Assinante
O grupo SOS Pets RO, junto ao Rescue Day, está organizando a Manifestação SOS Panda para o próximo domingo, dia 8, às 8h30. O objetivo é pedir justiça por Panda. Estarão presentes vereadores, secretário da Regional da Região Oceânica, a presidente da Comissão de Proteção à Causa Animal da OAB, além de veterinários, protetores e amantes dos animais.
O manifestação vai acontecer na Praça dos Colibris, onde moradores fincaram uma cruz em homenagem ao cachorro, que é da raça american staffordshire terrier. Nela, eles colocaram fotos e penduraram a coleira de Panda.
Além disso, o criador do SOS Pets RO, Paulo Nunes, criou uma petição pública para que a Praça dos Colibris ganhe o nome de Praça do Panda. Ele está recolhendo assinaturas e vai enviá-la para a Câmara de Vereadores de Niterói. O projeto, segundo ele, tem apoio da Prefeitura de Niterói.
"A ideia é homenagear Panda e chamar a atenção da população sobre os cães e gatos abandonados e maltratados na cidade", diz Paulo.
Panda tinha três anos e levou um tiro na cabeça e um no corpo quando estava chegando na praça, após fugir acidentalmente de casa. Quem atirou foi a sargento da Polícia Militar Valéria Erlacher de Oliveira, 46 anos.
Em depoimento, ela contou que, por volta de 10h, passeava com uma labradora fêmea, com guia, próximo à Rua Trinta e Seis, quando foi surpreendida por um cachorro macho da raça pitbull solto na rua, sem guia, aparentemente sem nenhum responsável por perto.
Segundo ela, o animal estava em estado de excitação e agressivo, avançando nela e na cachorra. Valéria afirmou que não havendo outra alternativa para se desvencilhar do risco, foi obrigada a disparar com sua arma, uma pistola glock calibre 40.
A policial afirmou que, após os disparos, levou o animal para atendimento veterinário. Na clínica, foi informada de que ele veio a óbito. Logo depois, ela voltou à praça para recolher as capsulas que ficaram no local.
A Polícia Civil de Niterói finalizou, nesta quinta-feira (5), o inquérito sobre o caso. De acordo com o delegado titular da 81ª DP (Itaipu), Deoclécio Assis, a policial militar Valeria Erlacher de Oliveira, autora dos disparos, foi indiciada por maus-tratos contra cães e gatos.
"Embora não se tenha imagem do momento exato dos disparos, as imagens de Valéria logo após o ocorrido não demonstram comportamento de quem havia sido surpreendida com um, em tese, ataque de animal. O mesmo em relação à cadela que a mesma conduzia, que sai andando normalmente e com o rabo abanando, comportamento este compatível com o animal em ânimo calmo e alegre", diz o delegado, no inquérito.
"Como se não bastasse a testemunha..... ao perceber que o cão que fora abatido parecia perdido, passou a filmar o animal, andando logo atrás e bem próximo do mesmo, dizendo que o cão era dócil e que a havia cheirado, comportamento este incompatível com um cão que parte para o ataque ao ver estranhos", complementou o delegado, que destacou que vizinhos não ouviram latidos, rosnados e outras manifestações antes do cachorro ser baleado.
"Um cão quando está completamente em estado de excitação e agressivo, avançando contra terceiros, certamente emite latidos ou rosnados, manifestações estas não ouvidas por vizinhos que moram ao lado do acontecido", ressaltou Deoclécio Assis, que vai enviar o inquérito para o Ministério Público.
A tutora de Panda, que prefere não se identificar, disse já esperava pelo resultado do inquérito, porque já havia sido informada na delegacia.
"Eu já imaginava, porque quando nós fomos à delegacia para fazer a ocorrência, o inspetor falou que se a gente não desse o nosso termo, não íamos responder por nada, mas se a gente desse o termo, provavelmente iríamos responder por omissão de cautela", disse a tutora, esposa de Anderson.
"Eu não achei correto que se meu marido não respondesse, ela também não responderia. O nosso dever como tutores e como cidadãos também é dar o nosso termo de declaração, ainda que isso tenha consequências para gente", complementou.
"A gente já sabe como essas coisas são. Ele colocou a parte dele no inquérito. Quem vai definir o que vai responder é o juiz, não é ele (delegado). Então, vamos ter a oportunidade de nos defender, de apresentar nossa parte, nossa versão. Eu não vou me apavorar com isso. No momento certo a gente vai ter a oportunidade de se defender", finalizou.
Na 81ª DP (Itaipu), o tutor de Panda, o PM Anderson Freitas da Silva, tentou abrir ocorrência, mas a PM fez antes. Por isso, os agentes da Polícia Civil incluíram o depoimento dele no registro feito por ela. O caso foi registrado como fato atípico, e Valéria aparece como vítima.
Anderson contou que saiu de casa para trabalhar no domingo (24), às 16h. Quando voltou, duas horas depois, deu falta do animal. Foi nesse momento que ele reparou que o portão automático da residência estava aberto. Ele havia travado após o homem sair de casa.
Em seguida, Anderson saiu para procurar por Panda, além de postar nas redes sociais sobre o desaparecimento. Na segunda-feira (25), o casal saiu cedo, sem notícias. Às 10h20, ele soube que ocorreram dois disparos de arma de fogo perto de onde mora.
Às 11h, informaram a ele que um cachorro havia sido baleado e levado para a HVC Clínica Veterinária, localizada em Itaipú. Anderson ligou para a clínica e solicitou foto do animal ferido, vindo a descobrir que se tratava do Panda.
