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Segundo o Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Brasil registrou 154 mil focos de incêndio neste ano, até o início de setembro. Por conta dos incêndios ao redor do território brasileiro, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destacou que o país pode perder o Pantanal até o final do século, se as tendências não forem revertidas.
Nessa mesma linha, o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Flávio Rodrigues, acredita que a situação do bioma pode alcançar uma condição de não retorno.
“O Pantanal tem sofrido com muitas queimadas e incêndios que acontecem em proporções descomunais e nunca registradas. Por conta disso, existem várias perdas de dinâmicas ecossistêmicas, biodiversidade, capacidade bioprodutiva do solo e capacidade de evaporação de rios e áreas encharcadas. Então, há uma desregulação das condições da biosfera na região, de modo que o bioma é profundamente afetado a ponto de alcançar uma condição de não retorno – quando o impacto é tão profundo que os processos ecológicos perdem a capacidade de realizar as funções ecossistêmicas no tempo e no espaço, provocando o esgotamento do bioma”.
Em 2024, o Pantanal apresenta 9.506 ocorrências de focos de fogo, apontam dados do programa do Inpe. Tal número acumulado é cerca de sete vezes maior do que o registrado pelo sistema nesse mesmo período no ano passado, com 1.298 registros. Ao longo das últimas quatro décadas, de acordo com a pesquisa MapBiomas, o bioma registrou ocorrências de queimadas em nove milhões de hectares da região, o que representa 59,2% dos territórios ocupados pelos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
A situação dos biomas brasileiros preocupa. Dados recentes obtidos pelo MapBiomas revelam que, no período entre 1985 e 2023, o país perdeu cerca de 15% das áreas naturais de floresta. Neste estudo, as informações expõem que os biomas com maior perda de florestas naturais foram a Amazônia, com 13%, e Cerrado, com 27%.
“A desertificação é um problema de degradação das áreas áridas, semiáridas e subúmidas secas causado por ação humana ou mudança climática, nesse sentido, o Nordeste, o norte de Minas Gerais e a região sub-seca do norte capixaba são os locais do país mais suscetíveis à ocorrência de desertificação. Porém, na medida em que os eventos extremos e mudanças climáticas se dão como causa e consequência dos processos dinâmicos desse problema, a desertificação pode se espalhar para ecossistemas adjacentes e existe a chance desse fenômeno avançar para outros biomas. Nessa condição, um dos mais ameaçados é o Cerrado, por estar em contato direto com a Caatinga e possuir um clima semelhante ao semiárido”.
Em 2020, dados do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) revelaram que a Amazônia e o Cerrado foram os biomas mais afetados pela perda de vegetação natural. O levantamento realizado entre 2000 e 2018 aponta que a perda natural no país é equivalente a mais de dez vezes toda a extensão territorial do estado do Rio de Janeiro e quase ao dobro de todo o território do estado de São Paulo. Das florestas desmatadas, 95% foram convertidas para uso agropecuário.
Já o estudo “Desmatamento, queimadas e retração da superfície da água aumentam o risco de desertificação da Caatinga”, realizado pelo MapBiomas, revelou que a Caatinga tem 112 municípios classificados como Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD) com status muito grave e grave. Além disso, houve uma redução de 8,27% na superfície de água, o que tornou o bioma mais seco nas últimas décadas.
A entrevista completa pode ser lida no seguinte link.