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Muita gente lembra de um dia nublado do final dos anos 1960, mar com violenta ressaca na Itapuca (entre Icaraí e Ingá) e bem longe, bem no fundo, depois de uma pedra chamada Segunda, um sujeito encarava o mar em pé num grande pedaço de madeira parecido com uma tábua de passar roupa.
Com ele no mar raivoso, estavam mais dois: Sassaruê e Jacy. Mas Giló, com G mesmo, apelido que virou nome de Ângelo Ribeiro, já mostrava sua alma de campeão e a coragem para encarar o mar sem desrespeitamá-lo.
Aliás, Mar Raivoso é nome de um filme de 1964, dirigido por Don Taylor, considerado o marco zero dos filmes de surfe.
Quando passou no cinema Icaraí, alguns anos depois, o que mais se via nas filas eram uns garotos com os cabelos parafinados que iam conferir a primeira geração de big wave riders, os surfistas de ondas gigantes.
O pedaço de madeira era uma prancha chamada de madeirite, feita de compensado naval com mais de três metros de comprimento.
Giló foi um dos pioneiros, também, nas pranchas feitas em fibra de vidro. Ele conheceu o shaper Coronel Parreira, fabricante das pranchas São Conrado.
Romarias de surfistas saíam de Niterói no final dos 60, pegavam a barca (não existia a ponte) e vários ônibus depois chegavam ao bairro de São Conrado, no Rio, onde ficava a fábrica do Coronel Parreira.
Giló acompanhava cada passo do processo de construção das pranchas, que com o passar do tempo foram diminuindo de tamanho. Duas, três, cinco quilhas, uma evolução que não para nunca.
Na dele, muito racional (deixa as emoções depois que surfa as ondas), Giló foi um dos pioneiros do surfe em Niterói e no Brasil e até hoje, com 70 anos, se dedica ao que mais gosta: domar ondas e descobrir novos picos, no Brasil e no exterior.
Além de atleta, lenda viva, ele é um bem sucedido empresário do setor que criou a rede de lojas que leva o seu nome.
"É mais que uma marca, ele diz com razão. Giló é uma ideologia, estilo de vida, saúde, surfe até as últimas consequências.
A rede de lojas parou no final dos anos 1990, mas permanece imortal na memória dos surfistas e apreciadores.
O sucesso começou em 1980 comercializando camisas, pranchas, bermudas e carteiras emborrachadas, toda uma linha surfwear.
A marca chegou a ter uma fábrica de quatro andares na Ponta DAreia, em Niterói.
Hoje, ele se dedica a uma produção orgânica, artesanal, mas 10 entre 10 surfistas ainda desejam os seus acessórios e pranchas.
Apaixonado pelo mar desde que nasceu, esse niteroiense continua surfando e dá aulas de natação nas academias Proquality, que tem uma loja que vende as roupas da sua marca.
Mas dia sim, outro também ele pega a prancha e cai no mar para surfar, sua razão de viver.