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Adriana Ninsk é a diva do Blues brasileiro. Nascida e criada em Niterói, a cantora começou sua carreira cedo, na adolescência, e não largou mais o microfone.
Ela fez parte do “Saloon e Cia”, banda de Blues, Country e Rock que agitou o Brasil na década de 80, além de todo sucesso que atingiu em sua carreira solo e em suas outras ocupações como artista plástica, professora de Yoga e muitas outras.
Neste domingo (23), na casa de festas Quintal, em Itaipu, na Região Oceânica de Niterói, a banda “Saloon e Cia” realiza um “revival” nos palcos, com um show de reencontro de membros originais e substitutos do grupo que marcou época.
Adriana conversou com A TRIBUNA sobre como começou sua carreira em Niterói, sua versatilidade musical e, é claro, a expectativa para o grande reencontro do “Saloon e Cia” neste domingo (23).
Como sua relação com a música começou?
Desde pequenininha eu ficava ouvindo os discos que tinha em casa. Sempre teve muita música boa, jazz, rock, MPB e samba raiz.
Eu ficava ouvindo e comecei a cantar, para ver até onde a minha voz ia. Minha brincadeira era essa. Tinha também um desenho chamado Josie e as gatinhas e eu ficava em frente ao espelho dublando elas.
Tanto que Josie tocava um pandeiro e eu até hoje toco um. Eu pegava uma tampa de caixa de brinquedo, fingia que era o pandeiro.
Como foi o seu crescimento artístico e cultural aqui em Niterói?
Eu comecei a cantar na escola, tocar violão em roda de amigos. Até que um dia eu vi o Mário Rui tocando blues e falei que queria cantar também.
Era véspera do vestibular, mas eu nem fui mais. Comecei a cantar nos intervalos do show do Mário, isso com uns 15 ou 16 anos.
Depois conheci o Tatoo no Saloon e a gente começou a namorar, posteriormente eu casei com ele e aí eu acabei entrando na banda.
Comecei a trabalhar com o Pedro Braga, guitarrista do Saloon que é meu parceiro musical e amigo.
Além disso, eu fui estudar música na Unirio. E as coisas foram acontecendo naturalmente, o Saloon é uma banda que ficou muito conhecida nos anos 80, até pelas rádios como a Fluminense FM que tocavam muito o Alma Negra, um CD nosso.
Depois eu fui seguindo o meu caminho, ganhei alguns prêmios, trabalhei com artistas, fiz backing vocal, tive programas na TV.
Como você consegue ter tanta variedade de estilos musicais?
Eu tive a sorte de ter em casa uma mãe muito culta, que muito me incentivou. Meu padrasto também era um cara muito culto, era professor de cinema e fotografia da UFF, então sempre me apresentaram muita música boa.
Minha mãe era concertista e me levava ao teatro para ver ópera, música clássica. Minha família toda me apoiou muito.
Por que Niterói é uma cidade tão artística?
Isso é uma coisa curiosa. Eu acho que Niterói tem uma mágica. Deve ter alguma coisa na água. Niterói tem muito esse ar artístico.
É uma cidade muito bonita e proporciona muita coisa relacionada à cultura. É um lugar que incentiva a cultura de um modo geral.
E como você vê a valorização do artista na cidade?
Eu sempre acho que a valorização do artista nunca é o que deveria ser.
As pessoas tem que entender que a gente estuda, que a gente compra equipamentos caros e que a gente tem que se valorizar.
Quem quer me contratar, eu falo que eu vou pedir um cachê que não é astronômico, mas é justo e digno.
Há um movimento muito grande de artistas covers na noite niteroiense. Ainda tem espaço para a música autoral?
Eu acho que tudo o que você oferece de qualidade é aceito. Se você oferecer coisas boas, as pessoas vão.
A música boa sempre tem espaço. Embora a gente veja um empobrecimento muito grande da música.
Ao meu ver, acho as letras muito empobrecidas, acho a melodia empobrecida, mas isso já é uma questão mercadológica, quanto mais fácil de vender melhor. O mercado tem um lado bom, mas tem um lado muito ruim.
