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Por Luiz Antonio Mello
A lâmpada apagou de repente.
No fim da tarde de quarta-feira (11) recebi um whatsapp que era boato, como 500% dos whatsapps que me chegam.
Aquilo é um brejo de notícias difamatórias habitado por iletrados e imbecis de uma maneira geral. O borrão digital dizia que Johnny Depp havia morrido.
Fui checar na mídia profissional (é uma obrigação do jornalista checar, rechecar) e 15 minutos depois veio a bomba.
Jeff Beck tinha morrido e não Johnny Depp.
Movidos a ignorância, os boateiros e detratores confundiram porque os dois eram amigos e estavam tocando juntos.
A morte de Jeff Beck foi um coice. Inglês, ele tinha 78 anos, estava ótimo, em plena atividade, mas contraiu meningite bacteriana que o matou em poucos dias.
A doença provoca uma inflamação das meninges, as membranas que envolvem o encéfalo (cérebro, bulbo, cerebelo e a medula espinhal), causada pela presença de bactérias.
A transmissão ocorre de pessoa para pessoa por meio de gotículas e secreções do nariz e da garganta expelidas durante a fala, espirro ou tosse.
Fiquei mal, meio sem saber o que fazer na ilusão de que poderia voltar o filme, agir, quando na verdade somos todos eunucos diante da implacável dama de preto, com uma foice na mão, que mete a mão na maçaneta e entra.
Sem pedir licença.
Se o leitor nunca ouviu falar em Jeff Beck, é absolutamente normal. Guitarrista, compositor, produtor, arranjador, sua música revolucionária, atípica, rock vigoroso que visitava o blues, o jazz, a soul music, nunca tocou nas rádios populares brasileiras por um motivo bizarro.
As rádios populares não tocam músicas com muita guitarra porque acham (baseados em chongas) que elas irritam os ouvintes.
Da mesma forma que, no passado, não colocavam locutoras mulheres no ar por achar, também baseados na debilidade profissional, que elas provocavam ciúmes nas ouvintes mulheres, que, irritadas, trocavam de emissora.
A boçalidade tombou em 1982 quando a Rádio Fluminense FM foi inaugurada com locução exclusivamente de mulheres, um sucesso nacional e abriu a porteira. Hoje, mulheres falam em praticamente todas as rádios.
Apesar de degredado pela grande mídia de Pindorama, Jeff Beck tinha uma grande legião de fãs por aqui, que superlotavam os seus shows.
Fãs da sua guitarra visceral, honesta, forte, volume ensurdecedor, tocada com o dedo polegar e não com paleta.
Fazia todos os efeitos sonoros com os dedos e com a alavanca de vibrato da própria guitarra e pedais, aproveitando também a saturação dos amplificadores em alto volume. Nunca usou computadores e similares.
Vale muito à pena assistir, grátis, no YouTube ao show Jeff Beck live at Ronnie Scott"s, elegante e lendário clube de jazz fundado em Londres em 1959.
Quando assisti no Rio, há tempos, sentado lá na frente, me vi diante de um recital de guitarra movido a emoções, improvisos brilhantes, energia mais do que elétrica.
Há uma lenda urbana que diz que ninguém é insubstituível. Erro. Jeff Beck é um deles. Eu ouvi. Eu vi.
Ele foi um cavalheiro da "santíssima trindade" da guitarra britânica da segunda metade dos anos 1960.
Jeff Beck, Jimmy Page e Eric Clapton foram os melhores do Ocidente e tocaram no Yardbirds. Com a saída de Beck e Clapton, o Yardbirds sob o comando de Page virou The New Yardbirds e logo depois o Led Zeppelin.
De 1967 até o ano passado, Beck gravou 27 álbuns: The GTO"s (1967); Truth (1968); Beck-Ola (Cosa Nostra) (1969) - The Jeff Beck Group; Rough and Ready (1971) - The Jeff Beck Group; Jeff Beck Group (1972) - The Jeff Beck Group; Beck Bogert Appice (1973); Live In Japan (1974 - somente no Japão); Blow by Blow (1975); Wired (1976); Jeff Beck With the Jan Hammer Group Live (1977); There and Back (1980); Flash (1985); Jeff Beck"s Guitar Shop (1989); Beckology (1991, coletânea); Frankie"s House (1992); Crazy Legs (1993); Best of Beck(1995); Who Else! (1999); You Had It Coming (2001); Jeff (2003); Emotion & Commotion(2010); Rock N" Roll Party (2011); Loud Hailer (2016);
Álbuns colaborativos - Beck, Bogert & Appice - Beck, Bogert & Appice (1973); Frankie"s House - Jed Leiber (1992); Crazy Legs - Big Town Playboys (1993); 18 - Johnny Depp (2022).
