelando um aumento expressivo de coinfecção de dengue e Chikungunya, em 11%.
De acordo com a especialista científica em diagnóstico molecular de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Patrícia Alvarez, os testes auxiliam na vigilância genômica e epidemiológica dos casos de arboviroses.
“Esses dados são fundamentais para se acompanhar o cenário da distribuição e dos determinantes das doenças, emitindo alertas para as autoridades que devem tomar medidas eficazes de saúde pública”, disse.
Segundo ela, espera-se que, durante os picos de epidemia de arboviroses, exista uma taxa de coinfecção de 2% a 3%; porém, os números encontrados foram de 11%, sendo muito superiores a essa margem, acendendo, dessa forma, o alerta para ações assertivas no combate aos patógenos, especialmente aos focos do mosquito Aedes Aegypti.
O que dizem as Prefeituras
Rio de Janeiro
A Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS-Rio) informou que está atenta e realiza permanentemente o monitoramento de possíveis focos do mosquito da dengue na cidade e a incidência da doença, mantendo um plano de contingência ativo durante todo o ano, com reforço nos meses de verão, dentro da programação do Plano Verão. Este ano, até o dia 28 de outubro, foram vistoriados mais de 9,4 milhões de imóveis para controle e prevenção de possíveis focos do Aedes aegypti, com eliminação ou tratamento de mais de 1,8 milhão de recipientes que poderiam servir de criadouro. Em 2022, foram realizadas 10,7 milhões de vistorias, com eliminação ou tratamento de mais de 1,7 milhão de recipientes.
A edição mais recente do Levantamento do Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa), realizada no início de outubro, constatou que a cidade do Rio se encontra em baixo risco para infestação do mosquito transmissor das arboviroses dengue, zika e chikungunya. A SMS detectou um Índice de Infestação Predial (IIP) de 0,66% no município do Rio. Quando o IIP é inferior a 1%, a classificação é "satisfatória". Algumas, contudo, ainda apresentam IIP nas faixas de "alerta" (entre 1% e 3,9%) e "risco" (superior a 3,9%) e demandam maior atenção da SMS em ações de busca e eliminação de focos e de conscientização da população sobre a importância das medidas de prevenção.
Na última semana de outubro e nas duas primeiras de novembro, a SMS-Rio está reforçando as vistorias para prevenção das arboviroses em cemitérios, em razão do Dia de Finados (02/11), quando milhares de pessoas circularam por esses espaços. Antes da data, ao todo 21 cemitérios foram vistoriados e 700 depósitos que poderiam ser possíveis focos do Aedes aegypti foram eliminados.
As ações têm como objetivo a busca de acúmulos de água que facilitem a reprodução do mosquito transmissor da dengue; e também depois de 2 de novembro, uma vez que há o costume de se colocar flores em jarros com água sobre os túmulos, o que propicia o surgimento dos criadouros do mosquito. Ao longo do ano, os cemitérios, que são considerados pontos estratégicos na prevenção das arboviroses, são visitados pelos agentes de endemia a cada 15 dias.
Niterói
A Prefeitura de Niterói informou que conta a parceria da Fiocruz no projeto Wolbachia. Desenvolvido pela World Mosquito Program (WMP), o programa é conduzido pela Fiocruz, em parceria com os governos locais. Esse método consiste na liberação do mosquito Aedes aegypti com Wolbachia, para que se reproduzam com os aedes aegypti locais, estabelecendo, aos poucos, uma nova população destes mosquitos: todos com Wolbachia.
Em 2015, o trabalho foi iniciado em Niterói com uma ação piloto em Jurujuba. Em 2017, iniciou uma expansão no município, contemplando 33 bairros, que abrangem as regiões de praia de baía 1, praia de baía 2 e região Oceânica. Em 2021, dados revelaram a eficácia da proteção, garantida pela Wolbachia. Os números apontam a redução de cerca de 70% dos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de Zika, nas áreas onde houve a intervenção. Naquele período, 75% do território estava coberto. Em 2022, na fase de finalização, os Wolbitos foram liberados em 19 bairros que estão localizados no restante da região norte que ainda não havia sido coberta, na região de Pendotiba e na região Leste. Hoje, Niterói possui cobertura de 100% do Método Wolbachia nos territórios.
Os agentes do Centro de Controle de Zoonoses realizam um trabalho diário de combate e prevenção ao mosquito; além disso, mutirões são realizados aos finais de semana, intensificando as ações de combate. O CCZ conta ainda com fiscais sanitários que vistoriam imóveis abandonados que são potenciais criadouros de mosquitos. A equipe de comunicação e saúde também leva, até as escolas, públicas e municipais, informações sobre a prevenção às arboviroses e combate ao aedes aegypti.
