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Essa prática de anistia no Brasil é antiga. Já em 1945 e depois em 1979 o momento político brasileiro teve que se desdobrar para que se pudesse chegar a reconduzir uma grande parte de parlamentares e participantes que se diziam de esquerda e, assim, queriam se reestabelecer para dar continuidade às suas vidas de homens públicos, acima de tudo, como representantes da população. Foram tempos duríssimos. No país das incertezas não se sabe, realmente, qual é o lado que agiu com a licitude desejada por todos.
Nas duas últimas anistias, viu-se que, apenas serviram para mostrar as tentativas de fechar as feridas ocorridas dentro daquele período da política nacional. Quando o presidente Juscelino Kubtschek assumiu o poder em 1956, ocorreram levantes militares que levaram muitos amalucados a serem anistiados bem antes de terem suas reputações atingidas nas emoções sofridas pela sensibilidade, pelo orgulho ou até pela ofensa. O fato é que só o tempo conseguiu curar aquelas feridas.
Estamos em outro tempo. Agora, é a vez de Jair Bolsonaro tentar reunir multidões depois que o STF mostrou-se inseguro e modificou o que já havia sentenciado sobre uma mulher que tentou avacalhar a justiça no dia 8 de janeiro de 2023. A tentativa do ex-presidente nessa simulação de colocar na mesa a carta da anistia para os condenados que ele próprio poderá fazer parte, pode ter um desfecho inglório para ele, todavia, de qualquer forma, pretende, com isso, embaralhar o judiciário e, consequentemente, o jogo político.
Já há pesquisas sobre o tema. O DATAFOLHA acaba de informar que 56% dos entrevistados são contra uma anistia para os baderneiros de 8 de janeiro, 36% acreditam que as penas impostas deveriam ser mais brandas e para 25% deveriam ser maiores. Na verdade, o próprio judiciário não se mostra coeso para definir essa grande questão. Uns com estilo de durão e outros aparentando querer fazer média com todos os envolvidos.
Claro, orientado por competentes advogados da área, Bolsonaro está misturando a trama do golpe que ele próprio participou, com seus mais chegados, a delitos ocorridos no 8 de janeiro e, assim, consegue se manter na agenda estabelecida. Logicamente, caso os ilustres ministros do STF não se mantiverem uniformes, vai acontecer o mesmo de sempre, ou seja, a maior parte dos condenados e toda aquela gente do quebra-quebra de Brasília serão anistiados.
Já está formalizado no próprio Supremo Tribunal Federal uma corrente disposta a baixar as penas já impostas. Isso é o que sempre acontece nesses casos controversos da política brasileira. Em vários casos o governo ainda tem que indenizar os que se consideraram ofendidos na sua honra. Então, a cabeleireira do batom pode sair dessa com uma indenização de fazer inveja a qualquer brasileiro que luta com atitudes dignas.
ESSE É O PAÍS QUE VIVEMOS!