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Na última quarta-feira (15), a fusão entre os estados da Guanabara e do Rio de Janeiro completou 48 anos. Ainda na esteira de mais um aniversário dessa data histórica, que moldou o atual território fluminense, é importante relembrar dos atores políticos que ascenderam àquela ocasião. Lembrar quem foram os primeiros a administrar uma Niterói que acabara de perder o status de capital; o Rio de Janeiro, que se tornara capital do estado que leva seu nome; e o próprio estado unificado.
Conforme já citado na reportagem publicada na edição da última quarta-feira de A TRIBUNA, o vice-almirante Floriano Peixoto Faria Lima, falecido em 2011, foi o primeiro governador do novo Estado do Rio de Janeiro, agora unificado com a Guanabara. Floriano Peixoto Faria Lima nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 15 de novembro de 1917, filho de João Soares Lima, imigrante português que trabalhava no Arsenal de Marinha, e de Castorina Faria Lima.
Em 10 de setembro de 1974, portanto ainda em plena ditadura militar, foi anunciada oficialmente a indicação de Faria Lima para o cargo de governador do estado e, dois dias depois, o então presidente da República, Ernesto Geisel, enviou ao Senado Federal a mensagem da indicação. Empossado em 15 de março de 1975, conseguiu obter do governo federal o apoio financeiro para a realização da fusão. Antes de ser governador, Faria Lima ocupava a presidência da Petrobras.
Leonel Brizola foi o primeiro governador eleito pelo voto direto e tomou posse em 1983
Já a primeira eleição direta após a fusão aconteceu apenas em 1982, quando Leonel Brizola (PDT) superou uma suspeita de fraude que, teria sido orquestrada para prejudicá-lo, para se tornar o novo governador do Rio de Janeiro. Entre o final do mandato de Faria Lima, em 15 de março de 1979, e a posse de Brizola, em 15 de março de 1983, houve tempo para um mandato de Chagas Freitas (MDB), ex-governador da Guanabara, eleito indiretamente.
Niterói
Dessa forma, coube a Faria Lima indicar o primeiro prefeito de uma Niterói sem a chancela de capital estadual. Surpreendentemente, o novo prefeito de Niterói, que teria a missão de suceder a Ivan Fernandes de Barros (Arena), não era alguém que já tivesse rodagem em cargos do Poder Executivo. O nome escolhido foi o do engenheiro nuclear Ronaldo Arthur da Cruz Fabrício. Em entrevista ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), concedida em 2009, ele explicou como foi assumir um desafio tão incomum em sua carreira.
“Para ser prefeito de Niterói, governador? Pô, se você me convidasse para ser presidente da companhia de energia. Eu ainda podia entender, tem alguma coisa a ver comigo, mas prefeitura não tem nada que ver comigo. Eu vim dos Estados Unidos, fiz um curso de poluição nuclear. Aí, eu liguei para o almirante e disse: 'Almirante quem que deu essa ideia aí? Ele disse: 'Não, fui eu que te indiquei’”, contou Ronaldo Fabrício.
Mesmo julgando não ter a ver com o cargo, Ronaldo Fabrício assumiu o desafio. Pessoas que viveram em Niterói à época de seu mandato foram elogiosas e a maioria o avaliou como um gestor técnico e discreto. Entre as principais obras do mandato de Ronaldo Fabrício, entre 15 de março de 1975 e 31 de janeiro de 1977, estão a duplicação da Avenida Marquês do Paraná, no Centro, e o começo das obras do Túnel Raúl Veiga, que conecta os bairros de São Francisco e Icaraí, na Zona Sul.
Num quadro de bipartidarismo, em que o MDB representava a oposição possível, e a Aliança Renovadora Nacional (Arena) representava o governo, o estado da Guanabara vinha assistindo à ascensão de Antônio de Pádua Chagas Freitas, governador da Guanabara (1971 a 1975) e do Rio de Janeiro (1979 a 1983), e de seus seguidores emedebistas.
Após o fim do mandato de Chagas Freitas e nomeação de Faria Lima como governador do estado unificado, a cidade do Rio de Janeiro voltaria a ter um prefeito. O novo governador nomeou Marcos Tamoyo. Em sua gestão, reformou os hospitais Salgado Filho, Sousa Aguiar, Paulino Werneck e Miguel Couto, construiu a ligação Campo Grande-Santa Cruz, o Riocentro, o autódromo de Jacarepaguá e o Planetário, urbanizou a Cidade Nova, reformou o sistema de iluminação do Rio de Janeiro e a Quinta da Boa Vista, construiu a marina da Glória, urbanizou a lagoa Rodrigo de Freiras, entre outras obras.
Como os prefeitos na capital eram indicados pelo governador, durante a ditadura militar, os três prefeitos seguintes também foram alçados ao cargo da mesma maneira. Foram eles: Israel Klabin (MDB), Júlio Coutinho (PMDB), Jamil Haddad (PDT) e Marcello Alencar (PDT). Após o fim da ditadura, o primeiro prefeito eleito na capital, pelo voto direto, foi Saturnino Braga (PDT).
Em 1986, Saturnino se tornaria o primeiro prefeito eleito da cidade do Rio de Janeiro, conquistando o pleito com quase 40% dos votos válidos. Com a Prefeitura endividada, foi surpreendido por decisão do Banco Central que proibiu novos empréstimos, sendo obrigado a declarar a falência do município. Após quatro anos, retornou à política como vereador do Rio de Janeiro (1992-1996). Neste ano é convidado por Jorge Roberto Silveira, Prefeito de Niterói, para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Permaneceu no cargo até 1998, quando foi eleito novamente para o Senado, posto onde encerrou sua carreira política.