O músico estava fazendo uma turnê com o ator e também músico Johnny Depp, que está destruído, inconsolável com a morte do amigo.
Depp não saiu de perto de Jeff nos dias finais.
Os dois se conheceram em 2016, quando, depois de um longo papo sobre "carros e guitarras" (são colecionadores), Beck confessou a Depp apreciar suas habilidades de composição e "seu ouvido para a música."
Durante o longo processo judicial de Depp contra a ex-esposa, a também atriz Amber Heard, Jeff Beck o apoiou publicamente, chegando a tocar com ele em shows e a participar de um de seus discos.
A duplo gravou o álbum "18", anunciado e lançado ano passado logo depois de Depp vencer o processo de difamação movido por Heard.
Com 13 faixas, a produção serviu para o ator retomar a carreira após o julgamento e alfinetar a ex-mulher. Na época, Heard havia sido sentenciada pelo juiz a pagar uma indenização de US$ 15 milhões, cerca de R$ 71 milhões, ao ex-marido.
O último show de Beck e Depp foi no dia 12 de novembro (há dois meses), no Grand Sierra Resort em Reno, no estado americano de Nevada.
No repertório, alguns covers gravados pelos dois no álbum 18, e também alguns sucessos do guitarrista, que abriu a apresentação com a instrumental Freeway Jam e trouxe Loose Cannon na sequência.
Death and Resurrection Show (Show da morte e ressureição), da banda Killing Joke, foi a última música tocada por Jeff Beck num palco. Cerca de 2,5 mil pessoas presenciaram a apresentação histórica que, na verdade, foi uma despedida.
No mais, sem palavras.
Perdemos Elton Furrier, fundador do Steak House
Outra perda lamentável foi a de Elton Furrier, cofundador do antológico restaurante e bar Steak House.
Ele morreu aos 76 anos, vítima de ataque cardíaco, na madrugada de quarta-feira (11), em sua cidade natal, Pouso Alegre, Minas.
O Steak House, funcionava desde 1976 na rua Gavião Peixoto ao lado do edifício Center IV, em Icaraí.
Não fechava antes das 5 horas da manhã, servia um chope antológico, carnes e saladas que matavam a fome da boemia.
O último a deixar o local, com o dia já claro, era Elton. De calção, tênis e camiseta, ele saia para correr. Foi um dos primeiros a praticar o cooper em Niterói e só dia dormir após correr seus 15 quilômetros diários.
Ele não bebia álcool nem refrigerante e não fumava. Corria maratonas.
Ele foi o que chamamos de gente muito boa, daí o choque que a sua morte provocou na cidade que ele amou e a ela dedicou mais de 40 anos à frente do Steak House.
Um grande cara, meu chapa, que, espero, não será esquecido.
Pessoas nas ruas
Impressionante a quantidade de reclamações de moradores da Zona Sul sobre o aumento da população de rua, ou melhor, de pessoas em situação de rua em Icaraí, Ingá, São Francisco, Santa Rosa.
O que mais revolta a todos é o uso de crianças, algumas de 2 anos, para pedir esmolas. E são muitos os pequenos.
Em geral os grupos se concentram nas imediações de supermercados, padarias, bares, em frente a agências bancárias (caso do Banco do Brasil na presidente Backer), mas a maioria não mora nas ruas. A noite vão embora e só retornam no dia seguinte.
A Ascom da Prefeitura de Niterói enviou um press release informando que a Secretaria Municipal de Assistência Social e Economia Solidária (SMASES), composta por assistentes sociais e técnicos, atua de forma ininterrupta nas ações de abordagem social especializada com rondas preventivas nas regiões de maior concentração de pessoas em situação de rua. (...) A SMASES trabalha na sensibilização e convencimento da população em situação de vulnerabilidade social, já que a legislação brasileira não permite o acolhimento compulsório. É fundamental que pessoa precise e queira aceitar ir para um dos equipamentos oferecidos pelo governo municipal.
Serviço de abordagem à população em situação de rua pode ser acionado pelos telefones: (21) 97197-9366 (diurno) ou (21) 97287-3643 (noturno).