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Em nosso mundo marcado pela violência, somos chamados a construir pontes de paz, com a consciência de que a paz é forte, mas as pontes da paz carregam em si mesmas fragilidades que tanto nos ameaçam.
Na Sagrada Escritura, Jeremias, um profeta tristemente atual, nos traz mensagens severas e exigentes. Mensagens de uma nua e crua realidade contemporânea. Quando ele se dirige às lideranças do povo, brota de sua boca um lamento que convulsiona a alma mais entorpecida pela extensão de sua atualidade. Ele diz aos líderes do povo: “Do primeiro ao último são todos ávidos de lucro... e praticantes da mentira. Sem responsabilidade, querem curar a ferida do meu povo, dizendo apenas: “Paz, paz!” quando não existe paz alguma. Deviam envergonhar-se, mas não se envergonham, pois não sabem o que é sentir vergonha” (Jr 8, 10); “Esperávamos a paz, e nada de bom aconteceu.” (Jr 8,15). Mas tampouco o povo escapa de seu severo senso crítico. Dirigindo-se às pessoas, ele acrescenta: “A sua língua é como uma flecha envenenada: tudo o que falam é só tapeação. Cada um fala de paz com o próximo, mas no íntimo, prepara armadilhas” (Jr 9, 7). E acrescenta: “Sobre as montanhas desato a chorar, pelos campos da baixada solto o meu lamento, pois tudo está arrasado” (Jr 9, 9).
Palavras tremendas! Como igualmente tremendas são as exigências da paz! A paz – Shalom – é um dos tripés do mundo. Mas um tripé só se equilibra se os outros dois pés estiverem igualmente equilibrados: a verdade e a justiça. E caberá ao profeta Jeremias a pesada tarefa de nos conduzir e nos dobrar na percepção do quanto ainda temos de caminhar se quisermos alcançar a civilização da paz.
Perto de nós, ao nosso lado, continuarão entoando melodias de morte, cantos de desolação, desafiando face-a-face os nossos projetos de paz. Nós sabemos disso. Não há como escapar da realidade. E nem queremos. Se for para construir uma cultura da paz, que seja a paz dos desafios da vida. Jamais, a imperturbável paz dos cemitérios.