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De uns anos para cá, os números mostram que a população dos grandes centros urbanos estão migrando para o interior. Na Região Metropolitana do Rio, uma das cidades mais procuradas é Maricá.
Dados do censo de 2022 mostram o aumento da população da cidade, em 54,87%. Com o crescimento da cidade, criminosos veem a oportunidade de expandir seus “negócios” e migram para Maricá, cujo adensamento incha dia após dia.
A presença da Polícia Militar está presente nos bairros do munícipio. No Centro, apenas os agentes da Guarda Municipal e de trânsito fazem o patrulhamento de rotina.
MARICÁ DIVIDE BATALHÃO DA PM COM NITERÓI
Maricá é atendida pelo mesmo batalhão de Niterói, o 12º, que, com conta com um efetivo pequeno para as duas cidades. Há ainda a dificuldade de logística, já que a sede do 12 BPM está em Niterói.
Ana Paula Kempner tem uma lanchonete no Centro de Maricá. Ela conta que seu estabelecimento foi assaltado inúmeras vezes.
“Em 2022, sofremos quatro arrombamentos, num período de seis meses. O trauma emocional foi muito maior do que o prejuízo material”, disse a comerciante.
Claudete Pereira tem um mercadinho no bairro de Itapeba, e também sofreu com os constates assaltos na região.
“ Os bandidos mandaram deitar no chão e colocaram a arma na cabeça de uma funcionária. A segurança aqui está péssima, pensamos em colocar câmeras, mas não adianta, é assustador”, disse a comerciante.
TERROR DOS COMERCIANTES
Paulo Santos, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Maricá (CDL) falou do terror dos comerciantes e que alguns já sofreram ameaças por telefone.
“Há relatos de comerciantes da cidade e de outros distritos, recebendo ligações com ameaças desses criminosos. Recebemos diariamente denúncias de associados de Itaipuaçu e no Espraiado. Ainda não temos uma estimativa de prejuízo desses comerciantes, mas eu acho que o principal é o prejuízo emocional, dos funcionários, do empresário que tenta empreender.
Delfim Moreira é presidente da Associação de Comerciantes de Maricá. Para ele, a insegurança ”já está instalada” na cidade, “há algum tempo”.
“Hoje, o comerciante de Maricá está se sentindo inseguro, tal qual o do Rio e de Niterói. Com medo, não fazemos Boletins de Ocorrência na delegacia. O atual delegado recebe muito bem quem chega por lá, a gente percebe que ele tem excelentes intenções. A população em situação de rua também é um problema”, apontou.
Ainda de acordo com o comerciante, no Centro, há roubos “violentos”.
“Eles botam armas na cabeça da vítima. O delegado, com razão, diz que hoje polícia tem muito a ver com a inteligência, que é mais importante que a força bruta. Eu espero que o trabalho dele dê certo”, almejou Moreira.
Quando A TRIBUNA esteve na cidade, o delegado titular da 82ª DP (Maricá) era Rafael Barcia, transferido esta semana para a Delegacia Fazendária.
Experiente, já foi titular de outras delegacias, como em Niterói. Ele confirmou que, com as operações no Rio, houve uma migração de criminosos para Maricá e outras cidades do interior do estado e, com isso, a criminalidade na cidade aumentou. Os casos que mais afetam a população são os de feminicídio e abusos de vulnerável.
MIGRAÇÃO DO CRIME ORGANIZADO
“Houve um fenômeno de interiorização das organizações criminosas e é possível ver isso de perto; muitos criminosos que prendemos em Maricá são de fora daqui. Quando cheguei, umas das prisões importantes foi uma liderança do Terceiro Comando. Este movimento acontece: criminosos vindos para o interior, para tentar se estabelecer. É feito um trabalho de investigação e monitoramento para evitar que isso aconteça”.
CRIMES DE FEMINICÍDIO
O delegado ressalta que os crimes de feminicídio são muito altos na cidade e que a delegacia tem uma demanda grande.
“Os índices são alarmantes. E quando eu falo em violência, não só doméstica, mas também a violência sexual. Recebemos muitos casos de estupro de vulnerável”, disse o delegado.
CRIAÇÃO DE UM NÚCLEO DE ATENDIMENTO À MULHER
“Um dos projetos que eu trato com o maior carinho aqui é a criação de um Núcleo de Atendimento à Mulher, em parceria com a Prefeitura de Maricá, para mudar um pouco a forma como se trata a investigação desses crimes, dar maior efetividade e combater de forma mais eficaz esse crime hediondo, que traz muitas consequências. Essa situação foi a que mais me assustou, quando assumi a delegacia. A violência é nacional, mas aqui os números são muito grandes”.
ÍNDICES DE SEGURANÇA
O delegado salienta que a 82ªDP é a única delegacia na cidade, e está sobrecarregada.
“Nós temos outros índices, que acompanhamos pelo Instituto de Segurança Pública; eles elegem quatro índices para a gente acompanhar de perto a letalidade violenta, que ainda é um caso bem complicado. A nossa meta é reduzir. Roubo de veículos está com o índice super controlado, de transeunte, a mesma coisa. Mas, percebemos que o que mais incomoda a sociedade aqui de Maricá são outros crimes, que não estão no Índice de Segurança Pública.
A TRIBUNA também conversou com o especialista em segurança, Paulo Storani. Ex-capitão do Bope, foi um dos policiais que serviram de inspiração para o personagem “Capitão Nascimento”, interpretado pelo ator Wagner Moura, no filme Tropa de Elite.
FUGA PARA OUTROS LUGARES
“A migração de criminosos de uma comunidade para outra ocorre em algumas situações. Quando uma facção invade e passa a controlar uma área dominada pela facção rival. Então, num determinado grupo se transfere para essa área e passa a exercer de uma forma violenta o poder no interior dessa comunidade, usando os mecanismos de controle social que conhecemos, principalmente pela opressão, pelo assassinato e pelo estupro e imposição do medo.
