Musical abre a vida de Ney Matogrosso, da infância até hoje
A formação e a briga com o Secos e Molhados, Cazuza, e a Aids são destaques na trajetória de Ney Matogrosso
Musical abre a vida de Ney Matogrosso, da infância até hoje
Foto do autor Gabriel Ferreira Gabriel Ferreira
Por: Gabriel Ferreira Data da Publicação: 20 de Outubro de 2023FacebookTwitterInstagram
Foto: Adriano Dória

O bem-sucedido musical “Ney Matogrosso – Homem com H” desembarca no Rio de Janeiro neste final de semana para uma curta temporada no Teatro Riachuelo, no centro da capital fluminense.

Escrita por Emílio Boechat e Marília Toledo, vencedora do prêmio Bibi Ferreira, e que também assina a direção do musical junto com Fernanda Chamma, o musical conta com a versatilidade de Renan Mattos, responsável por interpretar Ney Matogrosso no musical. Além disso, a produção faz um passeio na trajetória do artista e explora momentos e canções marcantes de sua trajetória sem seguir necessariamente uma ordem cronológica.

A TRIBUNA conversou com a diretora Marília Toledo, uma das diretoras do espetáculo que promete encantar o público.

A TRIBUNA: Como surgiu a ideia de realizar um musical contando a história de Ney Matogrosso?

MARÍLIA: Os meus sócios da Paris Filmes (produtora responsável pelo musical), a Márcia Fraccaroli e o Sandro Adamiu tinha os direitos de fazer do Ney Matogrosso para realizar um longa-metragem e quando eles me contaram, eu automaticamente solicitei que eles estendessem os direitos para o teatro, pois eu tinha certeza que seria um musical incrível, porque as músicas que ele (Ney Matogrosso) interpreta são maravilhosas, ele tem uma história de vida potente e sem contar que ele tem uma performance em cena, no palco, que são maravilhosos, os figurinos em si, a iluminação, a composição cênica percebi que também poderia ser aproveitada para o teatro, então toda a ideia nasceu dessa maneira.

A TRIBUNA: Como foi o processo de escolha do elenco? Aí, aproveito para perguntar sobre a escolha do ator protagonista que irá interpretar o Ney, quais foram os requisitos que levaram a sua escolha?

MARÍLIA: Todo o nosso elenco foi escolhido por meio de audições. Para o nosso ator Ney Matogrosso, nós procuramos tenores e contratenores, com características físicas próximas do Ney, e aí foi um processo longo, a gente primeiro escutou os atores cantando, o canto era decisivo e eliminatório, os cantores com timbres mais próximos do Ney e que alcançassem as notas do Ney passaram por uma pré-seleção, e depois disso, entraram as outras etapas de escolha que foram as danças e interpretação, e o Renan Mattos (protagonista do musical e ator que interpreta o Ney) foi o que mais se aproximou. A gente entendeu que ele todos esses pré-requisitos, como também, o espírito livre parecido com o do Ney; é uma história de vida em alguns pontos muito parecida com a do Ney, então a gente optou pelo Renan, e depois surgiu o Bruno Boer, que não foi por processo de audição como os outros. Ele estava fazendo um outro espetáculo no momento que estamos realizando as audições, e como precisávamos de um cover, fomos atrás do Bruno, pois já conhecíamos o trabalho dele e sabíamos que ele poderia ser um excelente alternante para o Ney Matogrosso no musical.

A TRIBUNA: Sabemos que o Ney tem uma imensa trajetória artística e cultural. Ele tem 82 anos e apresenta um vigor de 30 anos, o que certamente causa muita inveja, no bom sentido. Pergunto, qual foi o recorte que o musical conseguiu trabalhar e o porquê da escolha?

