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A Unidos do Viradouro se sagrou campeã do carnaval carioca na última quarta-feira de cinzas. Esta foi a terceira vez que a vermelho e branco faturou o caneco.
O desfile da agremiação de Niterói foi marcado por muito luxo e uma narrativa envolvente.
Um dos pontos que mais chamou atenção do público foi na comissão de frente, onde uma
"cobra-robô" saía debaixo do tripé da comissão de frente e ia em direção aos dançarinos.
Viradouro merece muito esse título. Fez um desfile impecável e aquela comissão de frente com a serpente já ficou marcada na memória. Que não ousem puni-la por uma regra que ela não quebrou. Ganhou em 2020, 3º lugar em 2022 e vice em 2023. #ApuraçãoRJ pic.twitter.com/0UzmIm87Xq
— Sérgio Santos (@ZAMENZA) February 14, 2024
Já no dia seguinte foi descoberto que na realidade não se tratava de um robô, e sim, havia um "motorista" dentro da serpente, que guiava a cobra para onde ela deveria ir.
Como funcionava a cobra da comissão da Viradouro?
— Allan Bastos (@allan_basttos) February 14, 2024
pronto, acabou o mistério kkkkkkk… nosso amigo Wesley brilhou muito e merece todo reconhecimento do mundo!! ele foi incrível ????❤️???? pic.twitter.com/5EQutDspWn
Outra curiosidade interessante, é que ao viajar para a Bahia, e pedir autorização ao Terreiro de Bogum para a realização do desfile a sacerdote jogou os búzios, leu o que eles disseram e gritou "Alafiou", que significava que todos os caminhos estavam abertos. "Eh Alafiou/Eh Alafiá/É o ninho da serpente preparado pra lutar" acabou sendo o verso mais empolgante da Viradouro na avenida.
Outro ponto interessante foi a narrativa da escola. Renzo Carvalho, pesquisador de cultos afro-brasileiros, explica que as guerreiras Ahosi — ou Minós, como o samba da Viradouro preferiu chamar — representadas na Comissão de Frente da escola tem intrínseca relação com Dangbe, sendo em muitas vezes sacerdotisas da divindade.
Renzo prossegue afirmando que elas formavam um dos principais regimentos do exército dahomeneano, chegando a constituir cerca de 1/3 do exército do Daomé — algo como 4/5 mil guerreiras. Elas constituíam certo prestígio político e econômico dentre os dahomeneanos, chegando a influenciar em decisões públicas do arroçu - rei - do Daomé. Aliás, as mesmas eram contra a escravidão e pleiteavam o seu fim publicamente, inclusive boicotando investidas de mercenarios e soldados dahomeneanos para buscar mais escravizados.