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Prólogo
“Se você amou muito um lugar não faça a besteira de visitá-lo. Porque você vai pensando que encontrará o tempo e o tempo não está mais lá. É melhor ficar com a imagem na cabeça porque você não pertence mais a esse lugar…esse lugar não te pertence mais”. Rubem Alves ( 1933 - 2014). Escritor, psicanalista, teólogo.
I
"Sai, sai do sereno menino”, diz a canção que alerta que “sereno pode fazer mal”.
Uma tradução urbana do ato de submergir. Se bem que não sinto o sereno há muitos anos. Nem ele, nem a garoa, nem a neve de Itatiaia.
Pausa.
Gavetas do Inconsciente
No silêncio que entorpece a noite,
o vento e o ópio sussurram segredos antigos.
A lua, como um farol apagado,
traz o peso de tantas ausências.
O sereno desce suave sobre a terra,
como se o tempo fosse apenas memória.
Cada gota, uma história não contada,
cada respiração, um gesto de calma.
A cidade dorme, mas o olhar acorda,
reflexos de ópio e da luz nas ruas vazias.
Não há pressa.
O sereno ensina que a vida, em sua essência, é feita de pausas, onde a paz se instala.
Talvez seja isso
O segredo do sereno não está no que se vê
Mas no que se sente,
na quietude que nos habita,
no descanso da alma em meio ao caos.
II
Itatiaia foi onde passei um dos melhores fins de semana de minha vida e a pior Semana Santa.
“A vida é assim”, diria Zora Yonara, astróloga do rádio e sua voz enigmática com eco que alertou por décadas: “você tem pela frente uma sequência de vitórias esplendorosas. Insista!”.
A submersão é vital para a sobrevida. Basta ter ar suficiente e muita humildade.
Castrar os ventos tortos da arrogância, deixar nossa nau existencial largada no fundo do mar, ao lado dos polvos e dos peixes abissais como o Celacanto.
Lembram? Celacanto provoca maremoto.
Os tímidos vivem nos bancos de areia, cercados de corais.
Parados, prestando atenção nos praticantes de evasão de privacidade (essa é do Tutty Vasquez) que exibem sua anêmica e minúscula burguesia nas redes sociais, gênero “estou tão feliz nessa foto, tão feliz que se me assoprar eu caio no chão e choro”.
Ahhhh, o blefe das redes sociais. Ahhhh, o blefe das redes. Ahhhh, o blefe das sociedades. Ahhh, o blefe crônico da humanidade.
III
Submergir faz bem a saúde. Mesmo quando o oponente lança bombas de profundidade que fazem nosso casco mugir como o touro do Apocalipse.
Quem sabe submergir, se esconder nas montanhas de pedra submarinas. Pouca luz, nenhum som, motores desligados.
Esperar a tormenta passar. Um, 12, 30, 600 dias. Submarinos atômicos. Autonomia. Falo de nós, longa autonomia. Falo da sociedade, aguda dependência.
As batalhas navais ensinam que diante do bombardeio os submarinos submergem e que as galinhas morrem por cacarejarem depois do ovo.
Não são como o bicho-preguiça mergulhado em seu mutismo, espatifado até por skate.
Não fala, mas não corre.