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Em todo conflito humano, a religião exerce um papel, declarada ou silenciosamente, mas sempre presente.
Onde quer que apareça, todo conflito apenas desnuda o quanto somos divididos dentro de nós mesmos. Por isso, um dos grandes papeis exercidos pela religião é um religare: um ligar de novo daquilo que a vida e a história se ocuparam em separar.
Nesse sentido existencial, religião é o estado em que somos colocados em atenção suprema com aquilo que deveria ocupar todo nosso ser: Deus e sua presença restauradora em nossos desatinos.
O cristianismo faz desse papel restaurador uma das razões maiores de sua atuação: o de criar uma realidade nova nas condições da combalida situação humana.
Jesus, mesmo, esteve sujeito a essas condições: angústia, tragédia, conflitos e morte. Ele conheceu no corpo e na alma tudo que passamos.
Mas, vitoriosamente, manteve a unidade com o Pai, sacrificando-se como Jesus e ressuscitando como o Cristo. A nova realidade comunitária, histórica e existencial, chamada Igreja, nasceu e nasce permanentemente desse proceder.
Na visão desse caráter existencial desaparece a separação entre o sagrado e o secular, há séculos cultivado na palma-da-mão do mundo, sempre desinteressado em que as realidades maiores se unam, colocando em xeque mate o seu despotismo.
Foi para colocar um freio nessas aderências do mundo que a religião procurou um estado em que sejamos tomados apenas pela preocupação suprema, jamais restrita a determinado âmbito.
Qual?
A de que o universo seja realmente o santuário de Deus. Que cada dia de trabalho seja do Senhor, cada ceia, a Ceia do Senhor, cada tarefa humana concluída seja divina. Tudo isso porque cada alegria nossa já é a alegria de Deus.
“Na real”: não há separação entre o sagrado e o secular, a não ser aquela que nós mesmos promovemos.