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Semana passada, o jornal A TRIBUNA trouxe uma reportagem especial sobre o Museu de Imigração da Ilha das Flores.
Seguindo nossa série de matérias sobre essa pérola, hoje falaremos sobre o presídio da Ilha das Flores, que era localizado na ilha de mesmo nome, em Neves, São Gonçalo.
O historiador e professor da UERJ, Rui Aniceto, nos conta que durante o período de existência da Ilha das Flores como hospedaria de imigrantes, o local em momentos particulares foi utilizado como presídio.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a partir do momento que o Brasil entra no conflito, em 1917, o local foi usado como presídio para deixar reclusos alemães de navios que estavam no litoral brasileiro.
O governo brasileiro confiscou os navios e as tripulações foram mandadas para a Ilha, até que o conflito tivesse o um desfecho.
Depois, o local novamente foi utilizado como presídio na Revolução Constitucionalista de 32, onde serviu para aprisionar os paulistas que eram contrários ao governo de Getúlio Vargas. A Revolução de 32 foi um movimento armado, liderado pelo estado de São Paulo, entre julho e outubro de 1932, que tinha por objetivo derrubar o governo provisório de Getúlio Vargas.
Também há o uso da Ilha como presídio em 1935, com a Revolta Comunista, para aprisionar os amotinados dos quartéis, acusados de um levante comunista.
A Intentona Comunista foi uma tentativa de golpe contra o governo de Getúlio Vargas realizado entre 23 e 27 de novembro de 1935 por militares, em nome da Aliança Nacional Libertadora (A.N.L.), com apoio do Partido Comunista do Brasil e da Internacional Comunista, liderada por Luis Carlos Prestes.
O panorama na Ilha não foi diferente durante a Segunda Guerra Mundial. Novamente, quando o Brasil entra no conflito, o local foi utilizado para reter imigrantes do eixo que pudessem ter algum vínculo com os governos alemão, japonês e italiano.
Já em 1964, dois meses antes do golpe militar, ali se faz um presídio contra os comerciantes que sobretaxavam o preço, que feriam a "Lei da Economia Popular". Logo, quem aumentava demais os preços era preso pelo governo de João Goulart e enviado para a Ilha das Flores.
"Tem até caso de imigrante que chega pela Ilha, é recebido e depois é preso lá. Depois, logo no iniciozinho do regime militar, é feito lá um primeiro presídio", descreve Aniceto.
Após a ascensão do governo militar, são aprisionados no local cerca de 200 comunistas notórios do Brasil, entre eles o ator Mário Lago, por exemplo. Na ocasião, vários prisioneiros eram submetidos à tortura.
Na época das comissões da verdade, ex-presos relataram o uso de pau-de-arara, choques, telefone e palmatória. As mulheres relataram também o uso de toalhas molhadas e o abuso e ameaça sexuais. "A gente era cercada nua, por homens ameaçando de abuso sexual o tempo todo", contou Iná Meireles na época líder da Comissão da Verdade de Niterói.
Outro detento notório que desembarcou na Ilha das Flores foi o bicheiro Castor de Andrade. Logo após ser solto da Ilha Grande, com o aperto provocado pelo AI-5, o contraventor acabou detido pela Marinha e jogado na solitária da Ilha das Flores por um mês, o que seria o pior momento dentro de uma prisão na sua vida.
"Depois desse momento, entre a segunda metade dos anos 60 e o início dos anos 70, é um presídio político importante, segundo a Comissão da Verdade. Então, ao longo da história, aquele espaço foi usado como presídio em vários momentos", finaliza o professor.