Quais artistas você destaca hoje em dia?
Tem coisa muito interessante. Eu gosto muito dessa banda chamada Bala desejo que parece que eles beberam na fonte do Caetano, do Gil, da Gal, da Bethânia.
Aqui em Niterói tem umas jovens cantores. A Ju Rosário que trabalhou comigo, o filho do Pedro Braga, o João Pedro Braga que é um escândalo de um guitarrista e eu até brinco que o Pedro vai perder o emprego.
Você é cantora, compositora, professora de artes, poeta e muitas outras coisas. Como é viver da cultura no Brasil?
É uma luta que vale. Não é à toa que eu faço tudo ao mesmo tempo. Tem gente que me pergunta se eu durmo em algum momento, eu falo que muito bem, porque, modéstia à parte, sou muito organizada.
Então eu vou meio que “deixa a vida me levar”, quando eu não estou fazendo shows, eu dou aulas, faço cursos, depois começa uma temporada de apresentações e eu dou uma segurada do outro lado.
Parece uma onda no mar, eu vou de acordo com a onda. Está rolando, vambora, não está rolando, faz outra coisa.
Muita gente diz que você tem uma voz parecida com a Janis Joplin, uma grande cantora de blues. E você concorda com isso?
Eu morro de orgulho de saber dessa comparação, mas eu acho que Janis dava de 100 a 0 em mim.
Eu fico lisonjeada, acho lindo, acho maravilhoso. Mas ela realmente era uma grande diva maravilhosa. Eu não chego nem aos pés, não tenho nem essa pretensão.
Como é cantar Blues no Brasil, onde o estilo não é tão difundido?
Quando eu era pequena, eu ouvia muito Blues. É uma coisa muito íntima, que me arrepiava do fio de cabelo até o dedão do pé.
Então eu é uma coisa que eu gosto muito e eu acho que o artista tem que fazer o que ele curte, o que é a cara dele.
Realmente não é um estilo muito difundido, mas eu tenho observado que, de um tempo para cá, tem havido muitos festivais de blues e de jazz pelo Brasil inteiro, principalmente depois da pandemia. Esses festivais vieram para renovar isso e tornar esse estilo mais conhecido.
O que os fãs podem esperar do reencontro do Saloon e Cia neste dia 23 de junho, em Itaipu?
Vai ser muito legal. Na verdade, isso tudo tem muito a ver com o filme “Aumenta que é rock'n roll". As pessoas começaram a perguntar “cadê o Saloon?”, porque o Saloon foi lançado na década de 80, na Fluminense FM e com o filme, começaram a pedir a volta da banda.
Eu acho que as coisas nunca voltam, elas se renovam. Mas com os pedidos, a gente resolveu fazer esse show.
Foi uma coisa muito orgânica, muito natural. Apareceu uma casa de shows de um amigo nosso, com uma data vaga e ele perguntou se a gente queria fazer esse reencontro.
E esse processo está sendo muito legal. Nós vamos tocar as músicas que a gente sempre tocava, mas com outros arranjos, porque a gente nunca consegue tocar a mesma música com mesmo arranjo.
O Saloon sempre foi uma banda de Country, Rock e Blues. O Tatoo era o cara do Country, o Pedro o do Rock e eu a do Blues. Então a gente juntou isso tudo.
Vão ter músicas que as pessoas estão acostumadas a ouvir, a cantar e sempre me pedem como Alma Negra.
Vão ter músicas do meu CD e canções de outros artistas que a gente já cantava como Led Zeppelin, ZZ Top, e outros.
E o principal, vai ser um encontro de amigos. O Saloon sempre teve muitos substitutos e todos os “subs” vão estar lá para tocar também. Vão ser vários baixistas, guitarristas, bateristas.
A verdade é que a gente nunca perdeu contato um com o outro. O Pedro Braga é quase meu vizinho.
A gente nunca deixou de ser amigos e dar uma canja na música do outro. O que aconteceu foi que cada um tomou um caminho artístico diferente, mas nunca deixamos de se ver. Mas tocar junto de novo, todos nós, vai ser muito legal.