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Nesta semana nacional de conscientização sobre o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), um estudo da Universidade Federal Fluminense (UFF), liderado pela doutora Andréa Tosta, sob orientação do professor do Departamento de Neurobiologia do Instituto de Biologia, Pablo Pandolfo, ambos do Laboratório de Neurobiologia do Comportamento Animal (LNCA/UFF), traz importantes inovações na pesquisa em neurodesenvolvimento relacionada ao TDAH.
A tese de doutorado “Efeitos do exercício físico gestacional na prole de um modelo animal do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: neurodesenvolvimento na infância e adolescência” foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Neurociências da UFF e é o primeiro estudo a mostrar, em suas principais evidências, que a natação durante a gravidez é uma estratégia promissora tanto para tratar os sintomas da pessoa com o transtorno, quanto para trazer benefícios para os bebês das gestantes com TDAH.
O TDAH é uma condição neuropsiquiátrica caracterizada por padrões persistentes de desatenção, hiperatividade e impulsividade, sintomas que frequentemente interferem na vida das pessoas afetadas pelo transtorno.
“Sou nadadora desde pequena, então resolvi pesquisar essa atividade e descobri que ela tem vários benefícios tanto físicos quanto neurológicos. Além disso, durante a gestação, a natação é vantajosa por ser um exercício de baixo impacto, o que é importante considerando o aumento de peso da barriga da gestante. Partindo desses conhecimentos descritos na literatura, minha pesquisa de doutorado mostrou que essa atividade física também melhora a memória, a coordenação, além de influenciar no desenvolvimento encefálico do feto durante a gravidez e após o nascimento”, explicou Andréa.
A ideia inicial dos pesquisadores foi verificar algum tipo de tratamento não medicamentoso para o TDAH.
“Embora esses medicamentos ajudem na qualidade de vida em até 70% dos casos, ainda apresentam efeitos colaterais. Meu interesse por esse tema começou durante meu TCC, e, a partir disso, decidimos verificar se a natação poderia ajudar no TDAH”, contou Andréa.
“O TDAH é caracterizado por um atraso no desenvolvimento do encéfalo, parte do cérebro que só termina de se desenvolver por volta dos 20-25 anos de idade.
"Portanto, fizemos uma intervenção durante o período gestacional, utilizando o exercício físico para liberar substâncias benéficas, como o BDNF e a irisina, que ajudam na proliferação e funcionalidade do cérebro do feto”, comentou Pablo.
O experimento se desenvolveu através de testes comportamentais nos filhotes dos ratos cujas mães nadaram durante a gestação. “Nessa pesquisa utilizamos o rato espontaneamente hipertenso (SHR), modelo de animal mais usado para os estudos experimentais sobre o TDAH.
Nossa hipótese era que o nado gestacional pudesse reverter prejuízos de neurodesenvolvimento e promover neuroproteção à prole.
A partir daí, avaliamos reflexos e comportamentos relacionados ao TDAH na prole, como hiperatividade e impulsividade”, explicou Tosta.
Os cientistas aplicaram ferramentas matemáticas para analisar as diferenças estatisticamente significativas, mesmo com variações biológicas, além de técnicas bioquímicas, para analisar marcadores no cérebro dos filhotes.
“Assim, conseguimos observar que a natação gestacional trouxe benefícios para a prole desse grupo que foram capazes de torná-los comparáveis aos ratos sem TDAH.”, destacou a pesquisadora.
O professor Pablo acrescentou que os ratos utilizados na pesquisa são isogênicos, ou seja, geneticamente idênticos, como gêmeos.
“Embora tenham o mesmo genótipo, fatores ambientais também influenciam o comportamento.
"Portanto, é difícil determinar o tratamento mais adequado, seja no processo de pesquisa experimental com os animais ou como acontece com os seres humanos, pois cada indivíduo pode responder de maneira diferente às intervenções e tratamentos”.
Os doutores apontaram que os resultados mostraram que os filhotes das mães que nadaram apresentaram melhores reflexos e comportamentos menos impulsivos.
Além disso, técnicas bioquímicas confirmaram mudanças positivas nos marcadores cerebrais desses filhotes.
Andréa destacou ainda que, em se tratando do TDAH, cada caso é único, sendo necessários mais desdobramentos e estudos clínicos para o aprofundamento nos benefícios encontrados pela pesquisa.