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Um marco para o Brasil e para a comunicação faz 150 anos, neste sábado (22). O cabo de telégrafo, ligando Lisboa, em Portugal, a Recife, foi instalado.
Se, atualmente, a velocidade das informações está praticamente instantânea, em 1874, a situação era completamente diferente. As notícias podiam demorar dias, ou até meses, para serem conhecidas, principalmente as de fora do país. Com o telégrafo, as informações passaram a chegar com mais rapidez.
A Tribuna entrevistou Pedro Aguiar, professor de Jornalismo da Universidade Federal Fluminense (UFF), que lançou um site sobre os 150 anos do jornalismo de agências no Brasil. Curiosamente, a criação da primeira agência brasileira, a instalação do cabo e a primeira publicação de uma agência estrangeira, no Brasil, aconteceram em 1874.
“A instalação do cabo está no contexto de industrialização do Brasil. O primeiro empresário que ganhou a concessão foi o Barão de Mauá, em 1872. E ele sempre trabalhava com sócios, pra dividir os riscos. A instalação do cabo submarino, de um continente ao outro, era algo extremamente arriscado. Havia vários casos do cabo se romper, ou de algum animal partir o cabo. Aí, todo o processo tinha que ser repetido. Como o Mauá não conseguiu sócios, ele repassou a concessão a um escocês chamado John Pender, que tinha experiência na instalação de cabos submarinos”.
Pedro explicou que a instalação do cabo começou na praia de Carcavelos, nos arredores de Lisboa, passava por Cabo Verde, então colônia portuguesa, e rumava pro Recife. De acordo com o professor, o aparelho funcionou durante muito tempo e, enquanto o país foi dependente do telégrafo, a importância estratégica dele foi imensa.
Apesar da conexão com a Europa ter acontecido em 1874, o Brasil utilizava o serviço de telégrafos desde 1851. Quando a ligação Lisboa-Recife foi feita, o litoral brasileiro estava praticamente todo cabeado. Com a Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870, o serviço chegou ao Sul do país.
Mesmo ligando as cidades do Brasil e o país a outros continentes, o serviço telegráfico era muito caro. Por isso, era usado, majoritariamente, por pessoas muito ricas, principalmente banqueiros.
“Houve a influência do setor financeiro do Brasil, que queria essa comunicação em tempo real com os setores financeiros da Europa. Nesta época, boa parte dos bancos estrangeiros atuando no Brasil. Então, significava, na prática, ter a informação em tempo real do que estava acontecendo na Europa, como saber da Bolsa de Valores de Londres, de Paris ou na Alemanha. Saber a cotação do café também era importante, para a exportação do produtor”.
As primeiras linhas internas do Brasil eram, majoritariamente, estatais. Existia um órgão público chamado Repartição Geral dos Telégrafos (RGT). Com a Guerra do Paraguai, houve um impulso de expansão das linhas.
Num segundo movimento, na construção de ferrovias, existia uma obrigatoriedade, imposta pelo governo, para que as empresas que ganhavam as concessões também instalassem redes telegráficas. Neste caso, a expansão era feita com capital privado.
A linha telegráfica brasileira só foi completa no século XX. Pedro explicou que, na proclamação da República, em 1889, Mato Grosso, Goiás e o interior do Amazonas, por exemplo, só ficou sabendo do acontecimento meses depois.
Segundo o professor, a demora se deu pelo fato do Brasil ser um país subdesenvolvido, majoritariamente agrário e que concentrava as principais atividades no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ele ressaltou que o telégrafo deve ser visto como uma novidade da industrialização, que utilizava energia elétrica.
No entanto, Pedro contou um detalhe interessante. Antes do telégrafo elétrico, existia o telégrafo ótico, que eram torres com tábuas altas de madeira. As mensagens eram mandadas de acordo com a posição das tábuas.
A maioria dessas torres ficava no litoral. É por isso, que diversos lugares têm o nome de Praia, Pedra ou Morro do Telégrafo.
O serviço foi instalado com a vinda da família real portuguesa, em 1808. Dom João VI ordenou que as torres fossem construídas, para avisar sobre as embarcações que chegavam ao litoral do Rio de Janeiro.
Voltando ao telégrafo elétrico, a concessão de John Pender durou 80 anos. A popularização do serviço de telégrafos veio apenas com Getúlio Vargas.
O serviço de telegrama ainda é feito. Não mais por telégrafo, mas os Correios ainda realizam.