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"A falta de perspectiva de inserção no mercado de trabalho facilita a prática de aliciamento de menores no crime". A afirmação é da professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Carolina Grillo.
Coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI), ela conversou com a reportagem do jornal A Tribuna após quatro menores de idade serem presos por ato infracional análogo ao crime de tráfico de drogas e um ser morto em Niterói e Maricá entre os dias 7 e 14 de maio.
A socióloga afirma que a idade média de ingresso no crime é de 13 anos e 6 meses de idade, de acordo com relatório da Unicef. Ela observou em seus trabalhos com criminosos do Comando Vermelho, que a maioria dos traficantes haviam ingressado no crime quando ainda crianças ou adolescentes.
"É muito raro que alguém ingresse no tráfico de drogas quando já adulto. É um ingresso muito precoce, em uma idade em que os meninos ainda não têm autonomia e formação para tomar suas decisões. Eles não estão sendo devidamente protegidos".
Os motivos, segundo a especialista, são vários. São famílias com pais que precisam se ausentar por muito tempo para trabalhar, com longas jornadas de trabalho e longos deslocamentos entre o trabalho e a casa. Além disso, faltam escolas em tempo integral e atividades extracurriculares. Há também a necessidade de complementação da renda familiar.
"No tráfico de drogas, as posições mais baixas são muito mal remuneradas. Um vapor e um soldado ganham menos do que um salário mínimo. Mas para um adolescente de 13, 14 anos, esse valor é um valor que ele não conseguiria obter de outra forma".
Soluções de ordem econômica
Carolina defende que são necessárias soluções de ordem econômica para que as famílias tenham condições de prover o sustento de seus filhos, sem necessidade de que as crianças complementem a renda familiar trabalhando no crime.
"Essas crianças já evadiram a escola e têm uma dificuldade de retorno para o ambiente escolar. Muitas vezes elas vão retornar já com 20 anos. Então, tem que ter alguma política voltada para o retorno escolar desses jovens, mas também para inserção no mercado de trabalho".
Para ela, é importante que haja um acompanhamento das famílias, uma vez que o sistema socioeducativo se assemelha às prisões e gera profundos traumas nos menores que passam por medida de internação educativa. Eles são muito estigmatizados, tanto pelas suas próprias famílias, pela sua vizinhança, como também pelos policiais.
A socióloga criticou também a ênfase na punição dessas crianças e adolescentes e a falta de proteção deles, que estão sendo aliciados por redes criminosas que estão lucrando com a exploração de um trabalho infantil.
"É preciso, do ponto de vista das políticas culturais, estimular mais projetos de música, arte, acesso à cultura para jovens de favela e periferia, para que eles possam ampliar os seus horizontes e expandir suas possibilidades de ação, de imaginação para outros campos".
Desejos de consumo
Cristina Grillo ainda lembrou que os menores são povoados por desejos de consumo.
Segundo ela, a nossa identidade é muito atrelada às nossas posses, então a vontade de ter determinado celular, tênis, cordão de ouro ou roupa povoa o imaginário de todos os adolescentes de favela.
"Muitas famílias não conseguem oferecer essas coisas para os seus filhos. E alguns deles acabam sendo aliciados pelo tráfico de drogas, que se utiliza dessa mão de obra, que é a mão de obra disponível".