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O Dia da Consciência Negra, celebrado na próxima segunda-feira (20), tem o principal objetivo de promover as discussões e ações para combater o racismo e a desigualdade social no país.
Por atrás da origem da data, existe a história de Zumbi dos Palmares, o último líder do Quilombo dos Palmares e também o de maior relevância histórica. Ele foi responsável pela liberdade de culto e religião, bem como pelo fim da escravidão colonial no Brasil.
Após inúmeros embates, Zumbi é delatado por um de seus capitães, Antônio Soares, e morto pelo capitão Furtado de Mendonça. Na ocasião, sua cabeça foi cortada, salgada e levada ao governador Melo e Castro. Foi exposta em praça pública de modo a acabar com o mito da imortalidade de Zumbi dos Palmares.
A data de sua morte, 20 de novembro, foi adotada como o Dia da Consciência Negra.
Almirante Negro
Também no mês de novembro, mas desta vez no ano de 1910, um marinheiro negro liderou a Revolta da Chibata, um motim contra castigos impostos por oficiais brancos da Marinha.
João Candido foi o líder da revolta. O motivo era de que os marinheiros que não aceitavam mais receber chibatadas de oficiais brancos como punição. Na ocasião, o ato de coragem e a vida do almirante negro viraram símbolo da luta contra o racismo.
No ano de 2019, o líder foi reconhecido como herói do estado do Rio pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Na ocasião, o seu filho Adalberto do Nascimento Candido afirmou que o reconhecimento foi um trabalho árduo. Quatro anos depois da anistia, o seu herdeiro afirmou que espera um reconhecimento do Governo Federal.
“Meu pai foi o último elo da história da escravidão no Brasil, ele com os seus companheiros da Marinha já planejava o movimento de revolução e isso bem antes da viagem para a Inglaterra. Em 2019, recebemos uma monção da Alerj homenageando meu pai, porém estamos aguardando um reconhecimento de Brasília, principalmente do Ministério Público, e com isso, estamos aguardando um repasse de um projeto de lei que reconhece o Almirante Negro como herói nacional. É muita homenagem, principalmente neste período, mas na parte financeira não vem nada para a família. Tomara que o Governo se sensibilize e faça a devida homenagem que meu pai merece”, ressaltou Adalberto em entrevista exclusiva ao jornal A TRIBUNA.
Casos de racismo
Apesar da data, os casos de racismo crescem a cada ano. Um levantamento feito pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) apontou que das 4219 pessoas mortas pela polícia no ano passado, 2700 foram considerados negros pelas autoridades. Os dados foram baseados nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Pernambuco, Ceará, Piauí, Maranhão e Pará.
No entanto, a Polícia Militar afirma que o estado do Rio, em setembro, obteve o menor índice de letalidade violenta (roubo seguido de morte, homicídio doloso, morte por intervenção de agente do estado e lesão corporal seguida de morte) dos últimos 32 anos. A redução foi de 8%. As mortes por intervenção de agente do estado também diminuíram 57% no mês e 29% no acumulado.
Cidades promovem medidas para combater o racismo
Em Niterói, a Prefeitura informou que a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania está realizando o projeto Raízes da Diversidade - Festival de Escrita Antirracista, por meio da Subsecretaria de Promoção da Igualdade Racial (Supir), com o objetivo de provocar o debate sobre a temática racial com crianças e adolescentes das redes municipal e estadual de educação. Ao final, o projeto prevê a produção de um livro.
Inicialmente, o Raízes da Diversidade acontece em duas escolas: uma de Educação Infantil com crianças de cinco e seis anos, e outra de Ensino Médio, com adolescentes. Em um primeiro momento, houve a formação com as professoras para abordar a questão do racismo estrutural e sobre práticas antirracistas na educação.
O projeto segue com o trabalho desenvolvido com as crianças de forma a provocar reflexão e incentivá-las na produção artística. Os alunos das duas escolas vão trabalhar o tema a partir de desenhos e outras manifestações culturais. Na semana passada, o trabalho virou uma exposição no Museu de Arte Contemporânea (MAC), onde os alunos puderam compartilhar suas visões sobre a riqueza da cultura africana, a história de reis e rainhas, além de abordar o racismo estrutural.
