O comércio foi um dos setores mais afetados pela pandemia de Covid-19. Milhares de lojistas tiveram que simplesmente fechar as portas por um tempo com as leis de distanciamentos sociais. Nos últimos anos, o setor vem tentando se recuperar e em Niterói não é diferente. A TRIBUNA conversou com Luiz Vieira, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Niterói (CDL Niterói) para falar sobre o comércio niteroiense e as expectativas para 2025. 

“Nós já recuperamos o nível de vendas pré-pandemia, mas houve uma redistribuição desse patamar. Com o advento da pandemia, o comportamento da população mudou, seja pelas novas ferramentas tecnológicas ou pelo home-office. Isso fez com as pessoas não precisassem se locomover tanto, o que causou uma desaceleração no Centro, que era o grande agregador, mas houve um crescimento nos bairros, principalmente naqueles que já tinham uma infraestrutura de comércio”, disse Luiz Vieira. 

O presidente da CDL diz que esse comportamento de queda no Centro, mas crescimento em outros pontos não é exclusivo de Niterói, mas sim uma característica mundial. Ele destaca a importância dos projetos de revitalização do Centro de Niterói, de tornar essa região mais habitável, para que o comércio volte a crescer nesse espaço. 

“A recuperação do Centro é fundamental. Transformar os prédios comerciais em múltiplos, ou seja, comercial e residencial, e aproveitar a estrutura do Centro para que ele volte a ser o que outrora já foi. A Prefeitura de Niterói até criou a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Revitalização do Centro para ajudar nessa retomada. O Centro, hoje, tem uma situação muito grave de pessoas em situação de rua, de arrombamentos em estabelecimentos comerciais, então esse projeto é necessário”, afirmou o presidente. 

Luiz cita que uma cidade limpa e arrumada atrai investimento, que as empresas querem vir para uma cidade atrativa, mas que o Centro é muito desarrumado. O presidente exemplifica essa situação com as barracas de ambulantes do bairro, que não têm um local específico para estar trabalhando dignamente. “Isso cria uma ambiência de desorganização, dá até medo de passar ali naquelas barracas à noite”. 

Porém, olhando pelo lado positivo, na retomada do comércio da cidade como um todo, o presidente vê uma mudança de hábito no setor, que deixou de ser o comércio do cliente que entra na loja e passou a ser muito mais digital. Luiz cita que a CDL oferece vários cursos de capacitação para o empresariado da cidade para se adaptar a esse novo tipo de vendas. 

“Os comerciantes tem que saber que ele precisa vender para o mundo, e não se limitar aquele espaço físico. As empresas estão se modernizando, buscando novas opções e estão com uma presença muito forte nas redes sociais e no comércio digital. Isso é muito importante para manter o fluxo de receitas, independente das pessoas que estão transitando na loja. Existe hoje uma transformação de consumo e o comércio de Niterói tem que estar preparado para isso”, disse Luiz. 

Além da capacitação do empresariado no comércio digital, Luiz cita que a CDL trabalha com outro tipo de preparo, como ajudar as empresas de Niterói a participar de licitações. O presidente destaca que existe um mapa de oportunidades, mas as empresas não participam, muitas vezes por falta de conhecimento. 

“Nós como empresários devemos ficar atentos às oportunidades de negócios. Por exemplo, estamos com a previsão do Canal São Lourenço, o que deve atrair várias empresas para a cidade. Isso significa mais emprego, mais emprego significa mais consumo, mais moradia. O mercado imobiliário já percebeu isso. A construção civil em Niterói está em uma crescente e é tudo proporcional, e tudo termina no comércio”, comenta Luiz. 

Porém, o presidente diz que todo esse crescimento só será concretizado se o Poder Público cumprir as promessas de melhorias na cidade e que cabe a CDL cobrar e discutir a criação de políticas públicas que não atrapalhem o comércio, mas ajudem. 

“Uma coisa que a gente discute muito é estacionamento no Centro. Em dezembro, foi liberado o estacionamento na Amaral Peixoto, e a gente quer que isso fique o ano todo, porque não atrapalha ninguém e faz com que as pessoas parem para comprar no Centro de Niterói. São políticas públicas como essa que nós estamos discutindo com o Governo para melhorar a ambiência de negócios da cidade”, explicou o presidente. 

Mas não são só boas notícias. Um dos índices que mais impacta o comércio, a Taxa Selic, que é o juros básico da economia, terminou 2024 em alta e a tendência é que continue subindo neste ano. Luiz vê um impacto muito grande dessa taxa no consumo. 

“A Taxa Selic atinge todo mundo. Com os juros altos, o produto encarece para quem compra a prazo e para quem compra à vista, uma vez que o comerciante acaba botando esse gasto a mais no preço. O crédito fica muito mais caro e a própria operação comercial do empresário fica mais cara. Ele precisa de investimento e quanto mais alta a taxa de juros, mais difícil é investir. Se a taxa de juros está alta, o dinheiro fica no mercado financeiro, se a taxa está baixa, a rentabilidade é menor, então ele investe mais no consumo”, disse Luiz. 

Para finalizar, Luiz tem boas expectativas para o ano de 2025, mas diz que será um ano de cobrança, para que todo o investimento público seja concretizado e que o comércio possa crescer ainda mais. 

“Eu sou um positivista nato, mas não podemos ser utópicos. A perspectiva de investimento na cidade é muito grande, o que envolve um crescimento nosso. E geralmente o investimento público dá retorno rápido, você reurbaniza uma rua e logo aparece um comércio no local. Então a perspectiva é boa, mas nós temos que estar atentos para cobrar.” Finalizou o presidente da CDL.