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Por falar em Walter Salles Júnior
Por falar em Walter Salles Júnior
Foto do autor Luiz Antonio Mello Luiz Antonio Mello
Por: Luiz Antonio Mello Data da Publicação: 01 de fevereiro de 2025FacebookTwitterInstagram

                               “Lovers” de René Magritte

Como seria viver sem amor, atravessar o deserto existencial sem um copo d'água, uma brisa, um sopro? Como seria viver sem jamais ter sentido o amor? Amor nutrido na paixão, decantado na troca de confissões, mergulhado em caldeirões de ilimitada luxúria.

“On The Road”, filme de Walter Salles de 2012, baseado no clássico beat de Jack Kerouac é uma ácida história de amor sim, por que não? Desde que li “On The Road” em três momentos especiais de minha vida, senti a presença do amor da primeira à última página.

O amor caos, o amor clamado, implorado, quase ausente. Amor desespero, amor sublime, amor angústia, amor proibido, amor rastejante, amor anfetamina, amor álcool, amor heroína, amor, amor, amor. Nem sei se Kerouac soube que escreveu tão bem sobre o amor. Nem ele, nem Allen Ginsberg, William Burroughs.

Já definiram “Django Livre”, de Tarantino, como um filme de amor, especialmente o que rola entre o alemão Dr. King Schultz e a negra Broomhilda, também amada por Django.

Mesmo que o clássico verso de Paulinho da Viola em “Tudo se Transformou” eventualmente nos venha a cabeça, cuja segunda palavra troquei (“ela insinuou recentemente que ao meu lado não tem mais prazer”), o amor permanece necessário, vital, mesmo com pés na bunda insinuados por amadas.

Mora no amor o meu grande questionamento em relação a igreja católica. Estudei em colégio católico. Homens de batida amargos, complexados, rancorosos, acabavam descarregando nos alunos todas as suas frustrações, o seu não desviver, quase inexistência social. 

Aqueles religiosos (todos) acabaram abandoando a batina e foram amar, casar, ter filhos. Encontrei vários ao longo dos anos e no lugar da truculência seca da desidratação afetiva, vi homens mais tolerantes, generosos, e até bem humorados.

Concordo com Caetano quando, na magistral “Paula e Bebeto” que ele compôs, Milton Nascimento canta “qualquer maneira de amor vale à pena”. No início dos anos 70, auge da adolescência, uma namorada me disse algo parecido quando nos beijávamos e sussurrávamos segredos no alto de uma pedra, numa praça em Teresópolis, ouvindo sem parar “That´s Way”, do Led Zeppelin. Que som. A letra não trata de amor especificamente, mas a música é amor em estado líquido. Como é o caso da fabulosa e acrilírica “Love Reign O’er Me” (“Amor impere sobre mim”), The Who. Amor em letra e música.

P.S. Em tempo, ouvi uma asneira sobre Walter Salles que deu vontade de levantar e, educadamente, explicar ao asno em questão quem foi Walter Moreira Salles. Ele não sabia que o cineasta de “Ainda estou aqui” e outros filmes brilhantes é filho do banqueiro e diplomata. Na cabeça adubada dele, Walter Salles é um só.

Ele certamente não lerá este texto. Mas, deixo aqui a informação. O banqueiro Walter Moreira Salles (fundador do Unibanco) era muito mais conhecido como embaixador, posto que exerceu em Washington durante o segundo governo de Getúlio Vargas. Além disso, foi ministro da Fazenda do Brasil no gabinete parlamentarista do presidente João Goulart.

Ganhou a admiração do presidente Juscelino Kubitschek pela fama de conciliador em suas incursões diplomáticas. Foi um dos negociadores da dívida externa brasileira na década de 1950, em três ocasiões, nos governos dos presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros. Na mesma década, financiou o lançamento do jornal Última Hora de Samuel Wainer.

Conhecido pelas maneiras gentis e gosto refinado, fazia a figura de milionário elegante, sendo o brasileiro predileto dos irmãos Rockefeller. Sua esposa, Elisinha, era considerada uma das mais bem vestidas do mundo. O embaixador tinha muitos amigos famosos, dentre eles o roqueiro Mick Jagger, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a atriz Greta Garbo.

No início dos anos 1990, foi fundado o Instituto Moreira Salles, uma entidade que se tornou fundamental para a cultura do país.



 

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