Da mesma forma que, quando há operação policial, área de criminosos, invadidas, fazem com que bandidos busquem refúgio nas áreas dominadas pela mesma facção.
“A terceira forma é o que nós já vimos aqui no Rio, quando ocorre o uma ocupação permanente, como a que aconteceu no caso das UPPs, em que há uma permanência da polícia ali. O criminoso sai e depois volta”.
MIGRAÇÃO DE TRAFICANTES
“Se o delegado confirma a prisão de criminosos do Rio, em Maricá, eu chamo de uma migração momentânea. Eles vão para outros lugares, para fugirem das operações, mas, como não tem como gerenciar o tráfico, partem para atividades criminosas no entorno. Então, roubam as residências e estabelecimentos comerciais. Pequenos crimes podem ser cometidos para se obter dinheiro fácil. Isso é ruim, porque aumenta os indicadores de criminalidade da região, que não havia naquela quantidade. O cenário tende a se agravar, até o final do ano e em 2024. Se o delegado confirma a prisão de criminosos do Rio, em Maricá, eu chamo de uma migração momentânea. Não tenho dúvida de que 2024 vai ser um ano muito crítico, em relação à segurança pública. Nós já estamos à mercê das ações de gestão do governo federal, que é muito tolerante, condescendente, quase estimulador do crime, quando deixa de fazer, de ter um discurso duro em relação à criminalidade”, finalizou o especialista.
COMANDANTE DO 12ºBPM:
NÚMEROS EXPRESSIVOS DE REDUÇÃO DE CRIMES
O comandante do 12ºBPM Aristheu Lopes, diz que essa migração não foi confirmada na cidade, e que os números de roubos estão reduzidos.
“Acho curioso isso de “constantes assaltos”. Não há registros. Maricá tem tido números expressivos de redução. O policiamento é feito em toda a cidade, a fim de buscar maior sensação de segurança. Através de análise dos dados estatísticos de criminalidade. A companhia tem um efetivo de 130 policiais, havendo ainda um complemento de 120 policiais militares por dia, através do Proeis, em turnos diurno e noturno. Estamos em todos os lugares do município. De Inoã a Ponta Negra”, disse o comandante.
O QUE DIZ A PREFEITURA
Somente no primeiro semestre de 2023, foram firmadas duas importantes parcerias com as polícias Civil e Militar, para a construção de um Batalhão da Polícia Militar, às margens da RJ-106, no bairro do Flamengo, e para adesão ao Regime de Adicional de Serviço (RAS), que permitirá contratar mais efetivo para a 82ª DP.
De janeiro a junho de 2023, foram registradas cerca de quatro mil ações da Secretaria de Ordem Pública e Gestão de Gabinete Integrado (Seop) e da Guarda Municipal. Nesse período, foi iniciado o treinamento de mais 59 novos agentes com a convocação de mais de 14 aprovados no concurso da Guarda Municipal, aumentando de 388 agentes para 450: o que representa um crescimento de 15,9%. Além disso, foram registradas 3.810 ações na cidade e entre os principais registros estão as atuações de meio ambiente, trânsito e violência contra a mulher. Do total de ações, 170 resultaram em encaminhamento para delegacia policial.
Outro destaque foi a aquisição de 336 novas câmeras pelo Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), 93 delas com tecnologia de Reconhecimento Ótico de Caracteres (OCRs), que auxiliam na identificação de placas, contribuindo para a identificação de veículos clonados.
A cidade conta hoje com mais de 400 câmeras, instaladas em mais de 200 pontos, para auxiliar nas ações de segurança. O Ciosp atua de forma integrada com as polícias Civil e Militar.
“No primeiro semestre deste ano, tivemos muitas conquistas e temos muitas outras. Os índices de criminalidade comprovam que os investimentos vêm sendo bem aplicados e o objetivo é garantir a segurança da população”, declarou o secretário de Ordem Pública e Gestão de Gabinete Integrado, Julio Cesar Veras.
PARCERIAS E CONVÊNIOS
A cidade já investe, mensalmente, R$ 1.189 milhão no Programa Estadual de Integração na Segurança (Proeis), o maior valor pago por um município ao governo do Estado. O convênio foi firmado em 2017 para que os policiais militares trabalhem, voluntariamente, em seus horários de folga, para promover maior segurança a moradores e turistas em Maricá.
Outro convênio foi firmado com a Secretaria Estadual da Polícia Militar, que garante, desde junho, o abastecimento das viaturas que são utilizadas pela corporação, nas ações de policiamento ostensivo e combate à prática de delitos na cidade. O combustível é integralmente custeado pela Prefeitura e possibilita maior segurança no município, evitando o deslocamento dos veículos, até a sede do 12º Batalhão da Polícia Militar, em Niterói.
A Prefeitura de Maricá firmou acordo com a Secretaria de Estado da Polícia Civil para custear o programa Regime Adicional de Serviço (RAS), que disponibilizará 180 vagas por mês, para meses com 30 dias, e 187 para meses com 31 dias, para a unidade policial. Os agentes atuarão em uma escala com turnos de 12 horas, sem prejuízo da escala regular de serviço. Com a iniciativa, a delegacia criará um Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher (NIAM), cuja proposta é prestar atendimento célere e efetivo em apoio e defesa da mulher.
GRUPAMENTOS ESPECIAIS
Criado em 2022, o Grupamento Maria da Penha trabalha com o foco na proteção de vítimas de violência doméstica e na aplicação da Lei Maria da Penha, que classifica como crime qualquer tipo de abuso de origem física, patrimonial, sexual, moral e psicológica contra a mulher.