Parque vive momentos de pânico durante atentado aos transportes no Rio
A TRIBUNA conversou com o diretor do parque Arca do Noah, que explicou todos os detalhes da situação que deixaram crianças e outras pessoas presas no local
Parque vive momentos de pânico durante atentado aos transportes no Rio
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Por: Gabriel Ferreira Data da Publicação: 24 de Outubro de 2023FacebookTwitterInstagram
Foto: Divulgação

Cerca de 60 alunos da Associação Educacional Garriga de Menezes, em Jacarepaguá, ficaram ilhados em um parque ambiental em Guaratiba, na zona oeste da capital fluminense. O caso aconteceu na última segunda-feira (23), mesma data onde também teria acontecido o assassinato de Matheus Fernandes, o Faustão, e os ataques aos transportes públicos, respectivamente.

A TRIBUNA conversou com o Pedro Heliodoro, que é diretor-administrativo do Parque Arca do Noah, onde as crianças, na faixa dos cinco anos, estavam. Ele conta que recebeu normalmente o grupo para visitação e só soube dos ataques aos transportes públicos durante o evento. "Estávamos recebendo esse grupo de crianças e aí começamos a saber que estavam acontecendo esses atentados. A nossa unidade de conservação fica as estações do BRT do Magarça e do Pingo d'Agua, e com isso, ficamos sabendo primeiro que os ônibus do Magarça haviam sido incendiados. E a partir desse momento, seguimos com a programação, pois a saída estava livre", afirmou.

O diretor disse ainda que só tomou uma atitude quando soube da amplitude dos fatos e do incêndio na estação do BRT em Pingo d'agua, que dá acesso a Santa Cruz em direção à Jacarepaguá, de onde a escola vinha. "A internet aqui do parque é bem ruim, então as notícias sobre os atentados estavam chegando de maneira muito vagarosa e ao chegar perto das 16h, que seria o horário de saída do grupo, decidimos em conjunto com a escola e a empresa responsável pelo transporte das crianças que seria melhor adiar a liberação delas, nós entendemos que havia muita coisa acontecendo lá fora e isso certamente poderia dificultar a saída do grupo do parque", completou Pedro, que solicitou informações aos funcionários que moravam mais próximos da unidade de conservação.

Preparo sobre os atentados:

Veículo incendiado a altura da estação do BRT do Magarça, na Zona Oeste - Foto: Redes Sociais

A nossa reportagem, Pedro disse que evitou passar informações sobre o problema lá fora para as crianças e protegê-las de todos os riscos como insetos, presentes em alguns pontos do parque e a questão da alimentação. "Eu e a equipe que estávamos trabalhando no parque procuramos ter a sensibilidade de não passar o problema para as crianças, teve um momento que elas começaram a perguntar pela demora de ir embora, e explicamos que elas estavam ali por conta de uma manutenção dos dois ônibus que as levaram. O nosso intuito era fazer com que as crianças não ficassem preocupadas, dando uma leveza a situação, por meio das recreações que seguiram acontecendo. A nossa preocupação era também com a alimentação dessas crianças, uma vez que a última refeição havia sido os lanches que elas haviam trazido de casa, então procuramos oferecer algumas frutas para que essas crianças pudessem se alimentar, uma vez que os comércios ao entorno já estavam fechados", ressaltou.

O diretor disse que muitos pais estavam ligando para a unidade de conservação para saber como as crianças estavam. "Muitos pais estavam ligando aqui para o parque, ligando para a escola, para a equipe da escola que estavam acompanhando as crianças e em meio a situação, sempre procurávamos passar uma tranquilidade a esses pais. Por meio dessas comunicações com as famílias, descobrimos que um dos pais era um coronel da PM e que talvez ele conseguisse uma escolta para liberar esse grupo. Essa escolta acabou demorando um pouco a chegar, por volta das 20h, justamente por conta do mapeamento da rota. Nesse caso, eles vieram pela rota que seria para voltar em direção a Santa Cruz, com o intuito de proteger as crianças e chegando aqui no parque, foi uma tranquilidade geral, principalmente com as informações externas", relatou.

Pedro disse ainda que o fato de trabalhar com animais acabou tranquilizando a sua saúde mental dele e a dos funcionários que atuam na unidade de conservação. "Esse trabalho com animais tem animais tem muitas emergências e isso acaba criando na gente uma certa resistência, é um problema, mas não é uma questão de vida ou morte, temos profissionais que sabem lidar bem com a situação e o fato de lidar com crianças acaba trazendo essa responsabilidade pra gente, mas é aquilo nenhum passeio é igual ao outro, ninguém se desesperou, cogitamos até de pernoitar pelo parque caso a situação não se resolvesse, e veio a preocupação de alimentação, higiene com as crianças, e nós somos um espaço que precisamos estar preparados para situações como essa", afirmou.

Funcionamento para os próximos dias:

Fachada do parque ambiental - Foto: Divulgação

O diretor afirmou que a agenda de visitação conta com outras visitações de escolas até o final do mês. "Estamos com a agenda cheia de outras escolas que pretendem nos visitar e estamos conversando com essas escolas até mesmo por uma questão de segurança, pois a nossa intenção não é tirar ninguém do seu conforto e vir se arriscar enquanto a situação do lado de fora estiver ruim", reafirmou Pedro que disse que precisou cancelar os agendamentos para esta terça-feira.

A TRIBUNA tentou contato com a direção da Associação Educacional Garriga de Menezes, mas obtemos retorno.

Entenda o caso:

Faustão foi assassinado na última segunda-feira em comunidade do Rio - Foto: Redes Sociais

Matheus da Silva Rezende, de 24 anos, sobrinho do miliciano Zinho, morreu após ser baleado, na última segunda-feira (23), em uma troca de tiros com a Polícia Civil, na comunidade Três Pontes, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio. Faustão, era apontado como o número 2 na hierarquia da milícia da região, e era investigado por 20 mortes.

Devido a morte do traficante, diversos ônibus foram queimados em pontos da Zona Oeste por conta de protestos. O BRT interrompeu o trânsito no corredor Transoeste por conta dos incêndios.

Na tarde desta terça-feira (24), o Batalhão de Choque reforçou a segurança nos arredores do Cemitério Jardim da Saudade, em Paciência, na zona oeste do Rio de Janeiro, local onde ocorreu o sepultamento de Faustão. Segundo informações, existia o temor de novas manifestações na região.

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