Evandro Mesquita fala sobre a carreira e novo álbum da Blitz
Em conversa exclusiva com A TRIBUNA, o vocalista da banda contou a trajetória do grupo e falou sobre a situação do Rio de Janeiro
Evandro Mesquita fala sobre a carreira e novo álbum da Blitz
Foto do autor João Eduardo Dutra João Eduardo Dutra
Por: João Eduardo Dutra Data da Publicação: 27 de Outubro de 2023FacebookTwitterInstagram
Fonte: Divulgação

Evandro Mesquita é um ator, cantor, compositor e fundador de uma das bandas mais aclamadas do Brasil, a Blitz. Fundado em 1982, o grupo tem mais de 80 músicas na bagagem, além de seis álbuns de estúdio e cinco de gravações ao vivo.

Em novembro de 2023, a banda vai lançar o seu mais novo álbum chamado de “Supernova” e a primeira faixa desse disco foi lançada na última terça-feira (17). Parceria de Evandro Mesquita e Ricardo Barreto, “O Lado Escuro da Rua” imprime a assinatura musical característica da Blitz, da letra ao arranjo, passando pelos vocais.

Originalmente, a canção foi feita em 1997, para o álbum “Línguas”, mas não chegou a ser lançada até esta semana.

Aproveitando o lançamento do single e o novo álbum que vai chegar em novembro, A TRIBUNA conversou com Evandro Mesquita sobre a nova produção da banda.

A TRIBUNA: São mais de 40 anos desde o lançamento do primeiro álbum da Blitz. Esse é o sétimo álbum de estúdio, o 12º contando os ao vivo. E o que mudou na produção desde o primeiro álbum, “As Aventuras da Blitz 1” (1982) até esse, “Supernova” (2023)?

EVANDRO MESQUITA: Caramba! Muitas coisas. Porque, no primeiro, a gente nunca tinha entrado num estúdio. Então foi uma brincadeira a sério, muito divertida e curiosa. Era naquela fase de fita. Então o cara passava gilete, botava a fita durex, emendava e a gente não sabia se ia dar certo. Aí saiu o primeiro disco. Já no segundo a gente já tinha mais experiência de estúdio, mas a relação entre a banda começou a ficar estranha. Porque banda é um casamento a sete, a dois já é difícil. Agora, nos tempos digitais, a gente tem essa brincadeira, essas possibilidades infinitas de trabalhar as músicas. E foi um disco feito na época da pandemia. A gente convidou amigos, tem participações ilustres nos trabalhos, nas canções, e as pessoas mandavam da própria casa, as partes, as gravações. Então é uma época totalmente diferente. E surpreendeu porque a gente acabou gravando cinco CDs.

Mistura de artistas e gêneros

A TRIBUNA: A Blitz sempre foi muito conhecida por misturar artistas e misturar gêneros. Tem alguma receita para essa mistura ou é mais um feeling de vocês?

EVANDRO MESQUITA: Feeling total. Por exemplo, a gente gravou uma música do Roberto e Erasmo. E convidamos o Chimbinha. Além dele, também o baixista da Cidade Negra, o Bino. Então ficou uma mistura super saudável. Sempre foi uma fórmula da Blitz misturar Moreira da Silva com Bob Marley, com Beatles, com Stones, com Roberto Carlos e sai uma coisa com personalidade própria. Esse é o grande trunfo da Blitz. Sai uma coisa com a cara da Blitz. Parece Blitz, mas com todos esses ingredientes que fizeram a nossa cabeça.

A TRIBUNA: E o que o ouvinte pode esperar dessa mistura no novo disco?

EVANDRO MESQUITA: Foi um disco que tem parcerias inusitadas. Em São Paulo teve João Suplicy e a gente fez uma música nessa época e cada música tem a sua história de origem até chegar no estúdio. Foi um processo muito gostoso, porque a gente não sabia onde o mundo ia dar por causa da pandemia. Isso tudo era muito novo. Então a gente foi brincando, foi lapidando as canções e ficou um trabalho muito legal.

Novo álbum

A TRIBUNA: Recentemente foi relançada pela Biscoito Fino (gravadora), a música “O Lado Escuro da Rua”, que é originalmente de 1997, do álbum Línguas. Por que dessa canção em específico para lançar esse novo álbum?

