Assinante
Eu era padre ainda jovem, quando um padre da paróquia me contou que alguns judeus haviam visitado a sua igreja anterior: disse que entraram cerimoniosos, conferiram cada detalhe e fizeram perguntas. Numa delas, quiseram saber o que significava aquela pequena luz acesa sobre uma caixa dourada?
Atenciosamente, ele respondeu que, para os católicos, ali se encontrava a Presença Real de Deus chamada de Santíssimo Sacramento. Tudo assim mesmo, sem vírgula nem ponto.
Um dos visitantes arregalou os olhos e perguntou: O Sr. está me dizendo que Deus, em pessoa, habita este lugar? Diante da resposta afirmativa, ele concluiu: Padre, se eu tivesse essa fé, teria de entrar aqui de gatinhas, me arrastando pelo chão.
Em Israel, disse ele, na primeira aula de religião, as crianças são apresentadas ao Tetragrama Sagrado – YAWÉ. Então, elas tapam a boca, tapam os olhos, se inclinam e tocam o chão com a testa. E assim permanecem, até que o professor tenha avisado que o Nome Sagrado não se encontrava mais ali.
É sério isso!
Hoje, desfila-se nas igrejas, mascando chicletes e fazendo bola, como num salão qualquer. Será que isso não banaliza o espaço sagrado?
O pensamento religioso atual produz uma coletânea de banalidades. No meio dessa incongruência de desautorizações, deve haver algum grande perdedor, banalizado nas notas de dinheiro ou em caixas de fast-food onde já li horrorizado: “Deus é o dono do nosso negócio”. Quase perguntei se poderia pagar direto para Ele?
É o quadro ou a parede que está torta?
Queremos Deus ou queremos o que Ele nos venha trazer?
Quem sabe não estaria na hora para, nem que fosse supor entrar “de gatinhas”, ou, pelo menos, não mascar chiclete nem transformar o momento sagrado numa banalidade social qualquer?
Se o Sagrado foi banalizado, quem sabe, algo precisamos fazer!
Dom José Francisco Rezende é arcebispo da Arquidiocese de Niterói.
Foi ordenado sacerdote no dia 10 de novembro de 1979. Especializou-se em teologia espiritual pelo Pontifício Instituto Teresianum, de Roma (1987-1989). Em 2011, o Papa Bento XVI o nomeou arcebispo da Arquidiocese de Niterói. Dom José recebeu o pálio das mãos do próprio Papa.