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Caetano Veloso e Maria Bethânia fazem show histórico no Rio
Turnê marca o retorno deles aos palcos juntos após 46 anos desde sua primeira performance em dupla, realizada em 1978
Caetano Veloso e Maria Bethânia fazem show histórico no Rio
Foto do autor Leonardo Brito Leonardo Brito
Por: Leonardo Brito Data da Publicação: 14 de março de 2025FacebookTwitterInstagram
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A histórica turnê de Caetano Veloso e Maria Bethânia chega ao Rio de Janeiro mais uma vez em show que acontece neste sábado na casa de espetáculos Farmasi Arena, na Barra da Tijuca, zona oeste da capital. A venda de ingressos começou ainda no ano passado e esgotou pouco depois. 

Com cerca de meio milhão de ingressos vendidos nacionalmente, o show concorrido dos irmãos baianos, que passam por dez cidades, estreou no Rio de Janeiro em agosto, com quatro noites esgotadas. Intitulado "Caetano & Bethânia", o espetáculo marca o retorno deles aos palcos juntos após 46 anos desde sua primeira performance em dupla, realizada em 1978.

O espetáculo Caetano & Bethânia tem nada menos que 40 músicas no repertório. As primeiras 18 canções foram cantadas por Caetano e Bethânia. Em seguida, o cantor elegeu 5 canções para o seu bloco. Maria, por sua vez, escolheu outras cinco músicas para cantar em seguida. Outras 12 canções são entoadas em conjunto para encerrar a apresentação. Segundo um site que coleta setlists de shows, a lista de músicas que vão compor o espetáculo serão essas.

 

Foto de Marcos Hermes

Alegria, Alegria, Os mais doces bárbaros, Gente, Oração ao tempo, Motriz, Não identificado, A Tua Presença, 13 de maio (citação), A Donzela se Casou, Samba de dois rios, Milagre do Povo, Filhos de Ghandi, Dedicatória, Eu e a água, Tropicália, Marginália II, Um índio, Cajuína, Sozinho, O Leãozinho, Você não me ensinou a te esquecer, Você é Linda, Deus Cuida de Mim, Brincar de Viver, Explode Coração, As canções que você fez pra mim, Negue, Vida,Sei Lá Mangueira, A Menina de Oyá, Exaltação a Mangueira, Onde o rio é mais baiano, Baby, Vaca Profana, Gita, O Quereres, Fé, Reconvexo, Tudo de Novo e Odara

Na família Veloso, falou mais alto a sugestão de Caetano para o batismo da irmã como “Maria Bethânia”, nome extraído de uma música de Capiba cantada por Nelson Gonçalves.

A voz de Bethânia seria um dos motores da entrega de Caetano à vida de compositor. A história dessa partilha musical se iniciou há 60 anos, no show “Nós, por exemplo”, no Teatro Vila Velha, em Salvador, em 1964. Ainda muito jovens, numa fase de revelação de caminhos para a música brasileira, eles surgiram como artistas inseparáveis de sua geração, no meio do agito das artes na capital baiana, ao lado de Gal, Gilberto Gil, Tom Zé, Roberto Santana, Alcyvando Luz, Djalma Corrêa, Fernando Lona, Piti e Perna Fróes. Bethânia despontava, porém, como uma cabeça acima de movimentos, determinada a criar um projeto estético fiel às suas paixões musicais profundas. Antes e depois do tropicalismo, Caetano seria um tradutor fraterno dessa poética.

Com a mudança de Santo Amaro para Salvador, em 1960, os irmãos se tornaram cúmplices nas descobertas de uma grande cidade, da literatura de Clarice Lispector e de seus destinos artísticos. Juntos, experimentaram o teatro, a música e o cinema. Caetano era então o guia urbano de Bethânia, ainda saudosa da vida e da alma santamarenses. Em sua ida para o Rio de Janeiro, onde substituiu Nara Leão no espetáculo Opinião em 1965, Bethânia viajou acompanhada de Caetano, atendendo ao pedido do pai, José Telles Velloso. O sucesso da cantora teria consequências na história da música popular e no desenvolvimento das carreiras de Caetano, Gal e Gil.