Niterói também conta com seis comitês regionais de combate ao aedes aegypti, que realizam ações em seus territórios, orientando e mobilizando a população no combate aos criadouros do mosquito. O setor de Informação, Educação e Comunicação (IEC), do Centro de Controle de Zoonoses, também realiza ações educativas em escolas, unidades de saúde do município e locais públicos, distribuindo material educativo e orientando a população quanto aos cuidados para evitar e combater o mosquito.
Maricá
Já a Secretaria de Saúde de Maricá informou que permanece empenhada, durante todo o ano, no enfrentamento à dengue, com equipes atuando no combate aos focos do mosquito aedes aegypti e em ações de conscientização da população, nas ruas e nas residências. No verão, essas ações são intensificadas.
Agentes de combate às endemias percorrem os quatro distritos da cidade (Centro, Ponta Negra, Inoã e Itaipuaçu), realizando vistorias nas casas, oferecendo orientações para prevenir a proliferação da dengue e aplicando larvicida, em locais onde são identificados focos do aedes aegypti. Nos distritos, as equipes são separadas por bairros, atuando continuamente em cada área. O trabalho é integrado, incluindo registros geográficos do município (identificando novas ruas e endereços, por exemplo), estratégia de saúde, os laboratoristas (que reconhecem as larvas de mosquitos) e os agentes responsáveis pela abordagem às pessoas. A busca ativa também contribui para registrar casas abandonadas, fechadas ou terrenos com entulhos, notificando os proprietários para que façam a limpeza dos espaços.
São Gonçalo
A Prefeitura de São Gonçalo informa que a Vigilância em Saúde Ambiental da Secretaria de Saúde do município (Semsa) realiza o trabalho de pulverização de inseticida para matar o mosquito Aedes aegypti toda semana. O calendário dos bairros visitados também é divulgado, semanalmente. O objetivo é manter a doença sob controle na cidade, que está com baixo risco de contaminação da dengue pelo último Levantamento de Índice Rápido de aedes aegypti (LIRAa), realizado entre os dias 2 e 6 de outubro. O resultado mostrou que a cidade está com o Índice de Infestação Predial (IIP) de 0,7%.
Além da pulverização de inseticida, a Vigilância em Saúde Ambiental também orienta a população, semanalmente – através de divulgação nas redes oficiais da Prefeitura de São Gonçalo – para ajudar a ação das equipes e manter a casa longe dos vetores, limpando calhas e ralos, tapando caixas d’água, colocando garrafas e recipientes, com a boca para baixo, preenchendo os pratos de vasos de plantas com areia, mantendo lonas de materiais de construção e piscina sempre esticadas, guardando pneus velhos, mantendo tonéis e latões fechados. Vale lembrar que qualquer gota d’água pode se tornar criadouro do mosquito.
Os depósitos preferenciais do aedes aegypti verificados no LIRAa dentro das casas dos moradores foram os depósitos de água para consumo humano em nível do chão, que ficaram com 33% dos casos; e os depósitos removíveis (vasos de plantas, pratos, etc.), com 29% dos focos. O terceiro local com mais larvas ou pupas é o resíduo sólido (pets, garrafas, latas, etc.), com 14% das amostras. Os pneus apresentaram 13% dos focos encontrados. Os depósitos fixos – ralos e calhas – ficaram com 8%. E, por último, as caixas de água no alto da casa ficaram com 3% e os depósitos naturais com 1%.
Os locais da pulverização de inseticida são definidos pelo Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental com base nos casos notificados pelo setor de Vigilância Epidemiológica, que aponta os locais com maiores notificações das doenças no período. As ações acontecem em todos os dias úteis da semana, com exceção de feriados, pontos facultativos e dias chuvosos.
A Vigilância Ambiental também tem o pronto atendimento. Qualquer cidadão pode ligar para o setor e pedir uma visita, nos casos de infestação de qualquer vetor. Os pedidos são atendidos, em média, em uma semana. Nesses casos, os agentes averíguam as denúncias e realizam a ação necessária para acabar com os vetores. As denúncias podem ser feitas pelo telefone da Vigilância Ambiental (21) 3195-5198, ramal 1008 ou da Coordenação de Vetores (21) 2604-6446.
A prefeitura de Itaboraí também foi procurada, mas, até o fechamento desta edição, não retornou à reportagem.