EVANDRO MESQUITA: Quem escolheu a música foi o pessoal da Biscoito Fino e a gente acabou achando legal porque é uma visão de fora do pessoal que tem uma experiência ótima. Esse foi um disco (Línguas) que a gente gravou lá fora, muito legal, mas que não foi lançado. A banda acabou antes de lançar esse disco. Então ficou no limbo. E são canções muito legais. Tem umas quatro, cinco canções muito maneiras, e a gente vai gravando. Gravamos duas delas. Uma é “O Lado Escuro”, a outra é a “Choveu”. A gente curtiu porque é um “baladão” de estrada Legal.

A TRIBUNA: Faz seis anos desde o último álbum da Blitz, o Aventura II, que remete ao primeiro álbum da banda. O novo se chama Supernova. Quais são as principais diferenças entre esses dois álbuns? Você sentiu alguma diferença neles nesse sentido de remeter ao passado e olhar para o futuro?

EVANDRO MESQUITA: É um pouco isso. Sem perder a nossa pegada, a nossa personalidade. Tem um humor, tem uma sonoridade forte, tem uma mistura de influências daqui e lá de fora. Então tem esse paralelo sim, mas é sempre uma tentativa de evolução, de evoluir como músico, como ser humano, como técnico de estúdio. Então tem sempre esse desafio, que é sempre um humor, um mistério. Onde a gente vai chegar? O que a gente fez? Acho que agora com as músicas sendo tocadas nos shows e a gente vai ter esse feedback.

A TRIBUNA: Esse é o primeiro álbum depois da pandemia e como esse o período impactou na criação desse álbum?

EVANDRO MESQUITA: Impactou no isolamento. A música tem um pouco isso, a coisa da solidão, da criação. Então foi tudo acontecendo, tudo muito estranho, pandemia no planeta. E como a gente tem um estúdio aqui, eu e Billy ficamos produzindo nossas canções e tentando essas parcerias e contribuições sonoras. A gente mandava, eles gravavam e mandavam de volta. Isso acho que alimentou e segurou um pouco a nossa onda nessas “lives” que eram muito chatas. Eu detestava fazer live assim, acabar a música e você não ter nenhuma troca, aquele silêncio, é muito estranho. Então esse disco tem todos esses sentimentos, confusos e inspiradores, e estão traduzidos nas canções, nas letras, nos arranjos. O importante é apresentar coisas novas para não ficar refém. Eu não quero que a gente vire um cover da gente mesmo. Tenho pavor disso.

Rio de Janeiro atual

A TRIBUNA: A Blitz surgiu na década de 80. O Rio de Janeiro era uma cidade alegre, engraçada, assim como a música da Blitz. Infelizmente a gente viu uma certa mudança na cidade com a criminalidade e a violência. Você acha que isso impacta a música da Blitz?

EVANDRO MESQUITA: Sem dúvida. Tem uma música chamada “Agora é a hora”, eu ia num oculista lá na Figueiredo Magalhães, em Copacabana, e voltava andando até o Leblon, pela praia e entrava no Arpoador e tentava encontrar identificações da cidade onde eu cresci, passei minha adolescência, mas não encontrava ninguém, nenhuma cara conhecida dos amigos das antigas. As esquinas também mudaram. Então eu fiz uma letra sobre não estar reconhecendo a cidade onde eu cresci e mandei para o Frejat. Ele também se identificou e a gente fez essa música sobre a mudança que aconteceu com todo mundo, mas com as cidades também. Até um trecho da música diz “não reconheço mais minhas pegadas”. É sobre se se achar estranho no lugar onde você viveu seus melhores momentos da sua vida.

A TRIBUNA: Você ainda acredita nessa transformação de volta para a cidade que você conheceu?

EVANDRO MESQUITA: Eu sou centroavante, otimista, então no fundo eu acredito, eu torço e espero que a gente retome essa coisa da Babilônia maravilhosa que também falei na música. Que a cidade fique mais generosa com a população, que às vezes é jogada para baixo do tapete, que trabalha nas nossas casas, que vivem no meio de milicianos e traficantes, essa eterna falta do estado nesses lugares. Então o poder paralelo tomou conta e é muito triste. Eu torço para que volte tudo, mas é muito difícil, muito complicado.

Mensagem final

A TRIBUNA: Para finalizar, o que a Blitz espera transmitir para o seu público com esse novo álbum?

EVANDRO MESQUITA: Alegria, a esperança é acreditar nos sonhos e seguir a vida com mais solidariedade, com mais amor. Essa sempre foi a mensagem da Blitz, de levar uma visão otimista em relação à vida, a trágica e inexorável aventura que é a vida, até o ponto final. Que a gente aprenda a viver bem, ouça a natureza, os índios, para aprender a viver com o simples. Que o pé no chão seja tão importante quanto o último lançamento digital. Esse equilíbrio é que eu acho que é a chave.

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