Aos 18 anos, ela avisou ao irmão que dali para frente definiria sozinha seu rumo no mundo. Mas, desde então, suas trajetórias artísticas não deixaram de estar entrelaçadas. Caetano compôs mais de 30 canções para gravações originais de Bethânia, pensando no alcance de sua voz e em sua presença cênica. Ainda na juventude, esse arco de belezas envolveu “Sol Negro” (em duo com Gal Costa) e “De Manhã” e se desenvolveria em joias como “Gema” e “Reconvexo”, um hit da “destemida Iara”.

Mesmo canções registradas pelo próprio Caetano ganharam versões de forte marca autoral de Bethânia, como “Tigresa”, “O Ciúme” ou “Sete Mil Vezes”. Em “Um índio”, nos Doces Bárbaros, a cantora reivindicou para si a utopia indígena de Caetano. Não à toa, o escritor argentino Julio Cortázar suspeitava que os dois irmãos eram uma só pessoa.

Em seis décadas de carreira, Caetano e Bethânia sustentaram um pacto artístico silencioso, uma identidade atemporal que aflorou em momentos decisivos: no álbum “Drama” (1972), produzido por Caetano, relevante para seu aprendizado em estúdio no retorno do exílio; na formação do grupo Doces Bárbaros, em 1976, quando Bethânia aglutinou seus manos baianos; no show que virou disco ao vivo, em 1978; em duos pontuais em suas discografias e – impossível esquecer – nas festas familiares no quintal de dona Canô, em Santo Amaro.

 

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Além de fazer letras, por vezes incorporando frases literais de Bethânia (“Baby” nasceu assim), ele também vestiu com melodias os poemas de Waly Salomão destinados à Abelha-Rainha. Com ela, aprendeu a amar a jovem guarda de Roberto Carlos. Esse elo musical e existencial ganhou um sentido elevado em tempos sombrios. No exílio em Londres, em 1971, Caetano cantou para o Brasil: “Maria Bethânia, please send me a letter”. Na pandemia, como mensagem contra a tristeza repentina do mundo, a irmã sugeriu que ele cantasse “Noite de Cristal”, que clama por “dias de outras cores”. A canção entraria no álbum “Meu Coco”, de 2021

A identificação mútua originou pontos brilhantes na criação do compositor, que chegava a traduzir melhor suas próprias emoções a partir da presença dramática da irmã. Caetano tem sido um decifrador do mito artístico de Bethânia dentro e fora dos palcos. Nessa linhagem de canções, podem ser lembradas “Drama” (“minha voz soa exatamente/ de onde no corpo da alma de uma pessoa/ se produz a palavra eu”), “Tapete Mágico” (“no palco Maria Bethânia desenha-se todas as chamas do pássaro”) e “Motriz”, em que ambos celebram a voz da mãe, Canô, como a matriz de um dom (“em tudo a voz de minha mãe/ e a minha voz na dela”). Em “Vaca Profana”, a irmã é sinônimo de intensidade amorosa: “Quero que pinte um amor Bethânia”.

Em outros momentos, seus projetos artísticos levaram para o mundo os amores, as festas, as alegrias e as dores dos nascidos em Santo Amaro. Em “Purificar o Subaé” (1981) os irmãos cantaram pela salvação do rio de sua aldeia, falando em nome de todos os rios de todas as aldeias.

Apresentação: 15/03/2025 (Sábado)

Abertura dos portões: 18h

Horário do show: 21h

Local: Farmasi Arena

Endereço: Av. Embaixador Abelardo Bueno, 3401 - Barra da Tijuca, Rio de Janeiro - RJ, 22775-040

Classificação: 16 anos. Permitida a entrada de 05 a 15 anos, apenas acompanhados dos pais ou responsáveis legais.

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