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Menores. 'Maioria ingressa no tráfico ainda criança', diz socióloga
Esta semana a polícia apreendeu menores traficando em Niterói e Maricá. A professora do Departamento de Sociologia da UFF, Carolina Grillo defende soluções de ordem econômica para que famílias sustentem seus filhos.
Menores. 'Maioria ingressa no tráfico ainda criança', diz socióloga
Foto do autor Mauro Touguinhó Mauro Touguinhó
Por: Mauro Touguinhó Data da Publicação: 17 de maio de 2024FacebookTwitterInstagram
Foto: Reprodução

"A falta de perspectiva de inserção no mercado de trabalho facilita a prática de aliciamento de menores no crime". A afirmação é da professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Carolina Grillo.

Coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI), ela conversou com a reportagem do jornal A Tribuna após quatro menores de idade serem presos por ato infracional análogo ao crime de tráfico de drogas e um ser morto em Niterói e Maricá entre os dias 7 e 14 de maio.

A socióloga afirma que a idade média de ingresso no crime é de 13 anos e 6 meses de idade, de acordo com relatório da Unicef. Ela observou em seus trabalhos com criminosos do Comando Vermelho, que a maioria dos traficantes haviam ingressado no crime quando ainda crianças ou adolescentes.

"É muito raro que alguém ingresse no tráfico de drogas quando já adulto. É um ingresso muito precoce, em uma idade em que os meninos ainda não têm autonomia e formação para tomar suas decisões. Eles não estão sendo devidamente protegidos".

 

Foto: Divulgação

 

Os motivos, segundo a especialista, são vários. São famílias com pais que precisam se ausentar por muito tempo para trabalhar, com longas jornadas de trabalho e longos deslocamentos entre o trabalho e a casa. Além disso, faltam escolas em tempo integral e atividades extracurriculares. Há também a necessidade de complementação da renda familiar.

"No tráfico de drogas, as posições mais baixas são muito mal remuneradas. Um vapor e um soldado ganham menos do que um salário mínimo. Mas para um adolescente de 13, 14 anos, esse valor é um valor que ele não conseguiria obter de outra forma".

 

Soluções de ordem econômica

Carolina defende que são necessárias soluções de ordem econômica para que as famílias tenham condições de prover o sustento de seus filhos, sem necessidade de que as crianças complementem a renda familiar trabalhando no crime.

"Essas crianças já evadiram a escola e têm uma dificuldade de retorno para o ambiente escolar. Muitas vezes elas vão retornar já com 20 anos. Então, tem que ter alguma política voltada para o retorno escolar desses jovens, mas também para inserção no mercado de trabalho".

 

Foto: Reprodução

Para ela, é importante que haja um acompanhamento das famílias, uma vez que o sistema socioeducativo se assemelha às prisões e gera profundos traumas nos menores que passam por medida de internação educativa. Eles são muito estigmatizados, tanto pelas suas próprias famílias, pela sua vizinhança, como também pelos policiais.

A socióloga criticou também a ênfase na punição dessas crianças e adolescentes e a falta de proteção deles, que estão sendo aliciados por redes criminosas que estão lucrando com a exploração de um trabalho infantil.

"É preciso, do ponto de vista das políticas culturais, estimular mais projetos de música, arte, acesso à cultura para jovens de favela e periferia, para que eles possam ampliar os seus horizontes e expandir suas possibilidades de ação, de imaginação para outros campos". 

 

Desejos de consumo

Cristina Grillo ainda lembrou que os menores são povoados por desejos de consumo. 

Segundo ela, a nossa identidade é muito atrelada às nossas posses, então a vontade de ter determinado celular, tênis, cordão de ouro ou roupa povoa o imaginário de todos os adolescentes de favela.

"Muitas famílias não conseguem oferecer essas coisas para os seus filhos. E alguns deles acabam sendo aliciados pelo tráfico de drogas, que se utiliza dessa mão de obra, que é a mão de obra disponível".

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