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A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu dois importantes operadores financeiros e logísticos de facções criminosas que atuavam no tráfico interestadual de armas e drogas. A ação, batizada de Operação Bella Ciao, foi realizada nesta quinta-feira (3) pela Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD), com alvos no Rio e em São Paulo.
Segundo a investigação, o grupo atuava como um "consórcio" entre o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), com foco no abastecimento do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. A estrutura criminosa movimentou mais de R$ 250 milhões em atividades ilegais.
Os presos são Ana Lúcia Ferreira, capturada em Taubaté (SP), e Gustavo Miranda de Jesus, detido na Pavuna, Zona Norte do Rio. Ana Lúcia é ex-mulher de Elton Leonel da Silva, o Galã, antigo chefe do PCC, e teve um filho com outro membro da facção.
Ela é apontada como articuladora entre PCC e CV, usando suas conexões na fronteira com o Paraguai, em Ponta Porã (MS), para intermediar negociações e garantir o fluxo de drogas e armamentos.
De acordo com os investigadores, Ana assumia papel central na interlocução com fornecedores e chegou a treinar um sucessor: Luiz Eduardo Grego, o Cocão, atualmente foragido.
Já Gustavo Miranda era o operador financeiro de Fhillip da Silva Gregório, o Professor, considerado o maior fornecedor de armas e drogas do Comando Vermelho até ser morto com um tiro na cabeça há cerca de um mês.
Gustavo foi identificado após análise de movimentações bancárias, empresas de fachada e ações de lavagem de dinheiro — inclusive utilizando familiares, que já haviam sido presos anteriormente por emprestarem contas bancárias. Um dos negócios usados por ele para disfarçar a origem dos recursos seria um mercadinho quase inativo.
O delegado Vinícius Miranda, titular da DCOC-LD, explicou que a investigação começou com o monitoramento de “Professor” e foi ampliada a partir da análise de seu patrimônio e das movimentações financeiras da facção.
Os agentes chegaram a Gustavo como responsável direto pela engenharia financeira da organização, inclusive com eventos como bailes funk usados como fachada para lavagem.
Miranda também apontou que Ana Lúcia era peça-chave na engrenagem criminosa, articulando com fornecedores na fronteira e servindo como elo entre o Comando Vermelho e o PCC.
Já o delegado assistente Pedro Cassundé destacou que a operação foi desenhada para atingir o fluxo que abastece o tráfico no Rio de Janeiro a partir de outras regiões do país. O objetivo foi identificar e prender os operadores que atuavam como pontes entre os fornecedores e a liderança criminosa no Alemão.
A operação também cumpriu mandados de busca e apreensão para reunir mais provas e desarticular completamente a logística do grupo. A investigação utilizou interceptações de mensagens, relatórios financeiros, perícias técnicas e análise de estruturas empresariais fictícias.
O governador Cláudio Castro ressaltou que uma das estratégias prioritárias do governo é atingir o coração financeiro das facções.
“Uma das prioridades do nosso trabalho de combate ao crime organizado é sufocar financeiramente as organizações para enfraquecer o poder e reduzir a expansão das ações realizadas por essas quadrilhas. A Polícia Civil vem atuando com operações estratégicas e inteligência para capturar os criminosos e apreender armas e drogas”, afirmou.
O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, reforçou que o trabalho de inteligência vem expondo os esquemas de lavagem e abastecimento do crime organizado:
“Sistematicamente estamos expondo os mecanismos usados pelas facções criminosas para lavar dinheiro e garantir o abastecimento de armas e drogas. Esse trabalho é essencial para asfixiar financeiramente e enfraquecer os grupos criminosos”, declarou.
Com a prisão de Ana Lúcia e Gustavo Miranda, a Polícia Civil acredita ter dado um passo importante para desmontar uma das engrenagens mais sofisticadas de abastecimento do tráfico no estado. A investigação continua em andamento para capturar Cocão e identificar novos integrantes da rede criminosa.