"Essa é uma iniciativa necessária e urgente para colocar em pauta a educação antirracista para nossas crianças e adolescentes. As crianças vivenciam múltiplas formas de opressão e discriminação devido à interseção de raça e classe. Um festival como essa alavanca a possibilidade de ampliar o debate sobre a desigualdade racial e de classe, promovendo a reflexão e a sensibilização das crianças para o enfrentamento ao racismo estrutural. Muitas crianças nunca tinham ido ao MAC e isso revela o quão necessário é termos uma agenda permanente de educação antirracista em Direitos Humanos", afirmou Nadine Borges, Secretária de Direitos Humanos e Cidadania de Niterói.
Capital também conta com eventos em celebração a data
Para celebrar a data, a Prefeitura do Rio apresenta uma série de iniciativas para a promoção de políticas de igualdade racial no município.
As atividades são desenvolvidas por órgãos municipais, como a Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial (CPIR), órgão ligado à Casa Civil, Guarda Municipal, Secretaria Municipal de Cultura, que montou uma programação especial na Cidade das Artes e no Museu da História e da Cultura Africana (MUHCAB) sobre o tema. A Cidade das Artes Bibi Ferreira realizará atividades que refletem sobre a influência do povo africano na formação cultural do Brasil e incluem show do Jongo da Serrinha, teatro, orquestra, oficina de dança afro e exposição. TO Arquivo Geral da Cidade lançará uma entrevista da série “Depoimentos Cariocas” com Leci Brandão.
A programação carioca vai até o fim do mês, com eventos como a feira de empreendedorismo no Monumento do Zumbi, o Festival África Mundi, nos Arcos da Lapa, concertos e peças de teatro, na Cidade das Artes, caminhadas no Circuito do Valongo, além do célebre Cortejo da Tia Ciata.
20/11:
Atividades junto ao Monumento de Zumbi dos Palmares:
6h - Roda de Capoeira
8h - Lavagem do Monumento de Zumbi dos Palmares e solenidade com autoridades
10h - Cortejo da Tia Ciata, com agenda de shows, presença de baianas, roda de capoeira, Escola de Mestre Sala e porta bandeiras, Filhas de Gandhi, Fina Batucada, Afoxé Maxambomba, dentre outros. Concentração às 10h, no Terreirinho do Calouste. Evento gratuito.
10h - Apresentação da Banda de Música e Roda de Capoeira no Cais do Valongo
10h - Exposição “OCEE (Orixás, Cultura, Evolução e Essência) – Omolu, a Cura, com fotografias sobre uma iniciação para o santo Omolu dentro do candomblé. Às 15h será realizado o Banquete do Rei, uma cerimônia do candomblé em homenagem ao orixá Omolu, que tem como intuito agradar essa divindade ofertando-lhe pratos com comidas tradicionais, além de fundamentos e ritos que envolvem simbolicamente a narrativa de itãs desse orixá. De terça a domingo (até 30/11). Local: Sala Vip, Cidade das Artes.
10h - Dia de Turista: visita ao Cais do Valongo e MUHCAB - Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab)
11h - Apresentação da Banda de Música e Roda de Capoeira, no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab).
14h - Oficina de Dança Afro Brasileira com o instrutor Canela Monteiro. Entrada: gratuita. Cidade das Artes.
16h - OSB Jovem – com a participação especial de duas cantoras do Jongo da Serrinha: Lazir Sinval e Dely Monteiro, descendentes diretas das famílias jongueiras, tradicionais de Madureira, na Zona Norte. Sob regência do maestro Anderson Alves, o concerto apresenta diversas obras de compositores da música popular brasileira como Chiquinha Gonzanga, Pixinguinha, Guerra-Peixe, Tom Jobim e Luiz Gonzaga. A apresentação conta com a participação de cerca de 50 músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem, de 17 a 29 anos.
Local: Teatro de Câmara
Entrada: gratuita e retirada de ingresso no site da Sympla https://bileto.sympla.com.br/event/88653/d/225807
17h30 - Jongo da Serrinha – 60 anos – o show conta a história da trajetória desse relevante grupo referência da cultura afro-carioca e leva a Cidade das Artes a tradição do jongo com os mais variados instrumentos e figurinos da época para contar a ligação com a África e a história dos jongueiros, que vieram para os morros do Rio com a libertação do povo negro. O Grupo Cultural Jongo da Serrinha se apresenta na Cidade das Artes com 24 integrantes, sendo: 3 cantoras, 6 músicos, 14 jongueiros e 1 produtor.
