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RJ: Estudo identifica relações entre tipos de crimes, vítimas e localidades
Pesquisa da UFF mostra o panorama da criminalidade e suas vítimas na cidade do Rio de Janeiro e evidencia que mulheres negras e pardas são o grupo mais suscetível
RJ: Estudo identifica relações entre tipos de crimes, vítimas e localidades
Foto do autor Gabriel Ferreira Gabriel Ferreira
Por: Gabriel Ferreira Data da Publicação: 23 de janeiro de 2024FacebookTwitterInstagram
Foto: Divulgação

O artigo “Criminalidade e espaço urbano: As redes de relação entre crime, vítimas e localização no Rio de Janeiro”, de Fernanda Ventorim e Vinicius Netto, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (PPGAU-UFF), mostram as conexões entre os diferentes tipos de crimes cometidos na cidade do Rio de Janeiro, considerando o perfil das vítimas, o horário e os bairros em que aconteceram.

Com auxílio de um método chamado “redes complexas”, o estudo revela que as mulheres sofrem 56,6% dos crimes e 71,7% dos casos de lesões contra vítimas no município. 

Já os homens aparecem frequentemente relacionados ao crime de lesão corporal culposa de trânsito. 

Para a elaboração da pesquisa, foram utilizados dados do Instituto de Segurança do Estado do Rio de Janeiro (ISP-RJ), extraídos dos registros de boletins de ocorrência criminal entre 2007 e 2018 na capital. 

Entre os diversos registros da base de dados, a pesquisa trabalhou sobretudo com crimes cometidos contra pessoas, de acordo com a classificação do ISP-RJ. 

Foram eles: crimes relacionados a lesões contra a vítima (lesão corporal dolosa, ameaça e estupro); crime associado às pessoas desaparecidas; crimes relacionados aos homicídios (homicídio doloso, tentativa de homicídio e morte por intervenção de agente do Estado, como resultado de operações policiais) e crime associado a acidentes de trânsito. 

Criminalidade e questões de gênero

Segundo a 4ª edição do Mapa da Desigualdade, publicada pela Casa Fluminense em 2023, os registros de violência contra mulheres diminuíram em 19 municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) de 2018 a 2021. 

A queda reflete a subnotificação de casos de violência durante a pandemia de covid-19 em razão do isolamento social. 

Apesar de não avaliar a variação da quantidade de casos de agressão contra as vítimas do sexo feminino — os dados do ISP-RJ registam apenas “sexo feminino” e “sexo masculino” —, o estudo demostra que mulheres são as principais vítimas de crimes violentos no município do Rio de Janeiro.

O artigo revela que as mulheres sofrem 56,6% do total de crimes na cidade, porcentagem superior à proporção desse grupo na população como um todo — 51,5% de acordo com o censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022 —, e 71,7% da média anual do total de casos de lesões contra vítimas na cidade durante o período analisado. 

Além disso, 51,7% dessas violações tiveram como alvo mulheres negras ou pardas e 79,8% do total das vítimas possuíam entre 20 e 40 anos.

Foto: Divulgação

Com relação aos homens, o crime a que estão mais expostos é a lesão corporal culposa de trânsito, ocorrência que se destaca em 7 dos 16 grupos de ocorrências. 

Ainda, delitos contra a vida (homicídio doloso, tentativa de homicídio, morte por intervenção de agente do Estado ou pessoa desaparecida) têm pessoas do sexo masculino como principais vítimas, correspondendo a 83,8%. Do total, a maioria são homens negros ou pardos (68,3%) — proporção também maior do que a representação desse grupo racial na sociedade brasileira, de 55,5% (somando homens e mulheres) — entre 20 e 40 anos (61,9%).

Outros resultados identificaram que lesões contra a vítima se destacam em oito grupos, sendo os perfis mais frequentes de pessoas do sexo feminino, negras ou pardas, entre 30 e 50 anos (27,36 % da amostra) e, na maioria dos casos, localizadas em bairros de baixa renda. 

Destaca-se também o conjunto que inclui os bairros de Santa Cruz, Pavuna e Campinho, no qual todas as ocorrências reportadas referem-se a casos de estupro contra vítimas do sexo feminino, em sua maioria crianças e adolescentes (entre 0 e 20 anos) e predominantemente pardas (88%). 

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