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Este domingo, 28 de janeiro, é o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil é o segundo país com mais casos novos da doença no mundo.
Registrada há mais de 4 mil anos, a hanseníase é também conhecida como lepra. De acordo com a Biblioteca Virtual em Saúde, do Ministério da Saúde, a hanseníase é uma doença infecciosa, contagiosa, que afeta os nervos e a pele e é causada por um bacilo chamado Mycobacterium leprae, também conhecido como bacilo de Hansen (em homenagem a Gerhard Henrick Armauer Hansen, médico e bacteriologista norueguês, descobridor da doença, em 1873).
Em razão de sua elevada carga, a doença permanece como um importante problema de saúde pública no país, sendo de notificação compulsória e investigação obrigatória.
A TRIBUNA entrevistou Paula Brandão, professora da Faculdade de Enfermagem – UERJ e Diretoria nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase – Morhan, para esclarecer pontos chave da doença.
Quais os primeiros sintomas que as pessoas devem ficar alertas?
“Os principais sinais e sintomas são manchas na pele, esbranquiçadas acastanhadas ou avermelhadas, com alteração da sensibilidade; nódulos ou caroços pelo corpo; formigamento/fraqueza/dor/fisgadas em mãos e pés”.
Ela pode se manifestar em qualquer idade?
“A hanseníase pode se manifestar em qualquer idade. Quando uma criança tem hanseníase, significa que há um adulto bacilífero, sem tratamento, convivendo com ela”.
Há cura?
“Sim, há tratamento e cura. Desde 1982, um conjunto de medicamentos, no Brasil conhecidos como poliquimioterapia, é o principal tratamento. Estes medicamentos estão disponíveis, gratuitamente, nas unidades básicas de saúde, pelo SUS”.
É uma doença hereditária?
“Não é uma doença hereditária. O convívio com a pessoa doente sem tratamento, associado às características imunológicas dos indivíduos, é que leva ao contágio e adoecimento.
Quando a pessoa com muitos bacilos (multibacilar) sem tratamento tosse, espirra ou fala mais alto, elimina gotículas e, nelas, o bacilo. As pessoas que convivem com esta pessoa podem inalar estas gotículas. O grande problema é que o período de evolução é lento, e a incubação da doença é longa”.
Qual o melhor tratamento? Há só um?
"O Brasil adotou a PQT- U (poliquimioterapia única), tanto para os pacientes paucibacilares, quanto para os multibacilares. A diferença é o tempo de tratamento.
Os paucibacilares irão tomar seis doses supervisionadas e levarão o blister mensal, para completar o tratamento em até nove meses (o normal são seis meses). Enquanto os multibacilares irão tomar 12 doses supervisionadas e levarão o blister mensal, para completar o tratamento em até 18 meses ( o normal são 12 meses)".
A reportagem também ouviu Ana Carolina Galvão, médica especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, especialista em Hanseníase e Mestre em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas, que deu mais explicações sobre a doença.
A hanseníase pode ser confundida com alguma outra doença de pele?
“A hanseníase pode ser confundida com várias doenças de pele. Mas para o profissional de saúde treinado, na maior parte das vezes o diagnóstico é simples.
Entretanto, muitos pacientes são diagnosticados tardiamente, após anos tratando as lesões erroneamente, como alergia, micose e até mesmo lúpus”.
Existem cuidados para prevenção?
“O Brasil é um dos principais países no mundo com novos casos. O que se entende, até o momento, é que muitas pessoas já tiveram contato com o bacilo, mas não desenvolvem a doença.
Após ser diagnosticado com hanseníase, todos os contactantes do paciente são chamados para realizar exame físico e a aplicação de uma segunda dose da vacina BCG, pois parece que ela reduz as chances de desenvolvimento de formas graves da hanseníase”.
Há estágios da doença? Caso sim, todos são reversíveis?
“Resumidamente, existem formas mais leves e formas mais graves. Formas que afetam somente a pele, os nervos ou ambos.
O dano neural, quando não é tratado precocemente, pode ser irreversível e levar a sequelas sensitivas e de movimento”.
Ana destacou também que, após o diagnóstico, não há necessidade de isolar o paciente. Ou seja, não é preciso usar máscara, se isolar da família ou do trabalho.
É uma doença que se transmite por via respiratória, mas por um contato prolongado.