Em pleno inverno, 38° num dia. No outro, a temperatura cai para 16°, mas segue variando, até voltar a quase 40° e, depois, diminuir para 8°, durante a noite e a madrugada. 

Quem não está vivenciando, na pele, essa gangorra climática durante o inverno que se despede em fins de setembro - do dia 22 em diante -, não mora no Rio de Janeiro  nem no Brasil de 2024.

São muitos os fatores que podem colaborar para o fenômeno destas bruscas mudanças climáticas, vivenciadas em nosso estado – e no país. 

As queimadas, que vêm ocorrendo no estado do Rio e interior do Brasil - muitas delas criminosas, destacadamente em São Paulo -, nas últimas semanas, podem, a longo prazo, colaborar para esse vai e vem climático.  

É o que opina o meteorologista Wanderson Luiz (UFRJ). Para ele, com mais emissão de gases de efeito estufa, o aquecimento global pode ser piorado, nos próximos anos. 

“No curto prazo, predomina a circulação atmosférica. De fato, tivemos uma frente fria intensa, que derrubou as temperaturas; mas, após a sua passagem, predominam as condições de sol de uma região tipicamente tropical: as temperaturas logo sobem. No interior, a continentalidade faz a temperatura subir ainda mais rápido”, sublinha.

Para outro meteorologista, Francisco de Assis, do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a situação das queimadas de grande parte do Brasil não influenciam na mudança climática. Segundo Assis, o processo é justamente o inverso:

"É a mudança do clima que influencia nessa situação de uma estiagem mais prolongada, a redução das chuvas e, consequentemente, queimadas e mais incêndios".

Durante o período chuvoso, de acordo com o especialista, o centro do país e grande parte da região Norte, desde novembro de 2023, contaram com menos chuvas que o esperado. 

De modo que, até março, os recursos hídricos ficaram com níveis baixos, durante o período da estiagem - com um registro baixo ou zerado de índice de chuva -, que se agravou, com as queimadas recentes:

“A variabilidade climática tem sido muito acentuada, principalmente entre o meio e o final do inverno. 

"Estávamos sem inverno no Brasil. Ele está ocorrendo num período retardado, como o de cerca de 20 dias atrás. Isso causa uma mudança brusca nas temperaturas. Há um bloqueio atmosférico na região do Rio Grande do Sul com a Argentina e um predomínio muito forte de uma massa de ar quente e seca, em grande parte do país. Quando ela é rompida, o ar frio invade, causando uma grande variação na temperatura”.  

A meteorologista Andrea Ramos observa que há lugares, no Brasil, com 50 dias ou mais, sem chuvas. 

“Estamos com um ciclone atuando, que proporciona, em vários pontos da parte central, das regiões Sudeste, Sul, Norte e Nordeste, mais de três meses sem chuva. O inverno tem essa característica, do aumento do foco de queimadas”, ressaltou.

Focos de calor

O Brasil iniciou o mês de setembro com mais 154 mil focos de calor registrados este ano, segundo o Programa Queimadas, do Inpe. 

O maior número de frentes de fogo está na Amazônia, que concentra 42,7% dos focos registrados no domingo (1º) e nesta segunda-feira (2).
 

De acordo com o Inpe, como esses dados são gerados por imagens de satélite, que variam em captação de áreas entre 375 metros quadrados (m²) e 4 quilômetros quadrados (km²), cada foco pode representar uma ou várias frentes de fogo ativas. 

Da mesma forma, uma frente de fogo muito grande pode ser captada por mais de um satélite e representar mais de um foco de calor.