MARÍLIA: A gente começa o musical com uma situação que o Ney viveu no show do “Secos e Molhados” quando uma pessoa da plateia chamou ele de v...., em seguida, ele mandou parar a banda e mandou a pessoa da plateia ir tomar no c*, então a gente começa com essa cena e depois partirmos para um flashback da infância do Ney lá no Mato Grosso, onde é possível ver todo o conflito que ele viveu com o pai, um militar bastante homofóbico, que trouxe bastante tensão para a vida do Ney quando criança e adolescente. E daí, a gente vai contando todo o percurso do Ney que foi prestar serviço militar no Rio de Janeiro, e de lá do Rio, ele reencontrou uma madrinha e os filhos dessa madrinha que levaram ele para Brasília. Em Brasília, ele trabalhou em um hospital de base durante um tempo, e aí ele começou aulas de teatro e de canto em um conjunto, o grupo Missão. E lá, ele ficou bastante tempo cantando com o grupo, e depois disso, partiu para o Rio de Janeiro tentar ser ator. Conheceu a Luhli que foi uma figura fundamental, e apresentou ele para o João Ricardo e o Gerson que são do Secos e Molhados. E com isso, a gente conta toda a trajetória, desde a briga com os Secos, o início da trajetória do Ney, e aí gente passa pelas mortes do Cazuza e do Marco de Maria, que era parceiro do Ney no momento que tinha acabado de se relacionar com o Cazuza, e por esse período muito duro que o Ney viveu da Aids, doença que fez ele perder muitos amigos, pessoas próximas e a gente vai até o momento que o Ney faz o show com o Cartola. Esse é o nosso recorte, e a gente entendeu que era uma maneira muito bacana de retratar a trajetória do Ney, e para finalizar, no show do Cartola a gente termina com “O Sol Nascerá” que a gente considera uma maneira linda de terminar, pois se trata de uma pessoa viva, então é uma maneira leve e bonita de terminar essa bela história.

Ney e seu pai tinham uma relação muito conturbada - Foto: Adriano Dória

A TRIBUNA: Além do Ney, quais são os personagens que prometem cativar o público?

MARÍLIA: Os personagens mais conhecidos que a gente temno musical, além do Ney, são a Rita Lee e o Cazuza. A gente tem também o Vicente Pereira, que era um dos melhores amigos do Ney, uma figura essencial para o teatro brasileiro, o Mauro Rasi que aparece brevemente na dramaturgia, tem uma contribuição importante dramatúrgica importante para o Brasil, a Luhli que foi uma figura importante, teve uma trajetória artística muito potente e fundamental para a história do Ney. Ela, inclusive, era muito curiosa, engraçada, divertida e esotérica, então o público gosta também da Luhli, e ainda temos, o João Ricardo e Gérson Conrad dos Secos e Molhados, e é isso essas figuras mais importantes do musical.

A TRIBUNA: Os figurinos são uma característica a parte na trajetória de Ney Matogrosso. Como foi para reproduzir os adereços? O Ney teve participação direta na produção do musical?

MARÍLIA: O Ney participou sim, bastante aliás, da composição dos figurinos trazendo muita informação muita informação para gente. Hoje, os figurinos do Ney estão no SENAC em São Paulo, na escola de moda e a gente entrou em contato com eles e fomos eu (Marília Toledo), Fernanda Chamma, Daniela Stirbulov, nós três diretoras e a nossa estilista, a Michelly X, conhecer esse acervo, e com isso, entramos em contato com muito desses figurinos originais e os que a gente não tinha (figurinos), conseguimos pegar bastante informação para ter uma fidelidade , sem contar também que recorremos aos acervos fotográficos para compor as reproduções dos figurinos. Inclusive, o figurino do final do musical é uma criação nossa, da estilista Michelly X, uma livre criação com o estilo dela.

Figurino de Ney durante apresentação da banda Secos e Molhados, na qual ele integrava -  Foto: Adriano Dória

A TRIBUNA: O musical já teve passagens por outras cidades do Brasil. Qual foi a média de público até o momento e o que o público ainda pretende assistir, pode esperar da produção?

MARÍLIA: Na verdade, só o musical Ney Matogrosso mesmo em São Paulo. Fizemos diversas temporadas, todas com lotação. As duas primeiras foram no 033 Roftop (casa de shows localizada no bairro da Vila Olimpia, em São Paulo), depois fizemos duas temporadas no Procópio Ferreira (teatro na Rua Augusta, também em São Paulo) e uma temporada no Opus Frei Caneca (teatro no bairro da Consolação, em São Paulo. Todas as nossas apresentações estiveram lotadas, estão fazendo o musical faz pouco mais de um ano, estamos encaminhando para quase um ano e meio de projeto e sempre muito bem recebido. E agora, vamos ver como vai ser no Rio de Janeiro e depois no Nordeste, para o espetáculo segue em seguida.

Vale lembrar que o musical “Ney Matogrosso - Homem com H” estará em cartaz no Teatro Riachuelo até este sábado (21). O Teatro Riachuelo fica na Rua do Passeio, 38/40- Centro, Rio de Janeiro.

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