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As imagens dos recentes casos de violência no Rio de Janeiro rodaram o mundo.
Crimes absurdos como as dezenas de ônibus queimados na Zona Oeste, o "Centro de Treinamento do Tráfico" no Complexo da Maré, e o assassinato dos três médicos num quiosque na Barra da Tijuca foram destaques em diversos jornais estrangeiros.
Mal ou bem, por mais que nosso país possua belezas naturais, também exporta uma imagem de violência.
São comuns, também, casos de turistas assaltados, ou que sofreram golpes.
Porém, será que a violência urbana é um fator impactante, a ponto de fazer com que turistas deixam de visitar o Rio de Janeiro?
O professor do Departamento de Turismo da UERJ, Vitor de Pieri, até acredita que a violência seja um fator, porém, não é o mais importante para definir a vinda de um turista.
"A região turística não sofre diretamente os impactos da violência urbana. Quem sofre mais com isso é a população que vive especialmente nas regiões mais periféricas. Então, infelizmente isso é um problema mais local que não impacta tanto na atração de turistas internacionais", explica o professor.
Para exemplificar seu ponto de vista, o professor dá o exemplo do México, que também possui essa "má fama" de violência, porém, recebe nove vezes mais turistas que o Brasil.
"Por que ele recebe nove vezes? Porque faz fronteira com o principal país emissor de turistas internacionais, que são os Estados Unidos. Então o Brasil, a distância dos Estados Unidos, da União Europeia e da China, é um dificultador na atração de turistas internacionais. Por isso, 45% dos turistas estrangeiros que vêm ao Brasil são argentinos", argumenta Vitor de Pieri.
Sobre casos de violência contra turistas no Rio de Janeiro, o Ministério do Turismo afirmou para A TRIBUNA que articula um acordo de cooperação técnica com o Ministério da Justiça e Segurança Pública para a adoção de ações voltadas à segurança turística.
Segundo a Ministério, a parceria prevê iniciativas como a capacitação de policiais para o atendimento a turistas e o desenvolvimento ou o fortalecimento do policiamento local em atrativos turísticos de estados e municípios. Ressalta que eventualidades com turistas também ocorrem em vários outros países, e não apenas no Brasil.
Já a Embratur, defendeu "políticas de segurança pública que enfrentem de forma eficaz o crime, protegendo brasileiros e turistas." No entanto, afirmou que por ser uma agência de promoção internacional, não elabora estudos sobre os prejuízos econômicos causados pela violência.
Vitor de Pieri, acredita que os turistas estrangeiros que deixam de vir ao Brasil em função da falta de segurança, é mínima.
"O Brasil sempre foi reconhecidamente um país não muito seguro, mas não é o principal fator que impede com que os turistas estrangeiros venham ao Brasil. O principal é a distância dos grandes polos e emissores", ressalta o professor, que também argumenta que o brasileiro possui fama de receptivo, e isso também é importante na atração do turista, e também elogia o trabalho da Embratur em promover a imagem do Brasil lá fora.
Pesquisas sobre o tema
A Fecomercio realizou em março deste ano um levantamento que aponta que estrangeiros, entrevistados no Galeão, deram nota 9,2 (de 0 a 10) sobre a chance de indicar o Rio de Janeiro para familiares e amigos.
O motivo da viagem ao Rio costuma ser 83% para lazer, e 11% à negócios, e o tempo de permanência médio é de 10 dias, com gasto médio da viagem por pessoa em R$ 2.715
Já o instituto espanhol Mabrian identificou o bom desempenho da percepção de segurança.
A avaliação do Rio de Janeiro foi considerada positiva, porém, entre as cinco capitais brasileiras analisadas (as outras foram Recife, Porto Alegre, São Paulo e Salvador), o Rio teve a pior nota.
Por conta disso, o professor acredita que o impacto da violência para o turismo doméstico é maior.
"O controle do território carioca não é de domínio do poder público. A maior parte do território é de poderes paralelos. Certamente, eventos como o assassinato dos médicos, os ônibus queimados, eles impactam um pouco mais no turismo doméstico. O Rio fica com uma imagem desgastada mais no Brasil do que no exterior, acredito eu", finaliza.