Ansiedade: quadro mais flagrante, perto de qualquer decisão esportiva
Especialista afirma que maioria dos infartos de torcedores de futebol se dão quando eles veem a partida sentados
Ansiedade: quadro mais flagrante, perto de qualquer decisão esportiva
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Por: Saulo Andrade Data da Publicação: 03 de Novembro de 2023FacebookTwitterInstagram
Foto: Maílson Santana/Fluminense

Se você, caro leitor ou cara leitora, estiver lendo esta matéria, antes do resultado final da Copa Libertadores da América, disputada neste sábado (4), entre Fluminense e Boca Juniors - especialmente se for torcedor de um dos dois times, daqueles que acompanham e gostam muito de futebol -, certamente já passou por momentos de muita ansiedade, às vésperas desta ou de outras partidas decisivas. 

Afinal, de um lado, o Fluminense: prestes a conseguir o seu primeiro título, passados 15 anos da dramática final contra a LDU (Equador), em 2008; de outro, o argentino Boca Juniors, na luta para igualar o recorde do arquirrival Independiente, com sete títulos.

Dias antes do grande jogo da Liberta, pelas redes sociais, já se podia obter um termômetro fiel do turbilhão de emoções de ambas torcidas.

“Acho que estou ficando maluco. Toda hora me pego pensando no jogo. Meu deus”, disse um torcedor tricolor.

“Só consigo pensar no dia 4 de novembro. Já saí de dois grupos. Ônibus lotado não está me incomodando mais: o que está me incomodando é essa espera por esse jogo, que não chega”, afirmou outro internauta tricolor, conhecido como “Donaldinho Jr”.

Pelo lado argentino, apega-se à superstição. Os xeneizes – ou bosteros, como são conhecidos os torcedores do Boca – recorrem ao fato de, por exemplo, em 2007, a equipe de cores ouro e azul ter empatado com o Lanús, na última partida, antes da final da Liberta daquele ano, também no Brasil, quando a equipe onde Maradona jogou foi campeã.

“Em 2023, o Boca também empatou em 0 a 0 com o Estudiantes de La Plata, no que foi a última partida, antes da final da Libertadores”, recorda um post de uma página boquense.

“Já não consigo dormir”, destaca o xeneize Exequiel Ramírez.

Calma, gente!

Em qualquer partida decisiva, que pode inclusive ir para uma eletrizante decisão por pênaltis, é importante se atentar para a saúde mental. Afinal, se muitos torcedores ficam ansiosos, mesmo antes dos decisivos 90 minutos, imagina na hora h?

Coletiva do técnico Fernando Diniz e do zagueiro Nino, ontem. Foto: Lucas Merçon/Fluminense

A Psicoterapeuta da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora da Pontifícia Universidade Católica (Rio), Sandra Salomão, tricolor - casada com um apaixonado pelo mesmo time -, explica que torcer é, em alguns casos, muito mais do que um hobby: é uma paixão por identificação, prazer e até devoção, dependendo do grau de importância que a equipe tem na vida da pessoa.

Para ela, as histórias de família com o time e as vitórias assistidas são parte do que as pessoas projetam nessa identificação. O futebol, por si só, já é o esporte que representa o país e, sabendo do quanto valorizamos isso, é comum se ver essa ansiedade toda, gerada em torno de uma partida nesse espaço de tempo e espera, até o dia do jogo. Sandra dá algumas dicas para controlar os sintomas da ansiedade, em momentos decisivos para torcedores que amam seus respectivos times. 
 
“O evento mexe com muitas emoções que estão entre o ganhar e o perder. Essa ansiedade exacerbada fala muito da relação dessa pessoa com o jogo. Eu diria que o torcedor deve buscar ficar no aqui e agora, que se resume em parar de fazer as projeções catastróficas do que ainda não aconteceu e pensar que, mesmo que se tenha uma derrota, o time foi um dos que mais chegou perto de vencer. Além disso, é controlar a respiração, sempre que se sentir acelerado. Ter pensamentos de maior racionalização fazem bem, até mesmo para a chegada da vitória tão esperada”, conclui Salomão.

De acordo com o psicanalista Rafael Haddad (UFRJ), é importante que o torcedor reconheça a possibilidade de uma derrota.

“Aceitar a derrota não é torcer contra o time. É aceitar a realidade como ela é. É apenas um jogo, que pode ou não dar certo. Isso não define a sua vida. Ganhar e perder faz parte. Na semana seguinte, ninguém lembra do jogo. O torcedor deve aceitar a falta de controle sobre a partida", alerta.

Estratégias

Haddad atende torcedores que chegam a passar mal, por conta de uma partida decisiva de futebol. Ele relata o caso específico de um garoto, de 23 anos, que, insatisfeito com o resultado de um jogo do Flamengo, arremessou um copo em direção à televisão, por não ter conseguido controlar as emoções.

“Uma boa estratégia de controle da ansiedade é segurar alguma coisa gelada, nas duas mãos. Pode ser água, cerveja ou suco. Isso ajuda a reduzir os sintomas da ansiedade e o nível de estresse”, aponta.

Outra dica importante, segundo o especialista, é assistir ao jogo em pé. Isso porque, assim, consegue-se liberar mais energia, para dissipar a tensão inicial do jogo.

“Dentre as pessoas que veem jogos de futebol, das que enfartam, geralmente, estão sempre sentadas. Conheço muitos relatos de familiares de pessoas que enfartaram, durante uma partida”.

A terceira estratégia do psicanalista é aprender a entrar em estado de meditação, com controle da respiração: algo que deve ser praticado e se adquire, “ao longo do tempo”, conclui.

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