Local: Praça e Jardim. Entrada: gratuita e retirada de ingresso no site da Sympla https://bileto.sympla.com.br/event/88531/d/225223/s/1524940
19h - Peça “Ninguém sabe o meu nome” – aborda a história de uma mãe preta de meia idade que se pergunta como deve educar seu filho para enfrentar uma sociedade que não o reconhece como igual. Em cena, a atriz Ana Carbatti – indicada ao Prêmio Shell e ao APTR pelo papel – se múltipla em muitas vozes e corpos, cujas expressões são as premissas do projeto.
Local: Sala Eletroacústica
Entrada: a partir de R$30 na bilheteria da Cidade das Artes ou no site da Sympla https://bileto.sympla.com.br/event/88288/d/223950/s/1515106
21/11:
14h30 - Exposição de abertura oficial da Consciência Negra sobre o tema "Diáspora Africana", no Salão Nobre da sede da GM-Rio, em São Cristóvão e Colóquio Inter-religioso, no auditório da GM-Rio.
14h às 17h - Debate “Adolescências, judicialização da vida e questão racial: perspectivas da assistência social”, Auditório da 3ª Coordenadoria Regional de Educação, Engenho Novo, na URS Casa Viva Del Castilho/ 3ª CAS
17h - Arquivo Geral da Cidade divulga a entrevista exclusiva com a cantora, compositora e política Leci Brandão. Leci é a entrevistada dos Depoimentos Cariocas que vai ao ar a partir de 17h, no YouTube do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
22/11:
Atividades promovidas pela Guarda Municipal no CIEP Brigadeiro Sergio de Carvalho, em Campo Grande:
8h - Palestra sobre Diáspora Africana
10h - Apresentação da Banda de Música no CIEP - 10h
10h30 - Apresentação de capoeira
Atividades promovidas pela Guarda Municipal na Praça Susana Naspolini em Realengo:
15h - Apresentação da Banda de Música
15h30 - Apresentação de capoeira na praça
24 a 26/11:
Festival África Mundi: grande comemoração do Novembro Negro RIO 2023 que vai celebrar os 50 anos do movimento hip hop, com, batalhas de rimas, baile charme e outras atrações da cultura afro-carioca. Exposição de produtos de afroempreendedores. Evento gratuito
24/11:
10h - Palestra sobre o tema Diáspora Africana no Auditório da GM-Rio
15h - Apresentações de danças típicas, na quadra da sede da GM-Rio
25/11:
9h às 17h - Encontro das baianas de acarajé.Muhcab (Rua Pedro Ernesto 80, Gamboa). Entrada franca. Livre.
26/11:
10h às 22h - 35 anos da Fundação Palmares e lançamento do Ajeum Fest/llê aiê: Comemoração de aniversário da Fundação Palmares. Muhcab (Rua Pedro Ernesto 80, Gamboa). Entrada franca. Livre.
ABI homenageia jornalistas negros
Para celebrar a importância da data, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) vêm reunindo, pela primeira vez, uma série de depoimentos em áudio e vídeo de jornalistas negros brasileiros das mais diferentes áreas de atuação e pensamento. O acervo histórico ganhou o nome de “Jornalista Gustavo de Lacerda”, uma homenagem ao fundador da ABI.
Jornalista, roteirista, teatrólogo, radialista, gráfico, cantor e compositor, Rubem Confete é um griô, ativista e estudioso das questões afro-brasileiras.
Na quarta-feira, 22, o canal ABI TV exibe a entrevista com Gilberto Porcidonio, Jornalista formado pela PUC-Rio.
Graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Estácio de Sá, Eliane Benício – que terá o seu depoimento exibido no canal ABI TV, na sexta-feira, 24 -, acumulou experiência factual na Agência Noticiosa Sport Press, em jornais impressos do Rio (O Povo, O Dia, O São Gonçalo, Jornal do Brasil) e oferecendo pautas ou redigindo matérias de comportamento para revistas como Raça Brasil (Ed. Símbolo) e Quem Acontece (Ed. Globo).
Na segunda-feira, 27, o canal ABI TV traz a entrevista com o jornalista Marcos Gomes, atual presidente do Conselho Deliberativo da ABI.
A jornalista, modelo e manequim Marielli Patrocínio fala de sua atuação na comunicação antirracista dando ênfase a auto estima da mulher negra, na entrevista que vai ao ar na quarta-feira, 29.
E, fechando a primeira temporada dos depoimentos para o Acervo Jornalista Gustavo de Lacerda, o canal ABI TV exibe na quinta-feira, 30, a entrevista com o jornalista Antonio Werneck, que sua trajetória marcada pela cobertura ligada a área de segurança pública, no jornal O Globo, que lhe rendeu diversos prêmios.