No depoimento, Anderson afirma que Panda era um cachorro dócil e não tinha histórico de agressividade, sendo criado no convívio com seus filhos. Ele foi adotado na semana semana de novembro, no Plaza Shopping, e conviveu com outros animais, inclusive nas ruas, clínica veterinária, na hospedagem antes da adoção e na feira de adoção. O delegado Deoclécio Assis, no entanto, indiciou Anderson por omissão de cautela na guarda ou condução de animais.
"Desde que ele chegou aqui, era super doce. Tenho três filhos, dois adolescentes e uma bebê de um ano e sete meses. Ele era muito dócil com ela. Raramente latia para as pessoas, porque de casa dá para ver a rua pela varanda e ele ficava lá. Podia passar cachorro que ele não latia. Era super doce com as visitas, não pulava em cima nem brincando. Só se brincasse com ele, ele brincava também. A gente jogava bolinha, ele trazia de volta. Se adaptou muito bem à nossa casa e era obediente. Zero agressivo", afirmou a tutora.
Além disso, o casal informou que Panda não é pitbull, e sim da raça american staffordshire terrier. A informação foi confirmada pela leitura da numeração dos dois chips dele e pelo certificado de registro. Portanto, ele não poderia estar incluso nas regras de segurança para a permanência e a circulação de animais ferozes em locais públicos estabelecidas pela lei estadual nº 4597, de 16 de setembro de 2005, uma vez que não oferece risco à sociedade.
Valéria Erlacher de Oliveira é lotada no 3º BPM (Méier), onde trabalha no serviço reservado (P2). Uma mulher que não quis se identificar disse que a PM ameaçou os cachorros dela, na semana passada, próximo onde Panda foi baleado.
"Tenho duas cachorras pequenas. Elas estavam há algum tempo agitadas e enfiam o focinho em uma fresta embaixo do portão. Descobri que ela (Valéria) botava a cachorra propositalmente no portão para morder o focinho da minha cachorra. Descobri depois do primeiro episódio que tive com ela", disse a mulher.
"Quando eu abri a garagem para sair de carro, minha cachorra pulou pela janela e andou por uns 10 metros. Quando meu marido foi buscá-la, a pessoa que matou o Panda olhou para ele e falou: ah, já é a terceira vez que eu vejo ela aqui na rua. Meu cachorro não gosta de outros cachorros. Ele ataca! Na próxima vez que eu ver ela aqui, eu vou soltar ele e mandar ele matar ela", lembrou a moradora, que foi tirar satisfação com a policial.
"Ela disse que eu não sabia quem ela era, com quem ela trabalhava, e que agora ela já sabia onde é que eu morava e qual era o meu carro. Que era mais fácil. Eu disse que a vida é uma via de mão dupla. Porque ela não sabe quem são as pessoas que ela ameaça também", complementou a mulher, que ouviu os disparos que atingiram Panda e acionou a polícia.
"Era um cachorro extremamente dócil e carinhoso. Da minha casa eu consegui ouvir o ranger da corrente do balanço. Tinha crianças, aparentemente, brincando na praça. E o cachorro não latiu. O cachorro não rosnou. O cachorro não fez nada. Ela matou ele de graça, por maldade, assim como ela ameaçou matar as minhas", afirmou a moradora, que esteve na delegacia e prestou depoimento.
"Ela ameaçou um vizinho da casa da frente. Ela colocava o cachorro dela para provocar ele por baixo do portão. Quando ele foi reclamar com ela, ela ameaçou ele e a família dele. Então, em um espaço de 50 metros, ela teve essas três questões. Ameaça comigo, com o vizinho e o assassinato do Panda", contou, indignada.
Vários moradores da região estão se mobilizando para coletar imagens das câmeras de segurança do local e encontrar testemunhas. No momento dos tiros, um vídeo mostra que três pessoas passavam pelo local. Uma delas estava filmando Panda antes dele ser baleado e mostrando o quanto ele era manso.
"Olha isso! Esse cachorro está me seguindo desde lá de casa. Eu acho que ele fugiu. É bonitão! Mansinho. Ele veio, me cheirou, aí ele vai pra lá, aí eu atravesso", diz ela no vídeo, antes do barulho dos disparos.
A jovem já foi identificada e prestou depoimento. Além disso, as outras duas mulheres que aparecem em um vídeo ainda não foram encontradas. E um motoboy que teria presenciado a cena também não foi localizado. A Polícia Civil já foi informada sobre essas testemunhas.
"Quero muito que a justiça seja feita, que ela se responsabilize, que responda, porque não é normal tirar a vida do cachorro de alguém. As crianças estão sentindo muito. Nós nos apegamos ao Panda. Ele era um cachorro maravilhoso. Tínhamos vários planos com ele, viajar, fazer as coisas dele, ter uma vida feliz, porque é um cachorro que estava ali para adoção. Mas, infelizmente, tudo isso aconteceu. Eu quero muito que ela seja punida", disse a tutora.
A Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que a Corregedoria Geral da Polícia Militar instaurou um procedimento apuratório para averiguar as circunstâncias do caso.
Durante a semana, protetores dos animais foram até as postagens das redes sociais do batalhão do Méier denunciar o caso. Foi através deles que o comandante da unidade, o tenente-coronel Wagner Luiz Ferreira Marques, ficou sabendo do caso. A reportagem do jornal A Tribuna tentou contato com ele, mas não houve retorno.
A reportagem do jornal A Tribuna entrou em contato com Valéria através dos números fornecidos no registro de ocorrência. Em um deles, uma pessoa afirmou não ser a Valéria. No outro, não houve resposta.