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A Associação Brasileira dos Coreanos, sediada em São Paulo, divulgou uma nota nesta sexta-feira revelando descontentamento quanto a inclusão da palavra “dorama” no dicionário de língua portuguesa, pela Academia Brasileira de Letras.
“Dorama” se refere a obra audiovisual de ficção em formato de série, produzida no leste e sudeste da Ásia.
A Associação considera preconceituosa a decisão de generalizar as produções do leste-asiático.
“Não é certo generalizar expressões culturais. Cada produção tem suas características, peculiaridades e um público específico. Generalizar é confundir as peculiaridades. É como falar que toda comida nordestina é comida baiana”, diz a nota assinada por Augusto Kwon, presidente da Associação Brasileira dos Coreanos.
A nota acrescenta que há um esforço muito grande por parte da Coreia do Sul em mostrar uma representatividade. Após a guerra da Coreia está em curso o resgate da cultura milenar coreana que sofreu uma tentativa de apagamento na época da colonização japonesa no início do século 20. Esse resgate se evidencia em várias formas de expressões culturais, tal como K-Pop, séries, gastronomia etc.
Para contextualizar no cenário mundial, o dicionário Oxford havia incluído a palavra K-Drama e não “dorama”. E em nenhum outro país do mundo as séries asiáticas são generalizadas. Aliás, não existem para as séries da Europa, por exemplo, o termo “Eurodramas”, diz a nota.
Se o mundo inteiro reconhece que não podemos generalizar expressões culturais, por qual motivo o Brasil vai fazer o contrário?
“Fica aqui registrada a nossa indagação e a esperança de uma revisão por parte da Associação Brasileira de Letras à luz da compreensão sociocultural do tema em foco.”
A ABL RESPONDE
Ricardo Cavaliere, membro da comissão de lexicografia da ABL, defende a definição:
"Como a pesquisa em fontes textuais em língua portuguesa mostrou, o termo [dorama] generalizou-se e passou a denominar tanto as séries japonesas quanto séries de outros países asiáticos. É um processo natural, do qual nem as palavras vernáculas escapam" afirma Cavaliere
Em resposta a nota da Associação Brasileira de Coreanos, Ricardo Cavaliere afirma:
"É a maneira como a comunidade linguística (neste caso, a brasileira) faz uso de uma palavra que determinará a redação do verbete no dicionário, não o contrário, como frequentemente se pensa. Ou seja, o registro feito em dicionários e vocabulários é posterior ao uso que os falantes fazem da língua no processo de comunicação".