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Já tivemos, sim, um Fusca anfíbio
Já tivemos, sim, um Fusca anfíbio
Foto do autor Luiz Antonio Mello Luiz Antonio Mello
Por: Luiz Antonio Mello Data da Publicação: 23 de novembro de 2024FacebookTwitterInstagram

Alguns especialistas dizem que muito em breve não serão mais produzidos automóveis como os de hoje.

Os elétricos já são uma revolução, tanto na mecânica como no design. Vamos ver. 

Carros eletrificados dependendo das Enel da vida...não sei, não.

Na minha opinião a indústria automobilística andou para trás ao abolir o motor refrigerado a ar do Fusca e do Porsche.

O motor, chamado boxer, continuou evoluindo na alemã Porsche (subsidiária da VW) até o modelo 993, produzido até 1998. E foi abolido.

O Porsche mais lendário de todos os tempos foi o 917, pilotado por Steve Macqueen no filme “24 horas de Le Mans”. 

Com motor refrigerado a ar, o 917 rendia impressionantes 580 cv, velocidade máxima de 340 km/h. Lembro que estamos falando de 1970, portanto, há 54 anos.

Steve Macqueen no Porsche 917, Le Mans, 1971

Assisti mais de 40 vezes no cinema e em casa em VHS e depois em DVD. O filme inteiro, sem legendas, está no YouTube, de graça. É só digitar “Le Mans 1971”.

Aqui, o trailer:

A produção do 917 K foi apenas de protótipos para competição, ele nunca teve uma versão de rua. 

Em janeiro do próximo ano o exemplar original pilotado por Steve Macqueen no filme, chassi 917-022,  com as cores azul e laranja da Gulf (gigante norte americana de combustíveis) vai ser leiloado na cidade de Kissimmee, na Florida, e a estimativa é que seja vendido por 30 milhões de dólares.

Há uns anos, o colega Jason Vogel contou a história de um Fusca anfíbio que, em dezembro de 1960, atravessou a Lagoa Rodrigo de Freitas.

Em sua matéria no Globo, Jason escreveu que, "descendo a rampa de barcos do Clube Caiçaras, com. o característico assobio de seu motor, o Fusquinha 1.200 vai abrindo alas entre os curiosos e, lentamente, mergulha na Lagoa Rodrigo de Freitas".

Vogel lembra que "ao volante estava Mauro Salles, então 'redator automobilístico' do GLOBO, onde trabalhou por 10 anos até se tornar diretor de redação, antes de se tornar um dos maiores publicitários do país". 

Segundo Jason, " o carrinho anfíbio fora preparado pelo Departamento de Testes da Volkswagen do Brasil. Inicialmente, o objetivo dos engenheiros era apenas estudar a vedação do Fusca mas, na falta de atração mais exótica, a cobaia foi levada ao estande da marca no primeiro Salão do Automóvel de São Paulo".

'O carro não tem objetivos comerciais e não se fabrica em série', ressaltava o texto publicado na edição de 15 de dezembro de 1960.

"Salles tratou de convencer Ehrardt Schmidt (chefe do Departamento de Testes da VW e principal executor do projeto) a navegar com o besouro na Lagoa. 

O carro veio de São Paulo ao Rio rodando normalmente pela Dutra. 

Parecia um Fusquinha como qualquer outro, não fosse a pequena hélice na traseira e os canos de escape voltados para cima, ladeando a vigia traseira".

O motor foi blindado numa caixa metálica e as vedações das portas foram aperfeiçoadas.

Por segurança, adaptou-se no porta-malas uma bomba para escoar água que porventura entrasse no compartimento do motor ou na cabine.

A característica plataforma do Fusca, toda fechada por baixo, não sofreu qualquer alteração. Também não foram usados flutuadores.

"O carro flutua bem, com dois passageiros e até três, com a linha d'água na base dos faróis dianteiros e na curva inferior dos para-lamas traseiros", relatou Salles na reportagem. 

"O carrinho navegou com naturalidade como se fosse um barco carregado. Mantive uma leve aceleração e a velocidade desenvolvida era de uns 10km/h. As rodas dianteiras agiram como leme, e foi possível manobrar em curvas de pequeno diâmetro. (...) Dirigi o tempo todo de sapatos e meias, e só os molhei quando, ao descer do sedan, pisei em uma poça de chuva".

O carro fez várias evoluções na Lagoa e "varou as marolas de uma lancha com mais conforto do que superaria qualquer buraco nas ruas do Rio".

Jason Vogel narra que "para gerar suspense, Salles (que não havia levado os remos de segurança) desligou e religou o motor duas vezes. Deu tudo certo"

"Seria preferível o naufrágio do que a desmoralização de um redator automobilístico que voltasse remando", concluiu o jornalista.

Se o Fusca anfíbio tivesse evoluído, gerando novas gerações, mais seguras e maiores, que tipo de impacto causaria na mobilidade do Rio e Niterói?

Fica a pergunta no ar.

 

 

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